Por tradição ou de coração?

14/08/2021

 

Alguma vez você já se perguntou a razão de ser “luterano”? Existem inúmeras respostas. De repente, você diz: Minha família é. Eu também sou. É a religião dos meus antepassados. Assim fui criado, assim também procuro criar a minha família. De repente você tem uma história diferente. Você pode ter entrado na igreja pelo casamento ou pela amizade com alguém. Outros ainda, consciente resolveram mudar de comunidade e escolheram a “luterana” por ser uma igreja moderada, acolhedora e acessível. Mas, de fato, precisamos reconhecer que a principal característica da fé luterana é afirmação constante da “graça” de Deus. Ele é quem faz. Eu somente me coloco sob seus cuidados. Agora, dou um passo adiante perguntando algo ainda mais importante...

Alguma vez você já se perguntou a razão de ser “cristão”? Vivemos num país com liberdade de culto, onde a maioria – no censo – se diz “cristã”. Mas, existem pessoas que não dão atenção à religião. De fato, ou são os ateus, ou relaxados. São opções. Outros seguem religiões diferentes. Não devo e não preciso julgar. Há pessoas que seguem seitas. Se não promovem à vida ou se levam ao fanatismo devemos e podemos condenar, pois não buscam uma sociedade melhor. Mas, volto à questão: Se alguém te perguntar sobre a diferença de ser ou não cristão, o que responder? Precisamos testemunhar nossa fé, contado o que Jesus já fez em nossa vida. Ainda, se possível, deixando claro que ele conduz à salvação. Não desmereço às demais religiões e opiniões, contudo devo afirmar a minha fé em Jesus.

Existem pessoas que são tradicionalmente “luteranas” e “ cristãs”. O desafio apresentado pelo evangelista é que a prática da fé parta, não só da “tradição”, mas que venha principalmente do “coração” com uma constante “reflexão”. Recém ouvimos que, após a viagem pelo Mar da Galileia, o barco aportou em Genesaré (Marcos 6.53-56), onde Jesus foi acolhido pelo povo e ajudou inúmeras pessoas. Ele pregou e curou até que, diante dele, se colocaram os fariseus e os escribas, questionam a “nova” fé que Jesus promove. Infelizmente, eles não compreendiam e muito menos aceitavam a mudança proclamada por Cristo. Ocorreu, então, o seguinte diálogo entre Jesus e a liderança judaica...

VINDOS DE JERUSALÉM, OS FARISEUS E ALGUNS DOS MESTRES DA LEI REUNIRAM-SE A JESUS. ELES VIRAM ALGUNS DOS SEUS DISCÍPULOS COMEREM SEM ANTES LAVAR AS MÃOS. OS JUDEUS NÃO COMEM SEM LAVAR AS MÃOS CERIMONIALMENTE. QUANDO CHEGAM DA RUA, NÃO COMEM SEM ANTES SE LAVAREM. ELES OBSERVAM MUITAS OUTRAS TRADIÇÕES. ENTÃO, PERGUNTARAM A JESUS: OS SEUS DISCÍPULOS NÃO VIVEM DE ACORDO COM A TRADIÇÃO? O MESTRE RESPONDEU: O SENHOR JÁ DECLAROU A RESPEITO DE VOCÊS POR INTERMÉDIO DE ISAÍAS QUANDO DISSE QUE O POVO ME HONRA COM OS LÁBIOS. MAS, O SEU CORAÇÃO ESTÁ LONGE DE MIM. EM VÃO ME ADORAM. SEUS ENSINAMENTOS NÃO PASSAM DE REGRAS HUMANAS, POIS NEGLIGENCIAM OS MANDAMENTOS DE DEUS E SE APEGAM ÀS TRADIÇÕES DOS HOMENS. JESUS CONTINUOU: VOCÊS ESTÃO SEMPRE ENCONTRANDO UMA BOA MANEIRA DE PÔR DE LADO OS MANDAMENTOS DE DEUS, A FIM DE OBEDECEREM ÀS SUAS TRADIÇÕES. TAMBÉM, MOISÉS DISSE: HONRA TEU PAI E TUA MÃE! MAS, VOCÊS AFIRMAM QUE, SE ALGUÉM DISSER A SEU PAI OU A SUA MÃE: QUALQUER AJUDA QUE VOCÊS PODERIAM RECEBER DE MIM É CORBÃ, QUE É UMA OFERTA DEDICADA A DEUS. VOCÊS PENSAM QUE ISSO OS DESOBRIGA DE QUALQUER DEVER PARA COM SEU PAI OU SUA MÃE? DE FATO, POR MEIO DA TRADIÇÃO, VOCÊS ANULAM A PALAVRA DE DEUS (MARCOS 7.1-13).

