Cultura de Convivência



ID: 3192

Violência Disfarçada

Caderno de Subsídios - Semana Nacional da Pessoa com Deficiência - 2010

01/08/2010

Violência Disfarçada

1. Líder do grupo sugere que as pessoas imaginem uma cena de violência: uma cena que viram ou ouviram falar, pode ser na TV, no cinema, na rua ou em casa. Dá um tempo para as pessoas imaginarem.

2. Líder convida que somente uma ou duas pessoas compartilharem com o grupo, se puderem, as cenas que imaginaram.

3. Líder escuta e reflete com o grupo, como o relato destas cenas, só de ouví-las mexeu com o clima, com os sentimentos do grupo. Imaginem então, quem as viveu, como se sente! Deixar espaço para breves comentários.

4. Líder pede que o grupo defina um pouco o que é violência. Escrevem num papel pardo ou cartolina as diversas definições.

5. Líder lê a seguir o texto abaixo:

Experiências de alguém que sofre sob a violência disfarçada, dissimulada.

Muitas pessoas pensam que violência é somente aquilo que causa sangue e dor, como tiros, batidas de carro, roubos, estupros, arrombamento e explosões. Isso certamente é violência, bem como aquilo que vocês em grupo definiram.

Porém, gente querida, a violência tem também formas sutis de ser, sem derramar sangue, sem revólver ou força bruta. Toca a alma de alguém e a faz tremer. Deixa marcas para sempre. Eis alguns exemplos vividos por mim:

a) a violência de um olhar: quando chego num ambiente onde não me conhecem, os olhos das pessoas vêem primeiro as minhas bengalas e o meu andar claudicante. É indisfarçável a expressão no rosto delas; um olhar de desdém, de menosprezo, de preconceito. Imagino que pensam: coitada! Que será que aconteceu com ela? O olhar é de menos valia, com se eu fosse só a deficiência, como se eu não tivesse profissão, família, filha. Podem perguntar a outros, este olhar dói.

b) a violência da ignorância: quando eu estava oito meses grávida, um taxista me perguntou ao pará-lo: como foi acontecer isso com a senhora? Acho que ele estava se referindo a uma mulher com deficiência estar grávida. Eu respondi: foi com meu marido mesmo! Ele não perguntou mais nada! Também uma balconista me perguntou: teu neném vai ter o mesmo problema que tu tens?

c) a violência da barreira arquitetônica: é grande a frustração diante de escadas, falta de elevadores, calçadas inadequadas, pisos molhados sem aviso e outras barreiras que me isolam, me deixam de lado, me colocam em perigo, me impedem de viver, de ir e vir. Embora o acesso nas cidades hoje seja mais fácil, devido às leis, há ainda muito a ser feito. É horrível a sensação de tua família ir num lugar e tu não poderes acompanhar, por falta de acesso.

d) a violência do silêncio e omissão: um dia chegando ao estacionamento reservado para as pessoas com deficiência vejo uma senhora descendo do seu carro ali indevidamente estacionado, pois ela caminhava sem nenhuma dificuldade. Quando lhe perguntei se tinha uma deficiência para ocupar aquela vaga e lhe disse que eu tinha uma deficiência, ela simplesmente me gritou: -azar! Outros ouviram e viram
a cena, ninguém fez nada.

e) a violência da atitude: todas as atitudes acima foram violentas contra mim, mas tem uma mais específica. Chegando ao supermercado, encontrei um senhor sem deficiência e abaixo dos 60 anos, entrando no seu carro que ocupava a vaga das pessoas com deficiência. Perguntei-lhe por que ele estacionara ali? Ele disfarçou e olhou no relógio me dizendo que era hora de eu ir tomar banho! Eu repliquei: além de não conhecer as leis o senhor é mal- educado? E ele me mandou prá um lugar bem pior e arrancou rapidamente com seu carro.

f ) violência física: toda vez que a acessibilidade não é adequada eu me coloco em risco, gera-se uma situação de violência contra mim, mas tenho uma historinha prá contar: no mesmo supermercado, a vaga ocupada de novo e ainda por cima chovendo. Estacionei então meu carro ao lado do carro da pessoa que ocupava a vaga e aguardei até que ela saísse. Pra minha surpresa, não havia deficiência nenhuma no casal. Perguntei-lhes: por que estacionaram aqui? O motorista não quis
responder e manobrando inadequadamente e com muita raiva, vociferando, bateu no meu carro, quebrando o retrovisor externo e fugiu, sem tempo de chamar polícia.

Sabem o que é o meu pão de cada dia, o que eu necessito? Acessibilidade! Poder ir e vir sem transtorno! Pensem nisso! Não estacionem em lugar reservado, não se omitam ao ver uma cena, lutem por modificações de barreiras arquitetônicas em suas comunidades. Há uma frase que diz: onde passa uma pessoa com deficiência, toda a
população passa atrás com mais qualidade de vida! O que nós precisamos é bom para todos!

Um grande abraço, Pastora Iára – contraí paralisia infantil aos seis meses de vida e caminho com duas bengalas.

6. Líder abre espaço para comentários após a leitura.

7. Líder convida para uma oração. Pode ser livre, onde as pessoas manifestem o que sentem, pode ser conduzida a refletir a inclusão.

Pastora Mestra Iára Muller
Coordena a Pastoral universitária da Faculdades EST

Índice do Caderno de Subsídios da Semana Nacional das Pessoas com Deficiência - 2010


Autor(a): Iára Müller
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Cultura de Convivência
Natureza do Texto: Artigo
ID: 23946

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