Igreja e Sociedade



ID: 2797

Pesquisadora aborda possibilidades, limites e contradições da alimentação nas escolas

Entrevista

24/09/2008

A pesquisadora Maria Cristina Faber Boog lançou nesta quarta-feira (24), em Campinas(SP), o livro O professor e a alimentação escolar: ensinando a amar a terra e o que a terra produz, pela Editora Komedi, em parceria com o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Entre outras abordagens, a obra discute temas que fazem parte do cotidiano escolar: a responsabilidade do professor na educação alimentar e nutricional; a fome crônica que perpassa o cotidiano escolar; a promoção da alimentação saudável; a merendeira/cozinheira no papel de educadora e outros.
Cristina Boog é graduada em Nutrição pela Universidade de São Paulo (USP), onde concluiu Mestrado e Doutorado em Saúde Pública. É pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação da Unicamp.

Nesta entrevista, a pesquisadora aborda aquilo que ela define como possibilidades, limites e contradições que permeiam as ações de promoção da alimentação saudável nas escolas.

Como surgiu a idéia do livro? 

O livro resultou de uma pesquisa, que foi financiada pelo CNPq. Uma das rubricas do edital destinava-se a estudos sobre promoção de práticas alimentares saudáveis. Na época eu era docente do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas (hoje estou aposentada), mas a pesquisa foi vinculada ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (Nepa/Unicamp), com o qual ainda mantenho alguns vínculos. Quando encerrei o trabalho, fiquei aliviada e feliz por concluí-lo, mas fui tomada por uma grande angústia. Os professores, de forma geral, apresentam resistência a esse tema por vários motivos, alguns de natureza puramente pessoal, outros por motivos de natureza política, ideológica, outros ainda por conhecerem práticas eticamente questionáveis no campo da alimentação escolar. Ouvindo as argumentações deles, o que fiz exaustivamente, pois foi uma pesquisa qualitativa, passei a compreender melhor suas opiniões e representações sobre merenda escolar. Eu quis então us ar a experiência para conversar com os professores, muitos professores, por meio de um livro. Esse livro teria que ter algumas características: não ser longo (professores não têm tempo, muitos trabalham os dois períodos em escolas diferentes), não ser prescritivo (afinal quem entende mais de ensinar crianças são eles!), mostrar a complexidade e as contradições da alimentação, mas fazer isso de forma objetiva. Enfim, educar, não dar receitas do que os outros devem fazer, e sim instigar o pensamento. Eu sei que tudo isso é muito pretensioso, mas foi o que tentei fazer: falar pouco e instigar o pensamento, sem ser normativa, principalmente.

Como a senhora vê o PNAE, qual a sua imagem sobre esse programa? 

Não conheço profundamente o PNAE para poder opinar sobre ele. Considerando que dar uma opinião sobre um programa nacional implica conhecer a fundo o seu desenvolvimento em âmbito nacional, não me sinto habilitada a isso. Nunca trabalhei nesse campo e meu conhecimento sobre o PNAE é superficial. O livro foi pautado em resultados de uma pesquisa de natureza acadêmica, realizada em âmbito local, na qual procurei articular os temas promoção da saúde, segurança alimentar e educação alimentar e nutricional Os aspectos debatidos no livro emergiram de entrevistas e foram escolhidos dentre aqueles que considerei mais relevantes para discutir com professores. Mas não só com os professores. As demandas para os nutricionistas e os problemas que eles enfrentam no campo são muito grandes.

Como vê o projeto de lei de atualização do PNAE, que tramita no Congresso? 

A criança e também o jovem necessitam comer durante o período escolar. As empresas não cuidam da alimentação de seus funcionários que são adultos? Comer em um certo momento durante o turno escolar é imprescindível e se essa atividade é realizada no interior da escola, ela deve assumir um caráter pedagógico. Mas muita coisa precisa ser mudada para que a alimentação escolar efetivamente tenha um caráter pedagógico. Nesse ponto, meu livro tem como proposta contribuir para que a questão da alimentação escolar adquira efetivamente um caráter pedagógico. 

De que forma a merenda escolar pode contribuir para formar hábitos saudáveis de alimentação e nutrição? 

A escola marca a vida da criança. Quando uma professora pede às crianças que levem limões para a escola, para ensinar o conceito de dúzia, e depois faz uma limonada com os limões, as crianças assimilam o conceito e o sabor. E isso não tem nada a ver com merenda. O meu livro caminha para pensar a educação alimentar e nutricional para além da merenda. Isso é uma reforma do pensamento. Mas claro que a merenda pode ajudar a desenvolver práticas alimentares mais saudáveis. Se a criança come salsicha três vezes por semana, ela vai se habituar a comer salsicha. Se ela recebe uma fruta, ela aprende a conhecer o sabor da fruta. Se essa fruta for explorada no ensino, ela pode aprender muitas coisas mais, entre elas valorizar frutas. Mas essa integração depende de uma grande reforma do pensamento... dos profissionais que gerenciam os programas, dos professores, de secretários de educação, de prefeitos... 

Como a senhora vê a participação da agricultura familiar na alimentação escolar? 

Isso é muito, muito importante mesmo. Isso é ensinar a amar a terra e o que a terra produz. Às vezes, a criança que está na escola é filha do agricultor que mora e trabalha ao lado da escola. Por que o alimento que a sua família produz não pode estar na merenda? Isso reforça a auto-estima das famílias de agricultores, resgata a dignidade do trabalho do agricultor. Ele sente o seu trabalho valorizado quando a escola inclui o produto do seu trabalho na alimentação escolar. É preciso fomentar o desejo de permanecer na terra, sendo agricultor, mas superando as adversidades e as más condições de vida que marcam a vida dos agricultores. Mas aí entra o problema das licitações. Não dá para fazer licitação quando o pé de fruta está carregado e tempo de colher.

(Fonte: Assessoria de Comunicação do CONSEA )
 


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