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Domingo no Fórum

18/01/2004

Domingo no Fórum

Por Luis Stephanou*

Pássaros machucados durante as celebrações na cidade. Essa foi a manchete local, na capa do Mumbai Times de ontem (18 de janeiro). Não dá para deixar de pensar em boicote ou desprezo em relação ao Fórum. Depois me disseram que não é bem assim. Os jornalistas locais estão cobrindo as atividades. A grande imprensa mundial, além da alternativa, também têm destacado o Fórum.

Não sei... Esta notícia dos pássaros machucados me fez pensar na conferência matinal do segundo dia: Midia, Cultura e Conhecimento. A conferência foi coordenada por N. Ram, da Índia, que destacou que um dos maiores problemas do país é a relação entre as línguas locais e o inglês. Aqui há 16 línguas consideradas oficiais, mais uns 300 dialetos. Entre estas 16 línguas, o hindi é predominante. Mesmo assim, menos de 25% da população fala hindi. 

O resultado é uma colcha de retalhos com enormes desafios quando pensamos nas questões de mídia e comunicação. Ram nos fala que existe uma contradição entre a difusão das idéias e manutenção das culturas locais. Fiquei pensando que isso ocorre do inglês para as línguas nativas, mas também ocorre das línguas nativas para os dialetos, principalmente do hindi para os demais. O pessoal do extremo sul da Índia, por exemplo, que fala tamil, se recusa a conversar na língua dos colonialistas: o hindi!

Bernard Cassen, da França, um dos organizadores do Fórum Social Mundial, lembrou sobre as perseguições, torturas e assassinatos de jornalistas em diversas partes do mundo. É um método de exclusão das possibilidades alternativas de se construir conhecimento e informação. Cassen também disse que a mídia tem um poder em si, não está apenas a serviço de outros interesses, embora evidentemente isso se misture. Citou o exemplo da Venezuela, no qual a imprensa há diversos anos vêm tendo destacado papel em promover um golpe contra o governo. 

Jeremy Seabrook, dos Estados Unidos, discorreu sobre as perspectivas do software livre. Foi uma palestra bastante didática, com explicações sobre as diferentes características de direitos autorais e o uso e a democratização do processo de controle na informática. Sua palestra estava baseada em 20 anos de trabalho, pesquisa e militância nesta área. 

Nikhil Wagle, da India, protestou (em bom inglês) sobre a necessidade de se expressar num idioma imperialista, relacionada com a opressão colonial. Numa concessão aos demais indianos, resolveu falar em hindi (que, conforme explicou também não era a sua língua...). 

Minha mente voltou a se ocupar com o assunto lá pela metade da palestra de Trin Minh Há, do Vietnã. Foi interessante sua colocação sobre o papel da produção cultural na aproximação entre os povos e no acercamento de realidades que, a princípio, têm muita dificuldade de se comunicar mas, mesmo assim, conseguem estabelecer trocas. O Fórum é um ótimo exemplo disso. 

Não consegui prestar atenção no último depoimento. Já passava do meio-dia e o cansaço tomou conta. Uma observação. Nas grandes conferências as vezes é difícil acompanhar quem está falando o quê. Além dos tumultos normais, há palestrantes que não comparecem (nesta conferência faltaram três, entre os quais o brasileiro Augusto Boal) e outros que são apresentados na última hora. Nem sempre fica claro quem está falando, principalmente quando os nomes são africanos ou orientais, de difícil compreensão.

*Assessor programático da Fundação Luterana de Diaconia 

Quando Deus parece estar mais distante, mais perto de nós Ele se encontra.
Martim Lutero
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