IECLB e Igreja Católica Apostólica Romana


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ID: 2723

Vaticano expressa preocupação com as reações vindas do movimento ecumênico

13/07/2007

 
Por Marcelo SchneiderForam muitas as reações às “Respostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja”, emitidas pela Congregação para a Doutrina da Fé no dia 10 de julho (leia matéria aqui). Entre tantas está a IECLB, que manifestou sua opinião (leia aqui) e teve repercussão positiva em todo o Brasil e no exterior, tanto em espaços ligados à igrejas como na mídia secular. Estas reações fizeram com que uma outra área do Vaticano, o Concílio Pontífice para a Promoção da Unidade dos Cristãos, emitisse, através do seu responsável, Cardeal Walter Kasper, uma nota esclarecedora, que tem a intenção de auxiliar na interpretação do documento da Congregação para a Doutrina da Fé. Segue a íntegra do texto:. Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé – um convite para o diálogo

A primeira e rápida reação da parte de cristãos protestantes à Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, Respostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja, tem sido de irritação. Mas uma segunda leitura, mais tranqüila, vai mostrar que o documento não diz nada de novo. Ele explica e, de forma resumida, esclarece posições que a Igreja Católica há longo tempo tem sustentado. Portanto, não se desenvolveu uma situação nova, nem há qualquer razão objetiva para indignação ou para sentir-se ofendido. Todo diálogo pressupõe clareza sobre as diferentes posições. Justamente os nossos parceiros protestantes, ultimamente, falaram de um ecumenismo de perfis. Se esta declaração agora expõe o perfil católico e expressa o que, do ponto de vista católico, infelizmente, ainda nos divide, isso não atrapalha o diálogo, e sim, favorece-o.

Uma leitura atenciosa do texto deixa claro que o documento não diz que as igrejas protestantes não são igrejas, mas que não são igrejas no sentido próprio, ou seja, não são igrejas no mesmo sentido em que a Igreja Católica se entende como igreja a si mesma. Para qualquer pessoa, mesmo só parcialmente informada, isto é perfeitamente auto-evidente. As igrejas protestantes nem querem ser igreja no sentido da Igreja Católica; elas acentuam que têm outro entendimento de igreja e ministério da igreja, o qual, por outro lado, os católicos, francamente, não consideram que seja o original. Por acaso, não fez algo semelhante o documento recentemente publicado na Alemanha sobre ministério e ordenação, ao reivindicar que as interpretações católicas da igreja e do ministério da igreja não correspondem ao conceito original?

Quando afirmei, em sintonia com a declaração Dominus Iesus, que as igrejas protestantes são outro tipo de igrejas, isto não contrariou – como algumas reações do lado protestante pareciam supor – a formulação da Congregação para a Doutrina da Fé, mas foi a tentativa de interpretá-la objetivamente. E eu quero fazer exatamente a mesma coisa agora, uma vez que os católicos falam, como sempre falaram, de igrejas protestantes territoriais (Landeskirchen), da Igreja Protestante da Alemanha (Evangelische Kirche Deutschlands, EKD), da Igreja Evangélico-Luterana Unida da Alemanha (Vereinigte Evangelisch-Lutherische Kirche Deutschlands, VELKD), da Igreja da Inglaterra etc. A declaração da Congregação para a Doutrina da Fé não faz nada mais do que mostrar que não usamos uma só e mesma palavra ´igreja´ sempre no mesmo sentido. Tal declaração ajuda a clarear e a promover o diálogo.

A base para o diálogo consiste em haver mais elementos que nos unem do que nos separam. Por isso não deveríamos deixar de ler as afirmações positivas da declaração sobre as igrejas protestantes: que Jesus Cristo de fato está presente nelas para a salvação dos seus membros. No passado, de maneira alguma, isso teria sido uma posição óbvia, mas agora ela abarca – mesmo que ainda restem diferenças significativas – o reconhecimento do batismo, nos termos do Vaticano II, e uma série de constatações positivas sobre a eucaristia protestante (Decreto sobre Ecumenismo 22). Portanto, a declaração não está revogando qualquer aspecto do progresso ecumênico já atingido, e sim, chamando a atenção para a tarefa ecumênica que ainda está à nossa frente. Deveríamos escandalizar-nos com estas diferenças, mas não com as pessoas que as apontam. Neste sentido, a declaração é mais um convite urgente para um diálogo objetivo, que nos ajudará a caminhar para frente.

Cardeal Walter Kasper (11 de julho de 2007)

Kasper esteve no Brasil em diversas ocasiões e circula bem no movimento ecumênico. Esteve em Porto Alegre, por ocasião da 9a Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas, em 2006, onde testemunhou a aprovação do documento “Chamados a ser a Igreja Una: um convite às igrejas a renovarem seu compromisso com a busca por unidade e a aprofundarem seu diálogo”. O texto pode ser lido na íntegra em aqui e representa o quadro mais recente do debate em torno da natureza da Igreja Cristã numa comunhão de tantas igrejas, como é o caso do CMI, que conta, hoje, com 347 igrejas-membro vindas do mundo ortodoxo, anglicano, protestante e pentecostal.

Outro processo de grande relevância neste sentido tem sido desenvolvido por um outro braço do CMI, chamado Fé e Ordem, que conta com a Igreja Católica Romana como membro pleno. O documento “A Natureza e Missão da Igreja” foi traduzido para diversos idiomas e distribuído entre as igrejas-membro para que desenvolvam o debate interno e elaborem uma reação até 2009. Estas reações irão compor o mosaico que auxiliará na formulação de um posicionamento único que, oxalá, irá se transformar num sinal claro de diversidade reconciliada acerca deste assunto.

Os caminhos do movimento ecumênico são longos e, por vezes, lentos. Atendem, no entanto, ao chamado do próprio Jesus Cristo para que todos sejamos um.

Deus, ao atender uma oração, atende-a de modo maravilhoso e rico, assim que o coração humano é por demais apertado para poder compreendê-lo.
Martim Lutero
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