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Assembleia da FLD aprova sua Política de Justiça de Gênero

31/03/2014

Assembleia FLD 2014
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A Política de Justiça de Gênero da FLD, que vem sendo desenvolvida nos últimos dois anos, foi aprovada por unanimidade pelas conselheiras e conselheiros durante a Assembleia Geral deste ano, realizada nos dias 27 e 28 de março, em São Leopoldo (RS). O processo de construção do documento teve inicio na reflexão de um grupo de mulheres surgido na FLD em 2012, formado por representantes de parcerias estratégicas da FLD, integrantes da Secretaria Geral da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e da própria equipe. Depois de uma série de encontros, as mulheres apresentaram para a Diretoria Executiva uma proposta coletiva de elaboração de uma política de gênero.

A proposta teve como base a trajetória da FLD e seus apoios a grupos atuantes na defesa dos direitos das mulheres, sua função diaconal transformadora e as demandas das pessoas que vivem e fazem a organização diariamente. Também inspirou-se em organizações como a Federação Luterana Mundial – que teve sua política aprovada em 2013 – e a Aliança ACT – que contempla “gênero como um eixo transversal em todas as dimensões de sua visão de desenvolvimento”. Desta forma, na Assembleia Geral de 2013, cujo tema central foi a questão de gênero, constitui-se um grupo de trabalho para pensar o documento, trazido para apreciação no último dia 28.

A política justifica-se tanto pelos desafios internos que a FLD tem diante de si, em termos de igualdade de mulheres e homens, desde o campo da governança, passando pelo campo da gestão e o campo da execução, até os grandes desafios na sociedade, que envolvem a reduzida participação das mulheres nos espaços e processos de tomada de decisões e altos índices de violência doméstica e de gênero.

No dia 28, durante discussão sobre o documento, antes de este ser levado para a plenária para ser posto em votação, conselheiras e conselheiros apontaram com um dos destaques o fato de a FLD ter começado “na sua própria casa”, ao fazer um diagnóstico inicial a partir de documentos normativos (como estes contemplam ou não contemplam a justiça de gênero), da linguagem (é inclusiva, não é inclusiva) e das relações na própria equipe. “Não é apenas papel, não é apenas discurso, mas é realidade”.

Igreja da Suécia

A apresentação e discussão sobre a Política de Justiça de Gênero da FLD foi precedida pela apresentação do processo de elaboração e aprovação da política da Igreja da Suécia, feita pela pastora Adriana Gastellu. Além de dados observados em pesquisas internacionais sobre o papel e o espaço das mulheres na sociedade, a reflexão também foi feita a partir do ponto de vista teológico.

O ideal é um mundo de reconciliação, reconciliado, que dá a possibilidade de se ter uma vida plena. Equidade significa direitos iguais, oportunidades e obrigações iguais, para homens e mulheres. “Política de justiça de gênero não é apenas uma questão das mulheres”, lembrou Gastellu. “Mas é bom lembrar que nenhuma menina nasce predestinada a lavar pratos. Isso é uma construção social, que deve ser questionada em um contexto de justiça.” E justiça é um termo central na tradição cristão. “No antigo testamento, a palavra justiça aparece mais de 100 vezes. No novo testamento, mais de 50 vezes”, lembrou a palestrante.

Resumo da Política de Justiça de Gênero da FLD

Sobre a política da FLD, é um documento normativo e estratégico que implementa a justiça de gênero como critério transversal para todas as dimensões de trabalho da FLD e para todos os projetos por ela fomentados ou executados diariamente. Visa promover o exercício de relações de gênero justas e igualitárias, reconhecendo nelas um potencial transformador das relações sociais. Visualiza oportunizar a valorização igualitária de mulheres e de homens e gerar o acesso de mulheres e de homens de modo equilibrado aos espaços de poder e de governança da instituição e de suas parceiras. A Política de Justiça de Gênero objetiva, através de sua consecução, transformar as relações sociais na sociedade brasileira e ser estímulo e orientação também para seus parceiros estratégicos, organizações apoiadas e mesmo à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), igreja com a qual partilha identidade teológica e, por meio desta, fomentar o desenvolvimento de relações de gênero justas no meio ecumênico brasileiro.

Confira a entrevista com a secretária executiva da FLD, Cibele Kuss:

- Qual a importância dessa aprovação pela FLD?

