Pastora Ivoni Richter Reimer recebe prêmio por pesquisas realizadas na área da teologia

13/03/2024

Pastora Ivoni Richter Reimer recebe prêmio
Pastora Ivoni Richter Reimer
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A Pastora emérita da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), Professora Doutora Ivoni Richter Reimer, recebeu, no último dia 13 de março, em Brasília, duas premiações por pesquisas realizadas na área da teologia.
 

O ato de premiação, realizado no dia 13 de março, em Brasília, concedeu à Dra. Ivone:
 

  • Prêmio de Ciência, Tecnologia e Inovação – Pesquisadora Destaque Sênior em Ciências Humanas 2023, da Fundação de Amparo à Pesquisa de Goiás (FAPEG)
  • Prêmio Ciência, Tecnologia e Inovação Profa. Johanna Döbereiner, do Conselho Nacional de Fundações de Amparo à Pesquisa (CONFAP).
     

É a primeira vez que a área de Conhecimento Ciências da Religião e Teologia, como parte das Ciências Humanas, é honrada com tais premiações no país. A pesquisa da Profa. Ivoni é pioneira no campo de estudos da Bíblia, priorizando análise exegética e hermenêutica de textos sagrados na intersecção com estudos socioculturais, históricos, geopolíticos e econômicos em perspectiva feminista da libertação.

“Olhando para minha trajetória de docência, pesquisa e extensão, confesso que me senti surpresa e muito contente ao receber esses prêmios. Eles carregam consigo toda uma história da construção individual e coletiva dos processos e resultados de trabalho científico que desembocaram nesse momento tão ímpar e significativo”, destaca Ivone, ao ser questionada sobre o significado das premiações. “Expresso minha gratidão à FAPEG e à CONFAP, externando-a também a cada pessoa e instituição que contribuíram para isso. Sinto-me, assim, imensamente agraciada, alegre e agradecida”, acrescenta.

De forma expressiva, Pa. Ivoni estende a gratidão a seu esposo, Prof. Dr. Haroldo Reimer, parceiro de longa jornada, junto com os filhos Daniel e Tiago. Destaca também a PUC Goiás como destinatária de gratidão, especialmente o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião (PPGCR), que a acolheram como docente e simultaneamente usufruíram de seus trabalhos de pesquisa e produtividade científica. Lembra também da Comunidade Luterana em Goiânia, onde, desde 2000, exerce o Ministério Pastoral voluntário, conectando o trabalho científico com a práxis eclesial.

 

Acompanhe, abaixo, o relato da Pastora e Professora Ivone:

As atividades realizadas na PUC Goiás, especificamente no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião (PPGCR), desde agosto de 2000, oportunizaram a continuação de meus estudos e trabalhos iniciados e realizados na graduação nas Faculdades EST (São Leopoldo), na pós-graduação na Universidade de Kassel/Alemanha, no pós-doutorado em Ciências Humanas (UFSC) e nos trabalhos acadêmicos na Universidade Metodista do Rio de Janeiro e no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. A partir do meu engajamento pessoal, essas atividades sempre ocorreram junto a discentes e a grupos de pesquisa em nível local, regional, nacional e internacional. Os seus resultados foram partilhados na docência, na extensão, em congressos, em assessorias junto a organizações sociais e eclesiais, e foram publicizados em vários meios de comunicação em forma de seminários, palestras, livros, artigos científicos, entre outros.


Gostaria de pontuar que sempre realizei meus trabalhos por gostar de fazê-los de modo individual e coletivo e, assim, contribuir para a difusão e a popularização do conhecimento e dos saberes nas Ciências Humanas, especificamente nas Ciências da Religião e na Teologia. E aqui destacam-se as atividades que se referem à história sociocultural de mulheres, com base em textos sagrados do Judaísmo e do Cristianismo e da sua longa história interpretativa, pois esses fazem parte da nossa herança cristã. E essa nossa herança é simultânea e paradoxalmente a que contribui para libertação e opressão de mulheres e outras minorias qualitativas, ainda hoje. Assim foi e é, porque esses textos e suas interpretações surgiram sob influência de seus respectivos contextos históricos, abarcando religião, economia, cultura, relações de poder nas diversas transversalidades de classe, etnia, gênero e idade, e contribuíram para a forma(ta)ção de vidas em todas as suas dimensões, em todas as épocas e em muitos lugares. Reler e revisitar os mesmos e as tradições construídas a partir deles torna-se cada vez mais relevante, necessário e urgente em tempos em que crescem a desinformação, a violência e o ódio, a espetacularização e o mercado da fé, junto com a banalização de lutas e conquistas de mulheres, especificamente. Desta forma também será possível reverter a aversão e o desprezo à pesquisa científica, insuflada recentemente por ideologias e políticas de ódio e intolerância, em passos e sinais que reconduzam mulheres e homens à vontade de estudar de forma profunda, séria e competente, com abertura aos desafios e às demandas de nossos tempos. Nas palavras do filósofo holandês Baruch Spinoza, isso significa que é preciso fazer pesquisa a partir das nervuras do real, com o espírito científico da época e com a suspeição metódico-hermenêutica.
 

