O último dia

Por Luis Stephanou*

Sem dúvida este é o Fórum dos movimentos sociais. O perfil dos participantes é muito diferente das edições que aconteceram em Porto Alegre. E é o Fórum de um tipo especial de população: os refugiados. Há centenas de refugiados butaneses que moram na Índia ou no Nepal. Outras centenas, talvez mais, de tibetanos que vivem na Índia cruzam nas ruelas com burmeses (Myanmar) que vivem no Camboja. Também há cambojanos vivendo em Hong Kong... Populações perseguidas em países pobres, vivendo em outros países igualmente pobres. 

É provável que a Índia seja um dos países onde mais há refugiados. E não são populações que ficam um tempo e depois conseguem voltar aos seus locais. Os tibetanos, por exemplo, já estão aqui há três gerações (O Dalai Lama era um jovem monge quando foi exilado). E não há nenhuma perspectiva destes exílios terem fim. 

Aqui no Fórum todos estes grupos realizaram dezenas de manifestações. E de todas formas: passeatas (grandes, médias, pequenas), cantos, danças, orações, jejuns... A mensagem era uma só: não esqueçam da nossa existência! 

Os refugiados butaneses traziam em suas camisetas uma inscrição emblemática: Gandhi nos apoiaria! É que neste Fórum a impressionante figura de Gandhi flutua sob o burburinho constante das massas se movendo em todas direções. Ghandi também está presente em manifestações artísticas e nos muitos livros que há sobre sua vida, doutrina e seus escritos. 

Em alguns momentos vemos algumas pessoas vestidas igual ao Mahatma, caminhando com um cajado... Che Guevara, que nos fóruns anteriores reinou sozinho na galeria dos ícones, desta vez tem quem lhe faça companhia.

Finalizando, uma péssima notícia: no último dia do Fórum foi feita uma denúncia de estupro na delegação sul-africana. O caso estourou na imprensa local (foi como ficamos sabendo) e envolve um dos chefes da delegação daquele país, um juiz que recentemente foi indicado para a suprema corte e é conhecido por sua luta pelos direitos humanos. A vítima e (ou seria) uma jovem da mesma delegação. O juiz está preso e já recebeu apoio, entre outros, de Winnie Mandela. Os movimentos feministas, por sua vez, exigem uma investigação séria e justiça. 

O juiz alega inocência mas a moça diz que não consentiu na relação. Enfim... uma péssima nota que faz a gente ficar pensando.

*Assessor programático da Fundação Luterana de Diaconia