A construção e aprovação da Política de Justiça de Gênero marca um tempo histórico na Fundação Luterana de Diaconia - FLD, em que a importância do debate sobre justiça de gênero se constituiu numa Política a ser posta em execução, de forma interna no funcionamento do trabalho e das relações sociais das pessoas que atuam na FLD e junto a organizações parceiras. O processo de elaboração da política é um aprendizado muito significativo porque foi sendo construído através do surgimento de um grupo de mulheres plural, seminários, elaboração de uma proposta à diretoria da FLD para que a política fosse construída, a constituição de um grupo de trabalho formado por representantes do conselho deliberativo, da diretoria, da comissão de análise de projetos e da própria equipe da FLD. Foi contratada uma consultoria externa que elaborou um diagnóstico sobre justiça de gênero existente e inexistente nos processos subjetivos internos da instituição e condizente com os objetivos que orientam a atuação da FLD.

O diagnóstico teve um caráter documental e outro subjetivo, através de entrevistas. Ao aprovar a Política de Justiça de Gênero a FLD dá um testemunho público de seu compromisso de criar ferramentas, instrumentais que internamente estabelecem caminhos de superação das desigualdades em sua institucionalidade e também junto às organizações parceiras. Ao reconhecer a aprovar a política, a FLD reconhece a necessidade de compreendê-la de modo interseccional entre geração, etnia, classe social e orientação sexual, tendo como objetivo reconhecer que estas categorias se atravessam, interagem entre si na construção das relações sociais e suas determinações são profundamente afetadas por estes cruzamentos.

- De que modo isso vai impactar nos trabalhos e políticas desenvolvidas pela FLD?

Em relação aos impactos e mudanças que serão promovidas internamente na FLD, a partir da aprovação da Política de Justiça de Gênero, será necessário construir um processo de implantação orientado pelos princípios da política, tais como: formação e sensibilização contínuas; a linguagem inclusiva como um critério básico para a elaboração dos documentos, com uniformidade à linguagem; apoiar o empoderamento das mulheres e promover ativamente o envolvimento dos homens na justiça de gênero; a transversalização da política com as áreas programáticas de atuação da FLD, no Programa de Pequenos Projetos, acompanhando os parceiros estratégicos, desenvolvimento de iniciativas inovadoras, definição de ações e indicadores no processo de Planejamento, Monitoramento e Avaliação (PMA), Equilíbrio representativo; Superação da Violência; Justiça de Gênero como critério de análise de projetos. No processo de implementação, serão adotadas estratégicas que incluem abordagem participativa, programa de formação, estímulo a grupos de discussão, implementação da justiça de gênero como critério para projetos, adoção da linguagem inclusiva de gênero (manuais, oficinas, revisão documental), processos de PMA, replicar grupos de gênero em outros espaços (motivando e incentivando parceiros estratégicos e outros grupos apoiados).

- Isso pode ter um impacto na própria leitura teológica da IECLB?

A FLD é uma organização de base confessional que respeita a diversidade religiosa e o Estado Laico brasileiro. Ela nasceu e emergiu da estrutura interna da IECLB e posteriormente tornou-se uma fundação que tem na sua governança a representação de todos os sínodos no seu conselho deliberativo, executando alguns projetos em parceria direta. As bases teológicas que fundamentam a política de justiça de gênero estão alicerçadas na confessionalidade luterana e na hermenêutica bíblica-feminista. Na perspectiva luterana do sacerdócio universal, mulheres e homens exercem poder a partir da ideia do discipulado de iguais e as desigualdades, por sua vez, quebram o ciclo do amor e refletem incapacidades de pensar e agir em espaços de comunhão, os quais desvelam o poder patriarcal, que nada partilha e tudo oprime. A IECLB está também comprometida com o processo de aprovação da Política de Justiça de Gênero da Federação Luterana Mundial, realizado e em fase de implementação desde 2013. A política da FLD certamente impactará como mais um processo no qual a igreja pode se inspirar e começar a criar diálogos que incluam a participação e impactem sobre a vida das comunidades, paróquias, sínodos, instituições, comissões, governança a pensar sua própria política de justiça de gênero.
 

Fonte: FLD
 

Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças.
Marcos 12.30
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