Estes prêmios são importantes para nós, porque conferem reconhecimento oficial e público pelos trabalhos realizados, que, aliás, já foram reconhecidos pelas pessoas e grupos com as quais a gente trabalha há décadas. E acredito que esses prêmios podem servir de incentivo e motivação para que continuemos a realizar pesquisas sobre nossa base de fé e nossas tradições, as quais sejam relevantes para o presente, no sentido de empoderar pessoas para processos de libertação, dignidade, vida plena com paz que brota da justiça. Nesse sentido, esse reconhecimento público conferido pelos prêmios me leva a afirmar a importância e a necessidade de instituições de ensino, fundações de amparo à pesquisa e governos investirem mais e melhor na formação de pessoas capacitadas e responsáveis, para que possamos contribuir mais e melhor com o desenvolvimento científico e tecnológico que se coloque a serviço, de forma heurística e pragmática, para melhorar as condições de vida especialmente das partes mais vulnerabilizadas da sociedade. E aqui também devem ser considerados o ambiente e toda a natureza em forma de ar, terra, água, minerais, animais, plantas e humanos. Com isso, quero lembrar das atividades pioneiras da profa. Johanna Liesbeth Kubelka Döbereiner, cujo nome me honra no prêmio que recebi dia 13 de março de 2024, um século após o seu nascimento!
 

Até aquele momento, eu não conhecia a profa. Johanna Döberein. Fui pesquisar sobre ela. Num primeiro momento, não vi relação com Ciências Humanas, muito menos com Ciências da Religião e Teologia. Contudo, com base na história daquela mulher e nas suas atividades pioneiras, é possível fazer uma conexão histórica e temática com os trabalhos que a gente realiza. Vou contar um pouco sobre isso: Nascida na República Checa, em 1924, Johanna Döberein viveu as hediondas realidades do nazismo e da 2ª Guerra Mundial, sendo que sua mãe foi morta em campo de concentração. Entre fugas e migrações, após o final da 2ª Guerra Mundial, Johanna estudou Agronomia em Munique (1947-) e migrou, com marido e pai, para o Brasil, chegando aqui em 1951. Ela foi contratada para trabalhar no Centro Nacional de Pesquisa em Agrobiologia da Embrapa, no interior do Rio de Janeiro. Naturalizada brasileira em 1956, passou a contribuir com estudos e pesquisas em agronomia, e foi pioneira em estudos de biologia do solo, destacando-se em microbiologia e bacteriologia. Já em 1957, era pesquisadora assistente no CNPq. Por meio de suas pesquisas, no início da década de 1960, com a introdução da soja no Brasil e do Programa Nacional do Álcool, ela insistiu em observar a natureza para evitar o uso de produtos químicos introduzidos pelos EUA. Apesar das contrariedades, ela persistiu e investiu em pesquisas que possibilitassem a proliferação de bactérias, estabelecendo simbioses com esses micro-organismos para aproveitar a fixação biológica do nitrogênio no solo e produzir alimentos mais saudáveis para o consumo. Infelizmente, os trabalhos da profa. Johanna Döbereiner ainda continuam pouco conhecidos. Desejo que, hoje, por meio de novas gerações de pesquisadoras e pesquisadores, ela continue contribuindo com o desenvolvimento agronômico e biológico do solo para a preservação do meio ambiente, o provimento de alimentos mais saudáveis para a população, bem como para a venda dos excedentes produzidos. Essa sua contribuição pioneira faz ponte com as Ciências Humanas e Ambientais, na medida em que quisermos dialogar de forma multidisciplinar acerca de Ecologia, Cuidado e Bem-Viver de toda a Criação. Esse diálogo é vital, pois, para além das ciências “duras”, as Ciências Humanas ajudam a explicar o mundo e a vida no mundo e, por meio da análise científica dos fenômenos religiosos em sua multiplicidade, as Ciências da Religião contribuem para a compreensão dos complexos processos socioculturais que são construídos e que podem ser transformados por meio de multifacetárias relações de poder.
 

Receber estes prêmios quer ser um incentivo para pesquisadoras e pesquisadores no Brasil, e é sinal de que o inusitado pode acontecer para quem dedica parte de sua vida e energia para uma pesquisa que faça diferença, e que contribua para que as pessoas novamente sintam paixão por aprender e ensinar, por trabalhar e conquistar alegrias e bem-estar integral. Junto com isso, esses prêmios também confirmam a relevância de que pesquisas científicas precisam estar com os pés firmes no chão da vida, junto com grupos e comunidades, olhando e analisando crítico-construtivamente o passado para contribuir com a construção de relações de vida melhor no presente e no futuro.

Desta forma, os prêmios recebidos colocam esperança que brota da perseverança e da persistência em buscar objetivos que por vezes parecem não ser viáveis, mas que se tornam realizáveis com o trabalho conjunto de pessoas pesquisadoras, de instituições de ensino, de fundações de amparo a pesquisas, de organizações sociais, de empresas e de governos que têm por objetivo uma vida digna e justa para todo o povo e para todo o ambiente, especialmente para os elos mais fragilizados do sistema e do ecossistema.
 

Sim, estou muitíssimo agraciada e agradecida!

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