Vida Celebrativa - Ano Eclesiástico


ID: 2654

Mateus 13.31-33, 44-52 - 9° Domingo após Pentecostes - 30/07/2023

Auxílio Homilético

30/07/2023

 

Prédica: Mateus 13.31-33, 44-52
Leituras: 1 Reis 3.5-12 e Romanos 8.26-39
Autoria: Eliezer K. Evald
Data Litúrgica: 9° Domingo após Pentecostes 
Data da Pregação: 30/07/2023
Proclamar Libertação - Volume: XLVII

 

A obra de Deus é como...

1. Introdução

Mateus 13 relata sete parábolas contadas por Jesus. As primeiras quatro são proferidas ao povo e aos discípulos; as últimas três, somente aos discípulos. Todas ensinam verdades magnas concernentes ao Reino de Deus. Temos: 1) a Palavra do Reino e como ela é recebida (o semeador: v. 3-9); 2) o desenvolvimento e o crescimento do Reino (exterior: a semente de mostarda: v. 31-32; interior: o fermento: v. 33); 3) a preciosidade do Reino (o tesouro escondido: v. 44 e a pérola de grande valor: v. 45-46); 4) o caráter heterogêneo e a consumação futura em pureza e esplendor do Reino (o joio: v. 24-30; a rede: v. 47-50); e 5) aplicação final (coisas novas e velhas: v. 51-52).

Por que Jesus fala por meio de parábolas e quais as vantagens didáticas desse método de ensino usado por Jesus? A parábola converte uma verdade abstrata em algo concreto. Converte uma “verdade” em imagem visível e compreensível. Ela começa por aquilo que está perto, por aquilo que já é conhecido. A parábola começa pelo “aqui e agora” e conduz para “lá e então.” Começa na superfície e conduz à profundeza. Conduz do ponto onde “se está” para onde se “deve/deveria estar”. Ela desperta o interesse. Torna-se uma história terrestre com um significado divino. A parábola cumpre sua função em permitir e fazer com que quem ouve descubra a “verdade” por si mesmo. Ela não pensa por seu/sua ouvinte. Ela diz: tenho uma história a respeito de algo. Qual é a verdade? O que ela significa? Encontre você mesmo.

2.Observações exegéticas

O texto de pregação contém cinco parábolas contadas por Jesus Cristo e uma aplicação final. O cenário é o mar da Galileia. O público são seus discípulos e a multidão.

2.1 O desenvolvimento e o crescimento do Reino

A parábola do grão de mostarda e a do fermento formam um par. Ambas têm seu foco no desenvolvimento e crescimento do Reino de Deus. A primeira refere-se ao crescimento exterior do Reino dos céus e a outra se refere ao crescimento interior desse Reino.

Mostarda (v. 31-32): a planta de mostarda encontrada na Palestina é diferente daquela que nós conhecemos. Na verdade, a semente de mostarda não é a menor das sementes. A semente do cipreste, por exemplo, é menor. Mas a pequenez da semente de mostarda era algo proverbial. Jesus, em Mateus 17.20, falou nesse sentido quando comparou a fé a um grão de mostarda. Segundo Hendriksen:

A literatura rabínica tomou conhecimento do tamanho que às vezes essa “árvore” atinge mais de três metros, e às vezes chega aos cinco metros. No outono, quando seus ramos se tornam rígidos, as aves de variadas espécies encontram aí um refúgio das tempestades, se refazem do cansaço e se escondem do calor do sol; em todo sentido, um maravilhoso local para acampar-se! “Em sua manifestação exterior, o reino do céu na terra é assim”, diz Jesus. Aparentemente é insignificante em seu início; desse modesto início, porém, virão grandes resultados (Hendriksen, 2000, p. 90).

