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Avaliação do Fórum Social Mundial

28/03/2005

Avaliação do Fórum Social Mundial

Por Luis Stephanou, sociólogo

Nesta quinta edição do Fórum Social Mundial, realizada entre os dias 25 e 31 de janeiro de 2005, em Porto Alegre, novamente ficou evidenciada sua importância como espaço de articulação global contra as injustiças e as diversas formas de opressão pelos quais boa parte da humanidade se confronta. Cerca de 150 mil pessoas de 135 países compuseram um colorido mosaico no qual a pluralidade de idéias, formas de manifestação e espaços de discussão encheram a cidade de uma vida que será muito difícil esquecer ou reproduzir em outro momento.

Como afirmam os autores de recente análise de conjuntura da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB (Análise de Conjuntura, apresentada ao Conselho Permanente em 22 de fevereiro de 2005, com a colaboração de Antonio Abreu SJ, Bernard Lestienne SJ, Daniel Seidel, Ir. Delci Franzen,, Pe. José Ernanne Pinheiro e Pedro A. Ribeiro de Oliveira.) , ele tornou-se o maior instrumento para a sociedade civil expressar suas inquietações com relação ao mundo atual, procurar caminhos alternativos e alimentar a utopia de um mundo justo e solidário.

É evidente que qualquer avaliação, considerando a amplitude deste encontro, será parcial. Considerando esta limitação, é possível destacar algumas questões.

A instalação de todas as atividades do Fórum numa área contínua de parques, às margens do Guaíba, mostrou ser um grande acerto. Além de proporcionar um belo cenário, possibilitou que a população da cidade participasse do Fórum. Nas edições anteriores de Porto Alegre o FSM esteve muito concentrado nos muros da Universidade; aí só os delegados participavam. Agora foi possível enxergar muitos grupos juvenis, gente que se exercita ou freqüenta os parques e curiosos em geral se misturando na paisagem universal do Fórum. Ainda que esta mudança de local tenha dificultado os deslocamentos, pois de uma ponta a outra eram mais de quatro quilômetros (e com o calor que fazia...), as vantagens em termos de participação da população local foram evidentes. 

Em termos de organização é possível concluir que as coisas funcionaram. É claro, há que olhar a floresta e não as árvores isoladas. Seria impossível que não ocorressem centenas (ou milhares) de pequenos problemas mas, em termos gerais, o Fórum funcionou bem. As necessidades de infra-estrutura (credenciamento, comunicação, energia, água, banheiros, espaços de atividades, estandes...) foram satisfatórias. O transporte se mostrou aquém das necessidades, pois a linha especial era muito demorada e os simpáticos carrinhos que faziam o deslocamento por dentro dos parques eram insuficientes. Também houve muitos comentários envolvendo questões de segurança, principalmente no acampamento da juventude.

A auto-gestão das atividades demonstrou ser viável. De um lado, desafogou as inúmeras e complexas tarefas das coordenações e, por outro lado, transferiu responsabilidades para os grupos que propuseram atividades. A organização de eixos temáticos foi uma iniciativa interessante para a realização dos debates. Era como se a “cidade Fórum Social Mundial” fosse composta de diversos bairros, cada um com suas características. 

Nos encontros anteriores a economia desta cidade esteve, em sua maioria, nas mãos de empresas do mercado. Desta vez os grupos de economia solidária conseguiram ocupar um espaço do tamanho de suas aspirações e necessidades. Não tenho condições de avaliar especificamente este ponto mas, com certeza, esta foi uma mudança muito importante. Em outro mundo possível, as formas de produzir e distribuir riquezas também serão diferentes das que temos. É preciso fortalecer os grupos, cooperativas e associações que desenvolvem experiências alternativas de produção e comercialização.

O mesmo pode ser dito em relação às construções alternativas, envolvendo princípios de arquitetura alternativa, permacultura, bioconstruções etc... Foi interessante ver soluções simples e criativas contrastando com as feias, caras e pouco funcionais tendas de lona plástica. Ainda foram pequenas ilhas no meio do convencional, mas já é um passo.

Contudo, houve algo realmente incômodo nesta edição do Fórum. Mais do que nas ocasiões anteriores, as presenças de Hugo Chávez e Lula acabaram transferindo uma desmedida atenção para representações de Estado. Acho contraditório falar em protagonismo da sociedade civil e Fórum Social e, ao mesmo tempo, assistir romarias de apoiadores ou também críticos (no caso de lula) se dirigindo ao ginásio, em busca de alguma iluminação. Não se trata de negar a existência, a importância ou até a participação destes atores. Isso seria muito primário. Contudo, entendo que este não é um espaço no qual o Estado, seja qual for sua orientação política momentânea, tenha que ter o destaque que obteve neste Fórum.

Para finalizar, uma questão que já faz parte do debate desde o primeiro encontro, em 2001: até que ponto a diversidade de experiências, o gigantismo dos números e a multiplicidade de idéias permitem que o Fórum avance na construção de propostas e uma agenda global comum? Possivelmente a necessidade de construir propostas seja um consenso. E não muitas, pois abrir o leque significaria perder consensos. Por outro lado, esta construção de uma agenda comum também não pode eliminar do Fórum este espaço de diversidades e criatividade. Esse outro mundo será composto por diferentes – um local no qual as alteridades estarão incluídas. Neste aspecto a carta de encerramento, as avaliações e a sistematização de uma parte dos debates estarão contribuindo para essa dinâmica de caminhar juntos sem perder a diversidade.

Foi um grande encontro, que ficará na memória de Porto Alegre e nas saudades de quem o viveu.

Se reconhecemos as grandes e preciosas coisas que nos são dadas, logo se difunde, por meio do Espírito, em nossos corações, o amor, pelo qual agimos livres, alegres, onipotentes e vitoriosos sobre todas as tribulações, servos dos próximos e, assim mesmo, senhores de tudo.
Martim Lutero
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