Missão com Mulheres


- Brasil
Telefone(s): (51) 3284-5400
secretariageral@ieclb.org.br
ID: 2674

Sobre hospitalidade e justiça de gênero

21/07/2019

Lucas 10.38-42

Prezada Comunidade
Hoje os textos bíblicos falam da hospitalidade e de justiça de gênero. Vamos começar falando sobre a hospitalidade: O que vocês fazem em casa quando recebem uma visita surpresa?
(abrir a porta, limpar o sofá para a visita sentar, colocar o cachorro para fora, preparar um café, ver se tem algo para fazer almoço, ....).

Na tradição judaica, receber bem os viajantes e os peregrinos, dar-lhes um momento de descanso, oferecer-lhes alimento – isso fazia parte dos 613 mandamentos da Torá dos judeus. Para que um viajante israelita fosse tratado com hospitalidade pelos seus compatriotas, bastava chegar no povoado e sentar-se na praça pública da cidade e esperar um convite. Sodoma e Gomorra são conhecidas como as cidades de pecado. Elas ficaram famosas por causa do homossexualismo, mas – na verdade -o que diz Gênesis capítulo 19 é que o maior pecado delas era tratar mal os visitantes.

Conta-se também que Abrão era uma pessoa muito hospitaleira. São várias as histórias e lendas que nos falam da hospitalidade de Abrão. Por exemplo, em uma das histórias - que não está na Bíblia - certo dia Abrão encontrou um viajante que lhe pediu comida. Abrão o convidou para almoçar em sua casa. Sara servia boa comida. Antes de comer. Abrão quiz agradecer a Deus pelo alimento, mas o viajante não quis ouvir nenhuma oração. Ao contrário, interrompeu a Abrão dizendo:
- Esse negócio de Deus é pura invenção. Deus não existe. Eu não preciso de Deus para nada. Tem gente que fala das bençãos de Deus. Bobagem. Deus não dá nada para ninguém. É tudo conversa.
Abrão tentou convencer o homem de que ele estava errado. Abrão explicou que ele e Sara eram uma prova de que Deus podia fazer milagres. Sua esposa Sara, mesmo em avançada idade teve um filho.
O viajante o interrompeu:
- Que conversa mole é essa Abrão? Me admira um homem velho ainda acreditar nessas histórias para crianças.
E assim o viajante blasfemava e xingava a Deus. A uma certa altura, Abrão não aguentou mais e expulsou aquele homem de sua tenda.
Todas as noites, Abrão falava com Deus. E naquela noite Abrão mencionou para Deus a falta de fé e as blasfêmias daquele viajante. Disse também que o havia expulsado de sua tenda, por não aguentar mais suas blasfêmias. Ao que Deus respondeu:
- Abrão, Abrão. Precisas ter um pouco mais de paciência. Eu venho aguentado as blasfêmias desse chato há muitos anos e tu não conseguiste aguentá-lo nem uma hora?

No texto do livro de Gênesis capítulo 18.1-10ª, que ouvimos hoje, diz que Abrão recebe a visita de 3 pessoas. Quando Abrão vê que eles estão cansados, convida-os para que fiquem em sua casa para lavar os pés (equivalente hoje a tomar um banho) e alimentar-se e dormir algumas horas antes de continuar sua jornada. Podemos perceber que Abrão é que comanda tudo. Ele convida os viajantes, manda a Sara preparar o pão, manda os empregados preparar a carne. Como recompensa por sua generosidade, Abrão e Sara recebem a promessa que dentro de um ano eles terão um filho. É por causa dessa história que no NT a carta aos Hebreus 13.2 diz: “Não deixem de ser hospitaleiros e de receber bem os que vêm à casa de vocês, pois alguns de vocês, sem saber, já receberam anjos”. Portanto, a hospitalidade era um dever sagrado para todo judeu. As pessoas, as cidades e os governos eram julgados pelos profetas por essa Lei. Deixar pessoas com fome e dormindo na rua era um pecado. Hoje nós dizemos: “Ah, mas tem muita gente dormindo na rua (no centro de Belo Horizonte são mais de 6 mil pessoas), eu não posso levar todo mundo lá para casa”. É justamente porque ações individuais não resolvem o problema, é que existe o governo. A função do governo é agir onde ações individuais não dão conta.

O texto do Evangelho também fala de uma visita de Jesus à casa de Marta e Maria. Elas têm um irmão, chamado Lázaro, mas parece que nesse dia ele não estava em casa. No entanto, Marta e Maria sabem muito bem o manda a Lei de Deus sobre como tratar as visitas. Uma visita deve ser bem atendida. Enquanto Marta vai para a cozinha preparar algo de beber e de comer, Maria fica ali na sala conversando com Jesus. No entanto, há muitas coisas para fazer em função dos hóspedes que são Jesus e seus 12 discípulos. Era preciso buscar água para lavar os pés e preparar comida para que eles se alimentassem. E Marta estava sozinha.

Quando a gente tem muitas coisas para fazer - e ninguém ajuda - então começam a brotar os pensamentos de revolta dentro de nossa cabeça. “Pôxa vida, eu aqui me ralando e Maria ali numa boa, dando gargalhadas. Jesus bem que poderia mandar Maria vir me ajudar. Não é ele que falta tanto em solidariedade?, em ajudar ao próximo?, mas parece que na prática a teoria é outra.” A revolta vai crescendo dentro de Marta, até que ela invade a sala e explode. E a explosão de Marta se dirige contra Jesus: “O senhor não se importa que a minha irmã me deixe sozinha com todo o trabalho? Mande que ela venha me ajudar” (v. 40).

