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Avaliação do Fórum

09/02/2004

Avaliação do Fórum (Português/English)

Por Luis Stephanou*

Terminei a minha crônica anterior ao som do Gilberto Gil. As próximas (e finais!) serão dedicadas a uma pequena avaliação do FSM. Nesta primeira, alguns comentários gerais. Numa segunda, falarei um pouco sobre o funcionamento do Fórum e a presença das igrejas e, na última, vou abordar algumas questões para o futuro.

Faço a avaliação sem nenhuma pretensão de ser abrangente - o FSM é de um tamanho e complexidade que vai bem além de minhas possibilidades. Ademais, não tive acesso ou participei de discussões consideradas estratégicas. Então, limito-me às observações de um participante espectador. 

Esta quarta edição do Fórum confirma questões que aparecem desde sua criação, mas também traz desafios para os próximos eventos. Uma primeira observação, que acredito que impactou muito as pessoas da delegação brasileira, foi a diferença de perfil entre nossa sociedade civil e o que encontramos no Fórum. Já comentei sobre isso em boletins anteriores, mas não custa sublinhar. Aqui, os movimentos sociais de base tiveram um protagonismo que jamais conseguiram ter em Porto Alegre. Foram dezenas de milhares de camponeses e trabalhadores urbanos - víamos em seus rostos todo sofrimento, a força e também a esperança da Índia das aldeias, das beiradas de rios e das grandes favelas urbanas.

Foi um encontro que teve uma outra dinâmica: ele aconteceu muito mais nas ruelas do que dentro das plenárias e grandes conferências. Foi um encontro mais conturbado, mas mais vivo. 

Muito se falou nestes dias de diversidade cultural, política e social. Talvez tenha que se falar de uma outra forma de sociedade civil por aqui, com partes muito diferenciadas entre si. Caso isso seja correto (não sei), o Fórum pode ter contribuído para aumentar a comunicação entre estas diferenças, seja de uma região para outra ou até entre temas com pontos em comum. Não é somente uma questão de comunicação e as dificuldades de um país com muitas línguas; é algo mais profundo, do jeito de ser indiano. Difícil explicar...

Acredito que o exemplo mais visível seja o dos dalits. Vinham de diferentes regiões e, ao que parece, tinham pouco contato entre si. Mesmo suas organizações gerais não pareciam estar representando a todos. Pois o Fórum ajudou a fortalecer estes laços e também lhes trouxe uma visibilidade internacional que antes não possuíam. 

Até que ponto esta edição do Fórum contribuirá para mudanças na sociedade indiana? Sinceramente, não sei. Por um lado, serviu como grande ponte para o encontro de seus movimentos sociais mas, por outro lado, bastava caminhar cinco minutos fora das fronteiras do local das conferências e oficinas para nos darmos conta da avassaladora miséria do país e o quanto superá-la é um desafio que foge da nossa compreensão.

As mudanças sociais não são construídas somente na esfera da sociedade civil. Ela não tem autonomia para isso. Há que articular políticas que envolvam o setor público estatal e também as diversas organizações internacionais. Então, a principal mensagem desta (e das outras) edições do Fórum é que se a sociedade civil não pode ser considerada a única protagonista de mudanças, também já não se pode pensar num cenário de mudanças sem a participação dos grupos organizados e dos movimentos sociais. E isto, em termos globais, é algo relativamente novo.

*Assessor programático da Fundação Luterana de Diaconia

Deus é um forno ardente repleto de amor, que abraça da terra aos céus.
Martim Lutero
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