Fermento (v. 33): Esta parábola gira em volta de um elemento, qual seja, o poder transformador da levedura. A levedura era uma pequena parte de massa que se guardou da última fornada; ao guardá-la, tinha fermentado, e a levedura não era mais que uma parte de massa em fermentação. A “medida” aqui indicada, conforme Hendriksen, não é idêntico em capacidade em todos os lugares. Comumente, uma “medida” equivale em média a cerca de 13 litros. O pensamento judeu relacionava a fermentação com a corrupção e a podridão, e a levedura representava o mal (Mt 16.6; 1Co 5.6-8). Jesus faz uso dessa imagem para falar de transformação e não de podridão.

2.2 A preciosidade do Reino

A exemplo das parábolas anteriores, a leitura e interpretação da parábola do tesouro escondido e da pérola também formam um par. Ambas focam no valor imensurável do Reino de Deus e na renúncia requerida.

Tesouro escondido (v. 44): Embora nos pareça estranha e incomum, na época de Jesus era comum a prática de enterrar tesouros. A terra parecia o lugar mais seguro para guardar os tesouros mais apreciados. Jesus, em Mateus 25.25, contou sobre o servo inútil que escondeu seu talento na terra. Apesar da Palestina estar sob a dominação dos romanos e de sua lei, a lei rabínica regia as coisas de ordem comum. E ela dizia que coisas encontradas pertenciam a quem as encontrasse.

Pérola (v. 45-46): A pérola, em tempos antigos, era tida em alta estima (Jó 28.15-19; Pv 3.13,15). As pérolas, comumente adquiridas do golfo Pérsico ou do oceano Índico, possuíam um valor alto. Conforme Hendriksen, “somente os ricos podiam adquiri-las. Diz-se que Lollia Paulina, esposa do imperador Calígula, tinha pérolas reluzindo em toda a sua cabeça, cabelos, orelhas, pescoço e dedos!” (Hendriksen, 2000, p. 106). Jesus fala de um atacadista que sai em busca de algo melhor. E sua busca é bem-sucedida. Ele encontra e compra, ainda que, para comprá-la, tenha de vender “tudo o que possui”.

Essas duas parábolas têm por desígnio falar do alto valor e do caráter oculto  da propriedade celestial. O tesouro no campo foi achado por acaso; a pérola, após insistente procura. Ambos os descobridores obtiveram a dádiva valiosa, que estivera oculta, exclusivamente por meio da graça de Deus.

2.3 O caráter heterogêneo e a consumação futura em pureza e esplendor do Reino

A exemplo das parábolas anteriores, a leitura e interpretação da parábola da rede e do joio também formam um par. Ambas focam no caráter heterogêneo e a consumação futura em pureza e da grandeza do Reino de Deus e a necessidade de deixar o “julgamento e a separação” para Deus, como justo e único juiz.

Rede (v. 47-50): Na Palestina havia duas formas principais de pescar. Uma era jogar uma rede – o que aqui chamamos de “tarrafa”. A segunda forma de pescar era com a rede arrastada por barcos – e é sobre essa que nosso texto está falando. Os que ouviram Jesus narrar esta parábola (alguns dos quais eram pescadores) estavam, naturalmente, muito bem familiarizados com o costume de estender uma rede para apanhar peixes de grande variedade. Esses homens arrastavam as redes para a praia e então selecionavam os peixes. Os comestíveis e os comerciáveis eram colocados em baldes e/ou barris e os demais eram descartados. Os peixes em grande variedade, bons e ruins, são apanhados na rede e não se permitiu que fossem divididos em duas categorias até que a rede fosse arrastada para a praia.

2.4 Aplicação final

Entendestes todas estas coisas?(v. 51): Fazendo uso de uma pergunta, Jesus dá aos discípulos a oportunidade de pedir mais informações sobre o Reino. A resposta positiva dos discípulos sugere que sua compreensão havia se aprofundado. A lição que Jesus aqui ensina pode aplicar-se a todos os obreiros e obreiras do Reino de Deus. O verdadeiro “escriba” está totalmente familiarizado com o que é antigo e se fundamenta sobre ele. Em outras palavras, podemos dizer que um “escriba” aproxima-se com toda uma vida dedicada ao estudo da lei e todos seus mandamentos. No entanto, pela narrativa de Jesus e seu ensinamento, “coisas novas” são experimentadas. O conhecimento tido até então é esclarecido e iluminado pelo que Jesus revelou.