Vejam bem. Marta dirige sua crítica a Jesus. Ela critica Jesus que não viu que ela - Marta - precisava de ajuda. A indignação de Marta é com Jesus. Também hoje as pessoas se revoltam contra Deus, porque Deus não vê que elas estão precisando de ajuda. As pessoas dizem: eu já ajudei tanto outras pessoas, já ajudei tanto na igreja, mas quando as coisas não dão certo ou não acontecem como elas querem, essas pessoas dizem: Jesus não cuida de mim.

Portanto, a questão nesse texto não é um conflito entre Maria e Marta. Não se trata de escolher entre as duas atitudes. Afinal, quando recebemos uma visita surpresa, - ainda hoje fazemos exatamente o que fizeram Marta e Maria: uma pessoa fica com a visita na sala e a outra vai para a cozinha preparar um café com biscoito (ou um chimarrão com cuca). Marta não reclama contra Maria. Marta não entende porque Jesus não assume a sua função patriarcal e manda Maria ajudá-la. A função do Lázaro – que não está em casa – correspondia nesse momento a Jesus. Jesus era o homem da casa naquele momento.

Quando falamos de tarefas dentro de cada, muitas mulheres dizem: “O problema não é cozinhar e lavar a louça, o problema é cozinhar e lavar a louça sozinha. O problema não é limpar a casa, lavar e passar a roupa. O problema é ter que fazer tudo isso sozinha e não ser reconhecida e nem valorizada. Como se fosse obrigação da mulher. Se houvesse cooperação dentro de casa, o trabalho de casa não seria um problema. O problema é quando se entende que o trabalho de casa é coisa só de mulher”. Quantos conflitos em casa poderiam ser evitados se houvesse cooperação ou pelo menos divisão nas tarefas da casa? Por isso, Jesus entende que Marta tem razão, que a falta de cooperação tira a paz de qualquer pessoa e torna o trabalho ainda mais difícil.

Mas ao mesmo tempo Jesus faz também faz uma crítica a Marta. Jesus percebeu que Marta reclamou porque Jesus não assumiu sua função patriarcal e não mandou Maria para a cozinha ajudá-la.

Marta pensa que um homem deve ter autoridade sobre as mulheres e sem um homem que mande em casa, as coisas não funcionam. Essa estrutura patriarcal – que está presente na cabeça da Marta e de muitos homens e mulheres ainda hoje – é que Jesus critica. E Jesus termina o texto dizendo fazendo uma afirmação da justiça de gênero: o lugar de Maria é lá onde ela escolheu estar. A melhor parte da visita é a conversa, o ouvir e contar histórias. Com essas histórias a gente vai aprendendo como viver a vida.

Portanto, o Evangelho quer nos chamar a atenção para duas coisas: 1) a necessidade de cooperação nas tarefas do lar e 2) sobre o peso da tradição religiosa, familiar e social, que determina os lugares e as tarefas dos homens e das mulheres. O Evangelho nos quer ensinar hoje que na companhia de Jesus somos pessoas livres para aprender, reivindicar, questionar e trabalhar em conjunto.

Quando assumimos as responsabilidades em conjunto, homens e mulheres, em todos os âmbitos de nossa vida, libertamos muitas “Martas” afogadas no ativismo, pela correria e agitação. Servir é muito importante, mas é preciso mais. Quando o trabalho nos tirar a paz, então é preciso parar e conversar. Se não fizermos isso, então pode contar, uma hora a bomba vai explodir. Hoje já estamos bastante avançados nesse tema da cooperação dentro de casa. Onde isso ainda não acontece, é preciso começar.

Mas o segundo ensinamento do Evangelho de hoje, Jesus nos mostra que devemos questionar essa estrutura patriarcal e machista que exige do homem o papel de mandar e da mulher o papel de obedecer. Esse pensamento torna a mulher propriedade e uma das principais causas da violência doméstica e familiar. É preciso conversar mais nas famílias e nas igrejas sobre essa violência onde 99% das vítimas são as mulheres.

Os homens precisam se unir à luta das mulheres para derrubar barreiras, crenças, preconceitos, respeitando que o lugar de mulher é onde ela quiser estar. Apoiar e divulgar a justiça de gênero, para que tod@s tenhamos condições justas e igualitárias, isso Jesus chama de “escolher a melhor parte”. Amém
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Área: Missão / Nível: Missão - Mulheres
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 10 / Versículo Inicial: 38 / Versículo Final: 42
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 52607
MÍDIATECA

AÇÃO CONJUNTA
+
tema
vai_vem
pami
fe pecc

A palavra 'orai' nada mais significa do que 'pedi, clamai, buscai, batei, fazei barulho!' É preciso que assim façamos a cada momento, sem cessar.
Martim Lutero
REDE DE RECURSOS
+
O Senhor guardará você. Ele está sempre ao seu lado para protegê-lo. Ele o guardará quando você for e quando voltar, agora e sempre.
Salmo 121.5 e 8
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br