Vida Celebrativa - Ano Eclesiástico


ID: 2654

Jeremias 20.7-13 - 4° Domingo após Pentecostes - 25/06/2023

Auxílio Homilético

25/06/2023

 

Prédica: Jeremias 20.7-13
Leituras: Mateus 10.24-39 e Romanos 6.1b-11
Autoria: Marivete Zanoni Kunz
Data Litúrgica: 4° Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 25/06/2023
Proclamar Libertação - Volume: XLVII

Lutas

1. Introdução

A vida de quem serve ao Senhor não está livre de desafios e conflitos pessoais. Jeremias viveu isso, a tal ponto que foi colocado no cepo por Pasur, o principal oficiante do templo, filho de Imer, o sacerdote. Num momento de muita dor, possivelmente enquanto ainda estava no cepo, Jeremias se queixou a Deus, dizendo que se sentiu seduzido ou até enganado. Ele foi chamado para ser profeta e de certa forma não resistiu ao chamado, mas agora as suas palavras não tinham autoridade e ele era zombado devido à sua mensagem. Mas o próprio Cristo afirma que não é necessário temer pelas coisas e sofrimentos físicos, pois o Senhor conhece tudo em detalhe, até os fios de cabelo de cada indivíduo.

Mesmo diante dos sofrimentos é importante lembrar que não podemos negar a Cristo, pois aquele que assim o fizer será por ele negado diante de Deus. Além disso, o próprio Cristo afirma que veio não para trazer paz, mas espada, claro que isso devido à oposição que o evangelho criava (Mt 10.24-39). Aquele que serve e tem experiência profunda com o Deus a quem serve, certamente, sente-se como Jeremias: mesmo diante do sofrimento, não pode ficar calado, pois as palavras de Deus ardem de forma intensa no coração. No caso de Jeremias, ele retomou sua confiança, por alguma razão que não está clara no texto, pois ele diz, nos v. 11 a 13, que o Senhor é um forte guerreiro e que a vitória está garantida.

2. Exegese

Os fatos descritos em Jeremias 18 – 20 ocorreram durante o reinado de Jeoaquim (607-597 a. C.). Isso significa que as profecias de Jeremias se cumpriram logo após, pois, em 605 a. C., Nabucodonosor saqueou o templo e levou Jeoaquim e os nobres para a Babilônia.

V. 7 – A expressão persuadir utilizada neste versículo é proveniente do verbo hebraico pātâ. Esse verbo pode ser traduzido por seduzir, enganar ou persuadir. Nesse versículo, esse verbo também pode ter o sentido de atrair. Wiersbe afirma que, embora saibamos que Deus não mente (Tt 1.2), Jeremias sentiu como se Deus estivesse “se aproveitado” dele, no sentido de aceitar o ministério. Ele se sentiu enganado. A linguagem é forte, mas foi numa conversa particular com Deus, não foi algo que ele tenha reclamado para outros indivíduos.

Golgberg afirma que “Jeremias, nas profundezas de seu desespero, quando seu ministério parecia tão infrutífero, queixou-se de que Deus o enganara. O Senhor foi gracioso com ele (da mesma forma como é com todos que o servem), pois Jeremias não pôde escapar ao comissionamento (20.7-9)” (Golgberg, 1998, p. 1.249).

Ainda no v. 7, a expressão escárnio ou opróbrio evidencia que o período em que o profeta trouxe sua mensagem foi numa época na qual se esperava que a profecia, ao ser anunciada, logo se cumprisse, caso contrário seria considerada falsa. No caso de Jeremias, como as profecias dele estavam demorando para se cumprir, o povo passou a rir dele quando ele trazia alguma mensagem sobre o futuro.

A expressão utilizada no hebraico para escárnio, tsehōq, evidencia situações diversas em que algo ou alguém se tornou motivo de riso, como, por exemplo, Judá, com a sua queda (Ez 23.32; Lm 3.14), bem como Moabe (Jr 48.26, 39) ou também Jó (12.4).

V. 8 – Em hebraico, a expressão hāmās é a palavra para violência. Esse substantivo e verbo são utilizados cerca de setenta vezes no hebraico, sendo que a maioria dos tradutores faz uso da ideia de violência quase sempre indicando violência pecaminosa, ou seja, essa expressão não é utilizada no texto bíblico para referir-se à violência relacionada com catástrofes naturais. O uso dessa palavra ocorre como sinônimo de extrema impiedade, maldade e crueldade (Harris, 1998, p. 485). Os termos violência e destruição que aparecem nesse versículo resultaram em risos dos ouvintes e são destaques na mensagem do profeta.