3. Meditação

Como chegar ao final da pregação e ter a coragem de perguntar aos ouvintes o que Jesus perguntou aos discípulos: Entendestes todas estas coisas? É quase como montar um quebra-cabeça de mil peças sem a “tampa da caixa”. Mas vamos lá. Teclo pistas, conecto ideias, tento encaixar as peças desse quebra-cabeça do Reino dos Céus.

A parábola do grão de mostarda nos traz a imagem de “um homem, um campo e uma semente”. Já a parábola do fermento nos traz a imagem de “uma mulher, três medidas de farinha e uma porção de fermento”. Vejamos algumas verdades: O reino de Deus começou de forma humilde, pequeno e insignificante. Coisas grandiosas começam a partir das coisas mais pequenas, por exemplo, a ideia de que uma pessoa pode mudar um bairro, uma cidade, um estado, uma nação e até o mundo. Veja a atitude de pessoas como Lutero, Martin Luther King, Madre Teresa. O pouco, o pequeno, o fraco, o humilde pode ser muito, se Deus estiver agindo nele e através dele. Grandes rios surgem em pequenas nascentes. Grandes resultados desenvolvem-se de pequenos começos. Ambas as parábolas afirmam que o que está oculto hoje, mesmo que invisível, será revelado “amanhã”. O Reino de Deus é como tal semente e como tal fermento: um agente (homem e mulher); um meio (campo ou farinha) e um conteúdo – Evangelho (mostarda ou fermento). Em seu tamanho atual e sua aparente insignificância, Jesus nos lembra que o Reino dos Céus começa do mais pequeno dos começos, mas, no final, muitas nações se reunirão nele. O contraste entre a insignificância da semente e do fermento e a grandeza da árvore e a proporção do pão levedado mostra o contraste entre o início e o fim, a pequenez inicial e a grandeza final. “Um homem. Uma mulher. Uma semente. Uma levedura. Um campo. Uma quantidade de farinha.” Deus usa tudo para sua glória e para edificação do nosso próximo. É pela influência do evangelho que as grandes causas sociais foram e continuam sendo promovidas: a valorização das crianças e das mulheres e dos idosos; o alívio à pobreza.

O Reino dos Céus é a única realidade duradoura. O seu valor é incalculável. Tanto a parábola do tesouro escondido como a parábola da pérola de grande valor expressam essa verdade magna. Ambas afirmam que o Reino dos Céus, ou seja, o alegre reconhecimento do governo de Deus na vida em todas as suas esferas, é tão inestimavelmente precioso que aquele que o obtém se predispõe a entregar tudo por ele. O homem que encontrou o tesouro tropeçou nele meio sem querer. Mas o fez enquanto ocupava-se com seus afazeres. Aqui vale lembrar o que aconteceu com o apóstolo Paulo, que se deparou com esse tesouro (Jesus Cristo) de maneira inesperada enquanto trabalhava (At 9.1-19). E tudo mudou. Como ele mesmo escreveu: Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para conseguir Cristo e ser achado nele (Fp 3.8-9a). A história da mulher samaritana, contada por João, é também um exemplo de pessoas que “acharam” sem antes terem procurado. A pérola, ao contrário, foi encontrada somente após uma esforçada busca. O apóstolo Paulo nos ajuda quando declara que as coisas que para mim eram ganhos, eu as considerei como perda por causa se Cristo. Eu considero que tudo é perda em comparação com este bem supremo que é o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por causa dele, perdi tudo (Fp 3.7s). A desistência de tudo para ganhar a Cristo e a vida eterna – o maior tesouro – é o ponto em comum. “Aquilo”, “quem” “qual”, “o quê”, precisa ser abandonado é diferente para cada um? Coisas. Vínculos exteriores. Vínculos interiores. Do que é preciso abrir mão por causa do Reino vindouro? Persuadidos pelo Evangelho de Jesus Cristo, é preciso abandonar, desprender-se daquilo que nos prende aqui e nos afasta de Deus.

