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ID: 2708

As fomes do Povo e as Partilhas do Reino de Deus em Tempos de Pandemia

Porque tive fome e me destes de comer (Mateus 25.35a)

01/10/2020

Neste tempo de recolhimento e apesar da COVID-19 e das pandemias que estamos enfrentando, chegou a primavera trazendo para nós a esperança de renovação e de recomeço. Como escreveu Cora Coralina: «...recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
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Para celebrar esta estação que nos convida a sermos sementes e sinais de esperança, fazemos chegar em suas mãos mais uma publicação da Campanha Primavera Para a Vida que a CESE realiza há vinte anos. Esta publicação visa oferecer, às igrejas, material de reflexão bíblica, em diálogo com um tema candente no momento presente, para ser usado em reuniões, encontros, estudos e catequese. Este ano, tendo em vista o desmascaramento das profundas desigualdades existentes no país, e que foram agravadas pela pandemia do corona vírus, o tema escolhido foi: As fomes do povo e as partilhas do reino de Deus em tempos de pandemia – 'Porque tive fome, e me destes de comer' (Mt 25.35a). Este tema vem no momento em que estudos indicam que cerca de 12 mil pessoas podem morrer por fome diariamente até o final de 2020 devido às consequências da pandemia de Covid-19. O Banco Mundial afirma que aproximadamente 5,4 milhões de novas pessoas deverão entrar na extrema pobreza no Brasil, totalizando cerca de 14,7 milhões até o fim de 2020, um dado que faz o país voltar ao Mapa da Fome, do qual tinha saído anos atrás.

Mas a proposta desta publicação é, também, ajudar a refletir sobre os diversos tipos de fome que o nosso povo está enfrentando - fome de comida saudável, fome de justiça, de igualdade racial e de gênero, de democracia, de direitos; fome de espiritualidade e de uma mística capaz de trazer coragem, força, paz, resistência e resiliência nesses tempos difíceis - e como tem encontrado apoio e buscado alternativas para superá-las.

É fato que a pandemia afeta todas as pessoas, mas ela revela as profundas desigualdades quando observamos quais segmentos da sociedade ela atinge mais dramaticamente. As estatísticas mostram a classe, o gênero e a raça de quem está sendo mais impactado por esta pandemia. Resultados de um estudo do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde, da PUC-Rio, confirmam que pretos e pardos morreram por Covid-19 mais do que brancos no Brasil.

Uma pesquisa do Instituto Pólis mostrou que, observado o recorte de gênero e raça/cor ao mesmo tempo, a taxa de mortalidade padronizada de homens negros chega a 250 mortes a cada 100 mil habitantes, enquanto a taxa para brancos é de 157 mortes a cada 100 mil. Entre as mulheres brancas, foram 85 mil óbitos/100 mil habitantes e, para mulheres negras, o indicador subiu para 140 mortes/100 mil. Estas estatísticas são reveladoras das desigualdades que assolam o nosso país.

De acordo com o levantamento autônomo da CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), até o dia 9 de setembro o novo coronavírus havia infectado 4.541 pessoas e feito 157 vítimas entre os quilombolas. Também se observam altos índices de contaminação e mortalidade na população indígena: segundo dados da APIB - Articulação de Povos Indígenas do Brasil, são 158 povos atingidos, 33.412 infectados e 828 mortos.

Diante desta realidade, a CESE, e organizações ligadas à diaconia das igrejas que assumem o compromisso com a defesa de direitos humanos, procuraram articular-se com outras expressões de fé e com movimentos sociais para uma ação conjunta, buscando meios de enfrentar as diversas fomes escancaradas pela pandemia. Foram articuladas campanhas humanitárias emergenciais, campanhas para arrecadação de alimentos e materiais de higiene e de proteção individual, campanhas de conscientização e pronunciamentos públicos.

Frente aos inúmeros e distintos tipos de fome que percebemos cotidianamente em nosso país, as igrejas cristãs são desafiadas a se posicionar profeticamente diante deste grave atentado à dignidade humana. Muitas pessoas estão famintas por vida digna e necessitam de braços e vozes que as ajudem a saciar sua fome de justiça.

Convidamos você a usar este material que traz PALAVRAS DA VIDA, inspiradas na PALAVRA DA BÍBLIA. São casos concretos de engajamento no tema, vidas de pessoas e de grupos que receberam apoio da CESE através das campanhas e dos projetos apoiados durante a pandemia da COVID-19. Nossa gratidão à valiosa contribuição das pessoas que escreveram os textos, representando a diversidade de olhares das igrejas que compõem a CESE e que enriqueceram esta publicação com suas reflexões.

Como cristãos e cristãs não podemos nos omitir e nos calar diante das fomes do nosso povo. Cuidarmos uns dos outros e umas das outras é compromisso de fé e testemunho. Ecoa em nossos ouvidos a palavra de Jesus: Vinde benditos/as de meu pai, porque tive fome e me destes de comer.

Marcus Barbosa Guimarães
Presidente da CESE
Padre da Igreja Católica Apostólica Romana

Sônia Gomes Mota
Diretora Executiva da CESE
Pastora da Igreja Presbiteriana Unida

Leia a publicação, clicando sobre o quadro abaixo.

O verdadeiro arrependimento inicia com amor à justiça e a Deus.
Martim Lutero
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