V. 9 – Ao final deste versículo, o profeta afirma estar fatigado ou cansado. O termo hebraico utilizado neste caso é lā`â. No hebraico, lā`â diz respeito tanto à fadiga física quanto psicológica.

É uma palavra empregada em figuras poéticas baseadas em ambos os sentidos. Este termo é utilizado no livro de Jó (Jó 4.2, 5) para falar de desânimo e aborrecimento. Quando aparece como expressão idiomática, auxilia para mostrar que há um excesso questionável daquilo que está resultando o cansaço. Em alguns momentos até Deus fica cansado de ter compaixão (Jr 15.6) (Bowling, 1998, p. 762).

V. 10 – O termo terror utilizado neste versículo é proveniente da expressão hebraica māgôr, que na sua raiz traz o sentido de estar intimidado diante de um ser ou coisa mais forte ou superior. Mostra o medo que alguém tem de homens, animais ou do próprio Deus, ou o sentido de extremo pavor. Em Jeremias, a frase māgôr missābîb, que significa terror por todos os lados, é muito conhecida (Harold, 1998, p. 257). Já o verbo denunciar, que no hebraico é proveniente da raiz nāgad, aparece duas vezes neste versículo e “tem o sentido de ‘colocar algo de forma ostensiva diante de alguém’”, para que fique bem visível. Normalmente era algo desconhecido anteriormente. Quando o verbo nāgad aparece com o paralelo sinônimo shama´, torna-se ainda mais claro.

Esse verbo é utilizado com relação tanto ao que Deus como quanto ao que o ser humano revela (Stigers, 1998, p. 914).

V. 11 – Neste versículo, o profeta afirma que Deus é um poderoso guerreiro, o que evidencia o seu reconhecimento quanto ao agir de Deus junto dele.

V. 13 – A palavra alma, neste versículo, também possui os sentidos de mente, vida, pessoa. Também pode acontecer em alguns idiomas que parte do corpo ou órgãos assumam tal sentido. No caso do português e do hebraico, o coração pode assumir o sentido de alma. O termo que aparece no texto bíblico hebraico é nephesh, e esse por vezes tem o sentido contraditório de morto (Bruce, 1998, p. 984).

3. Meditação: O servo de Deus diante das lutas

O texto de pregação fala da experiência de alguém que foi chamado pelo Senhor para realizar uma missão específica. Jeremias foi chamado e sentiu-se atraído por esse chamado, de forma a não poder dizer não. Jeremias vivenciou dura realidade porque Pasur, filho de lmer, assistente do sumo sacerdote e chefe da segurança do Templo, não se agradou daquilo que ele estava proclamando. Por isso mandou prendê-lo e espancá-lo, além de colocá-lo no tronco. Esse tronco era um lugar visível no espaço do Templo. Quem ali era exposto passava por momentos de vergonha e dor. Diante disso, fica o questionamento de como deve agir o servo de Deus diante das lutas. Neste sentido, o profeta Jeremias deixa algumas lições que seguem abaixo.

Busca o Senhor de todo o coração

A primeira lição diz respeito a colocar-se diante de Deus com o coração aberto, realmente falando o que se sente. Jeremias fez isso ao afirmar que estava se sentido seduzido ou enganado (v. 7). Mas é importante lembrar que Deus foi muito claro com Jeremias desde o seu chamado (Jr 1), quando lhe falou sobre as dificuldades de seu ministério. Entretanto, Deus também pediu que o profeta confiasse nele, porque ele faria de Jeremias como que uma cidade fortificada e um muro de bronze diante de seus inimigos.

Após um momento sincero e difícil diante de Deus, no qual abrimos nosso coração, choramos, reclamamos e verdadeiramente mostramos como nos sentimos, talvez Deus vai tirar o ardor de nosso coração e nós, como servos, não queiramos mais dar continuidade àquilo que nos foi solicitado. Mas isso por vezes é um grande engano. Essa foi a experiência de Jeremias. Após Jeremias abrir seu coração a Deus, ele afirmou que a mensagem ardia em seu coração como fogo ardente e estava encerrada em seus ossos. Portanto não poderia deixar de proclamar. Então vem a pergunta: o que gera a obediência dos servos de Deus diante das lutas? A resposta é: assim como Jeremias diante dos desafios e lutas obedeceu, se formos obedientes ao Senhor, continuaremos a missão e enfrentaremos os desafios com a certeza que o Senhor estará ao nosso lado.

