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ID: 2690

Mateus 22.34-46

Auxílio Homilético

25/10/2020

 

Prédica: Mateus 22.34-46
Leituras: Levíticos 19.1-2,15-18 e 1 Tessalonicenses 2.1-8
Autoria: Claudete Beise Ulrich
Data Litúrgica: 21º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 25/10/2020
Proclamar Libertação - Volume: XLIV

Amar é um ato revolucionário
que se revela no viver cotidiano

1. Introdução

Este texto é escrito num momento histórico extremamente difícil no Brasil. Há muita falta de empatia e facilmente espalha-se o ódio por aqueles e aquelas que não pensam igual ou vivem de forma diferente. Neste sentido, a resposta de Jesus aos fariseus sobre qual é o grande mandamento na lei continua atualíssima. Precisamos recuperar a empatia, o respeito e o amor a todos e todas sem preconceito ou discriminação. O que nos torna verdadeiramente humanos é aprender a amar e servir ao outro e deixar a outra pessoa ser ela mesma. Não precisamos tornar a outra pessoa à nossa imagem e semelhança. Aprender a respeitar a outra pessoa é sinal de crescimento e de amadurecimento cristão e cidadão. Qual é o grande dos mandamentos na lei? Essa pergunta ainda soa entre nós e a resposta de Jesus nos leva a uma transformação na vida cotidiana e a uma religação tríplice: com Deus, com a pessoa próxima e conosco mesmos.

A leitura do Antigo Testamento de Levítico 19.1-2,15-18: [...] Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor, lembra a importância do amor ao próximo. A vingança e a ira não devem ser guardadas ou exercidas, mas o amor ao próximo como a si mesmo deve ser praticado. Isso está na lei e é assinado pelo Senhor.

O texto de Novo Testamento (1 Tessalonicenses 2.1-8) afirma que Paulo, Silvano e Timóteo dirigem-se à igreja dos tessalonicenses não somente para oferecer o evangelho, mas a própria vida. Assim, querendo-vos muito, estávamos prontos a oferecer-vos não somente o evangelho de Deus, mas, igualmente, a própria vida; por isso que vos tornastes muito amados de nós (1Ts 2.8). Tudo o que Paulo, Silvano e Timóteo fizeram foi motivado pelo amor a Deus, sem se preocupar com bajulações às pessoas ou com ganâncias pessoais, razão pela qual eles foram amados.

As narrativas do Novo e do Antigo Testamento apontam para o ponto central da prédica que é a necessidade urgente de recuperar o sentido profundo do amor como experiência humana ligada a Deus.

2. Exegese

O Evangelho de Mateus apresenta Jesus que não se nega a responder perguntas difíceis. Ele não foge da presença daqueles que não gostam da sua atuação. Só esse fato já demonstra como Jesus entende a relação com as pessoas. Foi feita uma indagação e essa necessita ser levada a sério. O texto encontra-se dentro de um bloco de controvérsias, dentro de uma discussão rabínica. Do método de discussão rabínica consta: o rabi responde a três perguntas e depois também interroga com três perguntas. É dessa forma que a narrativa de Mateus 22.34-46 está construída.

Os fariseus perguntam a ele: Mestre, qual é o grande mandamento na lei? Atrás dessa pergunta há a tentativa de pegar Jesus em uma cilada. Quando os fariseus fazem a pergunta, Jesus se encontra no templo. O templo é um lugar simbólico muito importante. Ele é espaço de ensino e de cumprimento das leis, bem como também a aplicação de sacrifícios reparatórios para quem não cumpre as mesmas. E é ali, no templo, que um grupo de fariseus, novamente, quer colocar Jesus à prova (Mt 22.35). O Evangelho de Mateus vem descrevendo como diferentes grupos tentam colocar Jesus em apuros (Mt 22.15). Jesus já havia calado a boca dos saduceus (Mt 22.34). Os saduceus formavam um partido judaico poderoso, que controlava a religião a partir do templo. Os fariseus também eram um grupo de grande influência, conhecedores das leis. Os fariseus constituíam a linha religiosa dominante em Israel. Eles querem que todo o povo siga suas orientações religiosas, baseadas na lei (GOPPELT, 1983, p. 66).

