Jornal Evangélico Luterano

Ano 2019 | número 827

Terça-feira, 16 de Abril de 2024

Porto Alegre / RS - 03:03

Fé Luterana

As Ordens na vida das pessoas

A nossa época foi caracterizada sabiamente como ‘modernidade líquida’, definição dada pelo já falecido Sociólogo polonês Zygmunt Bauman acerca da atualidade, que é fluída, veloz e inconstante.

Se vivemos em tempos rapidamente mutáveis, Lutero, como filho da sua época, contemplou a realidade concreta das três Ordens da sociedade feudal e as interpretou, a partir da Palavra de Deus, como os três Estamentos ou as três Ordens da Criação: Igreja, Economia e Estado. Compreender-se dentro dos três Estamentos dá-se como um desafio. Estamento é o oposto de mobilidade.

A compreensão de Lutero, a partir da Palavra de Deus, é que o ser humano foi capacitado para a comunicação, realização e construção de relações. A intenção de Deus com isso seria de que a pessoa utilizasse tais capacidades para perceber, organizar e dar forma ao mundo ao seu redor. A expectativa seria da resposta humana em Culto e adoração, entendida enquanto Ordem da Criação, no caso a primeira dessas Ordens ou Estamentos: a Igreja. Entretanto, devido ao pecado, esta Ordem foi corrompida. O ser humano demonstra ingratidão e distanciamento de Deus.

Derivando da primeira Ordem da Criação, surge a segunda, o Estamento do méstico, ou a Economia. Estão inseridos nesta Ordem o relacionamento familiar e da pessoa para com os meios pelos quais obtém a sobrevivência.

Realizar algo dentro da Ordem da Criação é estar consciente que, na Ordem estabelecida por Deus, somente por Deus temos a possibilidade de realizar o que é necessário.

A terceira Ordem da Criação é tratada por Lutero como emergencial, necessária em razão da queda do ser humano, derivada do Estamento da Economia: a Política.

Todas as pessoas estão inseridas nessas três Ordens, querendo ou não. Posso não participar de Igreja alguma, porém, enquanto pessoa, sou dotada de vida e capacidades. A primeira Ordem da Criação faz parte da minha vida, mesmo não sendo escolha minha. Posso pensar que consigo viver fora de um sistema econômico, mas isso é praticamente impossível. Também posso escolher não me envolver em politicamente, porém as decisões políticas afetam a minha vida, sendo eu engajada ou não. As três Ordens da Criação são de Deus e conservadas por Ele e exibem a realidade da sociedade, mesmo em tempos volúveis, a todas as pessoas, cristãs ou não, independentemente da sua escolha ou do seu envolvimento.

Sabemos que cada ser humano está inserido nas três Ordens da Criação, tendo ou não fé em Deus. No entanto, é somente pela fé na obra redentora de Jesus Cristo que a pessoa deixa de estar encurvada sobre si e está liberta para ir em direção ao próximo, pela graça do Senhor. Ela exerce o amor sem esperar algo em troca.

Pelo que recebeu de Deus, a pessoa está livre para agir em prol do outro. Realizar algo dentro da Ordem da Criação, pelo amor, motivado pela fé, não permite cair no perigo de um vazio ativismo ou na ilusão de um melhoramento do mundo pelas próprias forças. Também não permite apatia ou resignação. É estar consciente que, na Ordem estabelecida por Deus, somente por Deus temos a possibilidade de realizar o que é necessário.

Para refletir, leia Romanos 8.19-23

Pa. Bianca Bartsch | Ministra na Paróquia em Castro/PR

 

Colaboração para o melhoramento do mundo

Muitas pessoas têm perguntado sobre a atuação de pessoas cristãs na organização da sociedade. Somos um povo colaborador, mas não somos associativos. Como os conceitos bíblicos não falam em colaboração e como a Igreja não é uma instituição associativa, devemos ser o que somos: o Corpo de Cristo. Assim, mais uma vez, lembramos de Lutero quando enumera as três Ordens da Criação: Economia = a necessidade alimentar, Política = proteção social e Igreja = lugar de ensino.

No grande anseio de fazer algo com urgência, terminamos admitindo: queremos colaborar com Deus para o melhoramento do mundo. Colaborar com Deus? Podemos ter este atrevimento?

A fé – encarnada nas pessoas que creem – deve ocupar o seu espaço para a atuação responsável no contexto políticoeconômico-eclesiástico. Isso não nos coloca no patamar de colaboradores e colaboradoras de Deus, mas, sim, no lugar de servos e servas de Deus no Corpo de Cristo. Reaprender a conversar com a realidade que nos cerca à luz das Escrituras é uma iniciativa necessária para este Corpo, além de julgar a realidade tanto no seu aspecto atual como no aspecto futuro, por ser a realidade uma força atemporal.

No anseio de fazer algo, admitimos o nosso desejo de colaborar com Deus para melhorar o mundo. Colaborar com Deus? Podemos ter este atrevimento?

Na realidade da nossa cidade, moradores e moradoras de rua e uma multidão sem emprego observam o que acontece ao seu redor. Precisamos ter o trabalho de ver, escutar e prever. Isso feito, não podemos seguir padrões repetitivos – assim é e assim vai ficar – sem fazer uma análise profunda. Ver a realidade com os olhos bem abertos (olhos da fé), escutar a si mesmo e ao outro em sua experiência de vida (comunhão, mais que apenas colaboração), além de ter a capacidade de prever as consequências do que é visto e ouvido (um olhar para a eternidade). Isso é construir pontes de paz e entendimento em obediência ao Mandato de Jesus: Deixo com vocês a paz, a minha paz lhes dou (Jo 14.27).

Fazer o caminho da promoção da paz e da justiça não é colaborar com Deus. É colocar-se à disposição de Deus para ser instrumento de transformação, entendendo a dimensão do ser Corpo. Em textos bíblicos, encontramos indicações claras a respeito da justiça requerida por Deus para o seu povo. Opressão, roubo, mentira, corrupção sistematizada, exploração, influência de quem só sabe trabalhar com intrigas e manobras e a imposição de restrições aos mais fracos na sociedade são princípios claramente abominados por Deus e por quem o teme: Não cometam injustiça num julgamento; não favoreçam os pobres nem procurem agradar os grandes, mas julguem o seu próximo com justiça (Lv 19.15).

Portanto, a obediência cristã constrói pontes de entendimento e justiça a partir do amor de Cristo. Acredito que a nossa ênfase no ensino mereça iniciativas corajosas, não privilegiando ricas escolas, mas sendo esperança para pessoas que não conseguem ter uma escolaridade digna. Assim, nos percebemos colaboradores e colaboradoras de Deus seguindo a sua vontade nos três âmbitos da Criação.

Para refletir, leia Levítico 19.15

P. Rolf Rieck | Ministro na Paróquia Martin Luther, no Rio de Janeiro/RJ 

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