Enfrenta os desafios com sinceridade

A segunda lição deixada pelo profeta diz respeito a enfrentar os desafios com sinceridade. Muitos foram os sofrimentos enfrentados pelo profeta Jeremias. O texto mostra que o profeta foi espancado e colocado no tronco. Outros textos mostram que ele foi submetido a outros sofrimentos e perseguições, tais como ameaça de morte por acusações falsas (Jr 26), prisão (Jr 37.11-21) e reclusão numa cisterna (Jr 38.1-13). Até que foi libertado pelo rei da Babilônia, Nabucodonosor (Jr 39.11-18).

Os v. 9 e 10 mostram que o profeta tinha medo. Ele também afirma estar cansado e fatigado. Mas, ainda assim, permaneceu firme, cumprindo sua missão. As dificuldades não precisam ser ignoradas, mas enfrentadas com sinceridade e com a ajuda de Deus, para que a solução seja encontrada. O profeta chegou diante de Deus, abriu seu coração e tornou-se ainda mais forte em meio aos desafios, por isso permaneceu pregando a mensagem.

Como dito, os fatos descritos em Jeremias 18 – 20 possivelmente ocorreram durante o reinado de Jeoaquim (607-597 a. C.). Isso significa que as profecias de Jeremias se cumpriram logo após, pois, em 605 a. C., Nabucodonosor saqueou o templo e levou Jeoaquim e os nobres para a Babilônia. Neste sentido, ainda que Jeremias tenha passado todo o sofrimento já descrito, o Senhor concedeu-lhe a alegria de ver o cumprimento de suas palavras. Desta forma Deus foi honrado, mas também o profeta.

Duras foram as lutas de Jeremias na função de profeta. Mas ele mostrou que servir ao Senhor faz com que sejamos mais fortes, independente do ministério que se exerce, pois podemos ser servos em qualquer lugar ou função. Diante das lutas, o servo de Deus precisa buscar o Senhor de todo o coração e enfrentar os desafios com sinceridade. Obedecer em meio às lutas nos torna mais fortes e assim temos vitórias diante de coisas que jamais imaginamos.

O capítulo 20 do livro de Jeremias e os versículos lidos registram o último lamento do profeta. Esse lamento revela muitas coisas que o profeta sentia, como angústia, desespero, e também louvor. Ele, como servo fiel e sensível à voz do seu Deus, experimentou o desespero no vale de sofrimento, mas também a alegria de saber que foi fiel e obediente à vontade de Deus. Jeremias, apesar de seus sentimentos, foi honesto com o que sentia. E desta forma teve sabedoria para agir corretamente diante do chamado que recebeu, bem como dos perigos e desesperos enfrentados.

4. Imagens para a prédica

Lutas desta vida: Eis que estou convosco

Um incidente ocorrido no campo de batalha mostrou a coragem e a simpatia do rei Vitório Emanuel III, da Itália. Em meio ao fogo da artilharia, um tenente, que caiu mortalmente ferido, gritou a um soldado e entregou-lhe uma bolsa, para que ele a entregasse à sua família. A seguir, ordenou-lhe que fugisse. Contudo, o soldado tentou carregar o oficial para um lugar a salvo. Alguns artilheiros gritaram-lhe: Salva-te! Salva-te!. Ele, porém, não abandonou o superior. Ouvia, à distância, o motor do carro do rei que se afastava do campo. O jovem esforçava-se ao máximo para levar o corpo do oficial, quando este, não resistindo aos ferimentos, faleceu. O soldado, então, amargurado, lamentou: Até o rei fugiu! Nesse momento, uma mão firme tocou-lhe no ombro. Ele se voltou e, surpreso, reconheceu o rei, que o confortou, dizendo: Meu caro rapaz, o carro se foi, mas o rei ainda está contigo! E ficaram juntos até o fim do dia!

Bibliografia

BLANCHARD, John. Pérolas para vida: Pensamentos para sermões e palestras. São Paulo: Vida Nova, 1993.
HARRIS, R. L.; ARCHER, Jr., G. L.; WALTKE, B. K. Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento. Tradução de Márcio Loureiro Redondo e Luiz Alberto T. Sayão. São Paulo: Vida Nova, 1998.


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Autor(a): Marivete Zanoni Kunz
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Tempo Comum
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 4º Domingo após Pentecostes
Testamento: Antigo / Livro: Jeremias / Capitulo: 20 / Versículo Inicial: 7 / Versículo Final: 13
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2022 / Volume: 47
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 69505

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