Eustáquio era um gaúcho que morava nos campos de Vacaria. Cansando da vida, resolveu descarregar suas mágoas na casa do compadre Chico, homem de muita experiência. Disse: Compadre! Não aguento mais os meus piás. Eles passam o dia berrando. A sogra, ao invés de ajudar, reclama de tudo. A patroa só fica suspirando pelos cantos. Chico pensou e perguntou: Você veio a pé ou de cavalo? Vim montado no Trovão. Então, quando chegar em casa, coloque seu pingo dentro de casa. O guasca estranhou e já foi questionando: Como é que isso vai melhorar a minha vida? Experimente fazer o que eu disse, continuou o sábio amigo. Deixe assim por uma semana inteira. Bom! Lá foi nosso herói pampeano colocar o Trovão dentro de casa. Depois de uma semana, voltou ao amigo: Chico! Coloquei o cavalo na sala e as coisas só pioraram! Virou um inferno. O Trovão está pisoteando os poucos móveis que temos, ameaçando coicear os piás. Ele fica relinchando a noite inteira, não deixando ninguém dormir. Sem contar o cheiro horrível em que a morada se encontra. Muito bem! Disse cheio de convicção o amigo. Agora, volte e retire o cavalo de casa. Espere uns dias e depois volte aqui. Eustáquio retornou depois de dois dias. Ele estava todo sorridente. Chico, meu parceiro! Muito obrigado. Minha estância agora é um paraíso. Sem o pingo lá dentro, todos se dão melhor. As crianças podem andar sem medo. Minha sogra está animada bordando novos tapetes. A casa está até cheirando melhor. A patroa me enche de elogios por ter dado conta do cavalo. A história é cômica e acontece muito na vida. Na verdade, quem amarra o pingo no meio de nosso lar somos nós mesmos. Às vezes, não percebemos. Ou ainda, não queremos assumir o feito. Passamos a culpar tudo e a todos. Tentamos encontrar soluções mirabolantes para resolver problemas auto impostos, quando o que é preciso fazer é só tirar o pingo. O profeta Jeremias, certa vez, questionou: “Por que a pessoa se queixa? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados. Vamos esquadrinhar os nossos caminhos, colocando-os à prova. Somente daí, voltemos ao Senhor” (Lamentações 3.39-40).