Os fariseus armam uma nova armadilha para Jesus com a seguinte pergunta: Mestre, qual é o grande mandamento na lei? (Mt 22.36). Jesus responde a partir da memória afetiva da comunidade religiosa na qual se encontra. Ele lembra a centralidade do amor. Ele coloca o amor como motivação maior para todo agir. Jesus relativiza as leis, doutrinas e tradições. Leis, doutrinas e tradições só são importantes se tiverem como fonte primeira o amor. Amor significa serviço desinteressado à pessoa próxima. O amor a Deus está ligado com o amor ao próximo e também com aprender a amar a si mesmo.

Há necessidade de equilíbrio entre a lei e a prática do amor. Jesus aponta para o amor, que está acima da lei. Ele aponta para a memória da narrativa sagrada do Antigo Testamento, a um dos livros da lei judaica, o Deuteronômio (6.4-5): Amarás o Senhor, teu Deus [...]. Jesus aponta para um amor intenso, isto é, com todos os sentidos: coração, alma e entendimento. O amor necessita ser expresso  m palavras e ações de forma concreta. Na segunda parte do mandamento, Jesus recupera, do Pentateuco, do livro de Levítico (19.18) o seguinte: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Também nessa parte do mandamento encontra-se a necessidade da experiência da profundidade do amor. Amar o outro e a outra como a si mesmo, esse é um tremendo desafio de alteridade, de aceitação plena da outra e do outro assim como se apresentam, sem discriminação de classe social, gênero, orientação sexual, cor/etnia, geração, doença, entre outras.

Jesus completa, dizendo: [...] destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas (Mt 22.40). Jesus afirma que as Escrituras são relativas, isto é, somente é absoluto o amor e esse dá sentido às Escrituras. O amor é colocado por Jesus como critério para ler qualquer narrativa bíblica. As narrativas bíblicas são memórias da comunidade cristã primitiva e que ainda hoje apresentam desafios para a prática cristã. Toda ação que se afirma cristã necessita estar firmada na prática do amor solidário e transformador.

Jesus, com sua resposta, acusa os fariseus de estarem traindo o projeto de Deus, pois esses colocam a letra da lei acima da humanidade. Incomodados pela resposta de Jesus, eles ficam silenciosos e sem resposta. No entanto, nos versículos seguintes, novamente os fariseus estão reunidos, tramando aparentemente algo contra Jesus (Mt 22.41). Na segunda parte do texto, é Jesus quem passa a questioná-los (Mt 22.42), fazendo também acusações fortes contra fariseus, incluindo também os doutores da lei (Mt 23.1-36), de modo que [...] ninguém podia responder-lhe nada. E a partir daquele dia, ninguém se atreveu a interrogá-lo (Mt 22.46). Os fariseus estavam nus, totalmente desmascarados. A letra da lei mata. Ela necessita ser interpretada em cada momento histórico e contexto. Amar intensamente é acolher, cuidar, escutar com atenção, buscar conhecer a história do outro. Mateus 25.31-46 coloca de forma clara como esse amor necessita acontecer e se materializar na vida cotidiana.

Quando Jesus coloca o amor como critério único para o cuidado e promoção da vida, ele abre possibilidade para todos e todas fazerem parte das bênçãos de Deus. Para muitos fariseus e outros grupos sectários do tempo de Jesus, os pobres eram considerados ignorantes e por isso, na concepção deles, estariam excluídos. Somente eles se achavam com esse privilégio, porque conheciam as leis. Não é o simples conhecer e cumprir a lei que garante a salvação, mas sim a prática do amor. Jesus derruba com suas afirmações muitos muros que impediam o acesso dos pobres (mulheres, crianças, doentes, órfãos, viúvas, entre outros grupos) ao reino de Deus. As leis eram muitas, mas muito difíceis de serem cumpridas. Por isso Jesus propõe o caminho do amor. No entanto, não se pode esquecer que o amor é sempre tríplice: a Deus, ao próximo e a si mesmo. Ele rompe com uma espiritualidade sem compromisso e com um amor egoísta e consumista, voltado somente para si mesmo.