A ordem bíblica é: sejam minhas testemunhas [...] até os confins da terra (At 1.8). Também em Marcos 16.15 é dito: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. A parábola da rede, bom como a do joio e do trigo, assinala de forma enfática: o imperativo é testemunhar a todos e todas. É “arrastar a rede”, “pescar gente” sem fazer distinção ou separação. Isso caberá a Deus e aos seus anjos (v. 50). Deus aceita todos e todas – a humanidade criada é heterogênea. No entanto, Deus não aceita tudo. Do contrário, Jesus teria morrido em vão. Precisaríamos mudar nosso Credo que diz que Jesus “virá para julgar os vivos e os mortos”. À igreja cabe o imperativo de testemunhar, não o de julgar e separar. Isso, podemos ficar tranquilos: Deus fará justamente.

A tradução da Bíblia em Linguagem Contemporânea por Eugene Peterson assim transcreve os últimos versículos (51-52): Jesus perguntou: “Vocês estão entendendo?” Responderam eles: “sim”. Ele acrescentou: “Então vocês já devem ter notado que o aluno bem instruído no Reino de Deus é como o proprietário de uma loja, que tira da prateleira o que necessita, o novo e o usado, no momento em que precisa”. Toda pessoa que se aproxima de Jesus tem algum dom, alguma capacidade. Toda experiência e todo conhecimento, seja novo ou antigo, são matérias-primas nas mãos de Jesus. Simplesmente precisamos estar aos pés de Jesus, ou seja, próximos de sua Palavra – Antigo Testamento e o Novo Testamento. E assim, fazer com que o mundo conheça Cristo e entenda todas as coisas concernentes ao Reino de Deus.

4. Imagens para a prédica

Proponho fazer uso de um quebra-cabeça: 1) em mãos, ter duas ou três peças diferentes; 2) de maneira simples falar sobre a atividade de montar um quebra-cabeça; 3) inicia-se pelas bordas; 4) sempre se olha a tampa da caixa onde está a impressão da figura que se está montando. Aplicação: a vida é como um grande quebra-cabeça. Todos os dias nos é dada, pela graça e misericórdia de Deus, uma peça. Alguns aqui já têm mais peças montadas que outros. Agora, diferente de montarmos o brinquedo, em que espiamos a imagem estampada na tampa da caixa, na vida, ao montarmos dia após dia nosso quebra-cabeça, não nos é dada a possibilidade de olhar a “tampa da caixa”. Só Deus a tem. Essa bela imagem que Deus nos permite montar, em meio às nossas lutas diárias, “montamos” pela fé, alicerçados em sua Palavra, em comunhão. Nenhuma peça pode ser descartada. O Reino está crescendo. Ao término de tudo, na consumação dos séculos, veremos plenamente o desenho da “caixa”.

Esquema para a prédica:

1) O crescimento do Reino:
a) exterior – mostarda (31-32)
b) interior – fermento (33)

2) A preciosidade do Reino:
a) Tesouro escondido (44)
b) Pérola (45-46)

3) A heterogeneidade da humanidade e o Reino:
a) A diversidade do todo (47-48a)
b) A grande separação (48b-50)

4) A responsabilidade do discípulo e da discípula
a) Como aluno, aluna (50)
b) Como mestre (51)

Bibliografia

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2000.
LADD, George Eldon. O Evangelho do Reino. Estudos bíblicos sobre o Reino de Deus. São Paulo: Shedd Publicações, 2008.
RIENECKER, Fritz. O Evangelho de Mateus. Curitiba: Evangélica Esperança, 1998. (Comentário Esperança).


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Autor(a): Eliezer K. Evald
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Tempo Comum
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 9º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 31 / Versículo Final: 52
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2022 / Volume: 47
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 69510

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