3. Meditação

O que significa viver o amor no tempo em que vivemos? Como definimos o amor? O que significa amor a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo entendimento? O que significa amor ao próximo? O que significa amor a si mesmo? O que significa amor ao próximo como a si mesmo? Como essas dimensões de amor estão interligadas e necessitam se concretizar na materialidade da vida cotidiana?

Talvez seja interessante iniciar com perguntas, já que o texto de Mateus também está recheado de perguntas. Jesus é perguntado e ele faz perguntas. Grupos fazem perguntas a Jesus e eles também são questionados. Essa é a forma como o texto é apresentado em sua narrativa.

Amor é mais do que um simples sentimento. É um compromisso de serviço com amor ao próximo, que também alcança aqueles e aquelas que pensam e vivem diferente. Somente o amor transforma. As leis necessitam estar aí para o serviço de amor ao próximo. Toda a Escritura necessita ser lida a partir do amor para transformar a vida cotidiana.

Não tenhamos medo de responder perguntas. Não tenhamos medo de colocar nossa posição cristã e afirmar o amor em meio a situações de ódio, de ganância, de falta de respeito com as pessoas e com toda a criação.

O amor é serviço ao próximo. O amor transforma. A lei é importante, mas ela não garante a transformação se não existir amor comprometido. Amar é um ato revolucionário que acontece no cotidiano.

4. Imagens para a prédica

Sugerimos primeiramente ler o texto previsto para a pregação e perceber sua lógica, isto é, a forma como o mesmo é construído por meio de perguntas e respostas, baseadas nas memórias narrativas do Antigo Testamento e nas questões que norteavam a comunidade cristã do evangelista Mateus. A lei necessita do acréscimo do amor. Importante não espiritualizar o amor. A prática do amor é a forma concreta da fé em Deus se manifestar na relação com as pessoas e o mundo.

Refletir em seguida sobre o que significa o amor construído a partir da mensagem profética de Jesus. O amor a Deus, ensinado por Jesus, rompe com a lógica mercadológica de propostas religiosas de nosso tempo. Amar a Deus de todo o teu coração – O coração representa o lugar da vida interna do ser humano. Ali tem lugar para a alegria, o temor, a dor, a esperança, o desejo, o pensamento. Amar a Deus de toda a tua alma – A alma é sinal de vida. É também considerada a fonte da vontade e dos sentimentos. Amar a Deus de todo o teu entendimento – Pode significar a inteligência, o intelecto, a razão, o conhecimento, passando pela experiência. O uso dos três termos enfatiza a necessidade de amar a Deus integralmente. O amor necessita passar pelo corpo, pela razão e emoção. A vivência desse amor é reposta ao amor que já recebemos de Deus. Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro (1Jo 4.19).

Ao grande mandamento de amar a Deus Jesus acrescentou o amor ao próximo como a si mesmo. Jesus rompe com todo amor baseado no egoísmo e no consumismo. O amor é serviço que busca a transformação de realidades violentas, preconceituosas, discriminatórias, racistas, homofóbicas, machistas, patriarcais, que não afirmam a vida abundante que se mostra na diversidade.

Viver e praticar esse amor ensinado por Jesus necessita ser prática cotidiana de conversão, de arrependimento, de confissão de pecados, pois, por natureza, somos sujeitos egoístas e pecadores. A prática do amor não é somente um ato isolado, mas necessita se consolidar em políticas públicas cidadãs, de mudanças/transformações nos lugares onde vivemos para que acabe com a violência, a fome e a desigualdade social. Não queremos mais homofobia, racismo, machismo, violência, suicídios. Necessita-se trabalhar o amor que também valorize a autoestima, a autonomia do sujeito. A prática do amor busca também a construção de uma sociedade justa com uma educação, saúde e segurança pública de qualidade.

A prática do triplo mandamento do amor (amor a Deus, ao próximo e também a si mesmo), que está interligado, resume toda a vida da pessoa cristã cidadã. A prática do amor cristão também nos desafia ao engajamento diaconal na comunidade ou em grupos que se propõem a mudar situações de injustiça, intolerância, fome, medo, pobreza, violência, morte. Amar é um ato revolucionário que se revela na prática cotidiana.

5. Subsídios litúrgicos

Tema do culto: Amar é um ato revolucionário que se revela no viver cotidiano.

Buscar testemunhos de pessoas e instituições comprometidas com as lutas contra os diferentes tipos de violências, trabalho com a agricultura agroecológica, com pessoas deficientes, com pessoas que lutam contra a doença do álcool e/ou das drogas, trabalho de mães/mulheres que tiveram seus filhos assassinados e lutam na justiça. Exemplos de amor comprometido que buscam transformações no cotidiano.

Sugestão de hinos

LCI 341 – A cada dia nasce de novo o sol
HPD 1, 176 – Deus teu amor é qual paisagem bela
LCI 609 – Palavra não foi feita para dividir
LCI 308 – Ilumina nossas ruas

Confissão de pecados

Oh Deus de todo amor e ternura, tu que te moves em toda a vida, perdoa--nos por nossa falta de amor. Temos praticado muitas injustiças. Somos pessoas preconceituosas. Há crianças perambulando pelas ruas sem escola, sem teto, sem comida. Há mulheres sofrendo violência doméstica. Muitas pessoas são discriminadas por sua cor da pele e outras por sua orientação sexual. A terra está sangrando, pois florestas são derrubadas, águas são poluídas, sementes são plantadas e cultivadas com muito veneno. Há muita ganância e falta de um amor comprometido com toda a criação. Oh Deus, perdoa-nos e orienta-nos na construção de um mundo de justiça e de paz. Em nome de Jesus, que nos ensinou o amor, mostra--nos o caminho para o arrependimento e a mudança sincera em nossa forma de viver. Amém.

Kyrie

LCI 56 – Pelas dores deste mundo

Oração

Deus, teu poder é de amor! Nós te agradecemos que Jesus nos mostrou esse grande e maravilhoso amor. Queremos fazer nossos corações se abrirem e 
estarem abertos para todas as pessoas a partir do amor incondicional ensinado e ofertado por Jesus. Que o Espírito Santo nos ajude. Amém.

Abraço da paz e da reconciliação

Cada pessoa pode dizer para a outra: “Que o Deus amoroso aumente em ti o amor”; e a outra pessoa responde: “Que assim seja. Obrigada por este desejo”.

Bênção

A bênção amorosa de Deus venha sobre ti
e te ensine a amar com o coração, a alma e o entendimento.
A bênção amorosa de Deus venha sobre ti
e te ensine a amar teu próximo como a ti mesmo.
A bênção amorosa de Deus venha sobre ti
para que possas viver no cotidiano o grande mandamento do amor.
Assim te abençoe Jesus, o Cristo, que ensinou a praticar o amor.
Assim te abençoe o Espírito Santo, sopro de vida,
na prática diária do amor a todas as pessoas e toda a criação.
Amém.

Bibliografia

ULRICH, Claudete Beise. Mateus 22.34-46. In: SOUZA, Mauro Batista de; BEULKE, Gisela; KILPP, Nelson (Coords.). Proclamar Libertação: auxílios
homiléticos. São Leopoldo: Sinodal, 2007. v. 32, p. 298-306.
GOPPELT, Leonhard. Teologia do Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal; Petropólis: Vozes, 1983. v. 1.


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Autor(a): Claudete Beise Ulrich
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Tempo Comum
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 21º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 22 / Versículo Inicial: 34 / Versículo Final: 46
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2019 / Volume: 44
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 54685

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Ninguém deve fazer tudo o que tem direito a fazer. Cada qual deve olhar para o que é útil e o que é benéfico para o seu irmão, para a sua irmã.
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