Inicialmente, destaco algumas informações necessárias à compreensão do relato bíblico. O questionamento às atitudes de Jesus partiu de Jerusalém, da capital religiosa. Os “manda-chuvas” estavam preocupados com o novo jeito de viver a fé ensinado por Jesus. Eles enviam uma equipe para sondar ou questionar o Mestre. Se existe uma tradição, porque os teus discípulos não seguem? Indiretamente, perguntam: Que tipo de educação você recebeu? O que você está passando aos teus seguidores? O que está em jogo não é uma simples questão higiênica sobre lavar as mãos. Os ritos de “lavação” precisam ser observados. Mas, Jesus não dá a mínima atenção. Há um conflito de opiniões e interesses.

Não podemos esquecer que Jesus é um Mestre. Ele não é um rebelde, muito menos um inventor de modas. Ele não está criando uma nova religião. Ele está simplesmente colocando a fé nos parâmetros corretos. Com o passar do tempo, a fé autêntica perdeu-se no meio dos ritos criados pelas pessoas, onde a preocupação já não estava mais na doutrina correta. Mas, somente na prática dos ritos. Como Mestre, Jesus tem fundamentos. Não diz só a sua opinião. Ele lembra o que dizem os profetas e patriarcas. Ele cita Isaías e Moisés. Para corrigir o errado e para evitar outros abusos é necessário conhecer a Palavra de Deus, por isso estude a Bíblia, medite e participe mais e mais.

Por outro lado, convém destacar que hoje vivemos tempos onde todos dizem o que querem e, mesmo na igreja, surgem modas e mais modas. As antigas tradições são abandonadas e novas doutrinas apontam. Então, precisamos ter duplo cuidado, sabendo o que foi ensinado pelos antigos e, ao mesmo tempo, sem deixar-se iludir pelas filosofas e ideologias modernas. Por isso, sempre de novo é preciso conhecimento, tanto da Palavra, quanto da doutrina da igreja. Caso contrário, somos carregados pelo vento qual folha seca.

É evidente que Jesus não questiona a questão da higiene de lavar as mãos. Se estivesse presente hoje no culto, ele passaria álcool nas mãos, usaria máscara e manteria o distanciamento. Ele cooperaria no combate ao Covid. Ele tomaria a vacina. O que Jesus questiona é o rito pelo rito. Adianta lavar as mãos e ter o coração encardido? Adiante manter o distanciamento e a higienização se não tenho amor aos meus irmãos? A lei existe e deve ser observada. Todavia, seria bem melhor que base da lei ou do rito ou do bom costume partisse do amor. Jesus cita um exemplo prático ao lembrar o Corbã.

Jesus não acusa. Apenas, exemplifica. Se você alcançar uma oferta aos “velhinhos” desamparados faz bem. É caridade. Mas, se faz isso, deixando de cuidar dos próprios pais há alguma coisa errada. Você agir por obrigação ou por mera demonstração sem de fato colocar o coração e exercitar no dia a dia não funciona. É apenas rito e falta compaixão. Jesus cutuca na ferida dos fariseus que valorizavam em demasia a prática da lei sem amar a Deus acima de tudo e ao semelhante com a si mesmo.

Eu poderia apontar inúmeras situações atuais sobre a questão: Obrigação ou dedicação? Vou apenas apontar uma: Contribuição! Ainda existe o costume de dizer: Eu vou pagar a igreja! Segundo a tradição, é necessário dar dinheiro à comunidade para manter o atendimento e ter um sepultamento digno. Ou seja, com meu pagamento, a diretoria honra suas obrigações tributárias e impostos, os salários, a manutenção do patrimônio e as despesas gerais (seguro, água, luz). É bom e necessário que aconteça assim. Mas, segundo Jesus, não basta tal compreensão. Quando entrego meu “dízimo” a Deus, estou agradecendo pelo que recebi e, ao mesmo tempo, estou investimento na proclamação do Reino de Deus. Ou seja, aquilo que deixo no altar vai ajudar não só a manter o que está aí. Mas, principalmente, ampliar e promover o nome de Jesus.

É bem diferente fazer por fazer, por rito ou tradição do que compreender, colocando a razão e o coração. O desafio de Jesus aos escribas continua muito atual. Precisamos ir além do costume, fazendo com que a nossa vida seja uma constante adoração a Deus. Por isso, concluo este momento de reflexão com um desafio simples e preciso. Em culto, recebemos a Palavra e a bênção de Deus. Ele nos serve. Ao sairmos do templo, não vamos sozinho. Ele nos acompanha. Que cada pensamento e atitude tomada fora destas quatro paredes sejam expressões da nossa fé e adoração ao Senhor. Como luteranos, temos muito a contribuir em nossa sociedade, como uma Teologia equilibrada e baseada na “graça” de Deus, mantendo sempre uma vida equilibrada. Como cristãos, apontamos à importância da religião e ao respeito ao outro, tendo como base o amor de Deus revelado em Jesus Cristo. Amém!
 


Autor(a): P. Euclécio Schieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense / Paróquia: Garuva-SC (Martinho Lutero)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 7 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 13
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 63972
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Toda obra que não tenha por objetivo servir aos demais não é uma boa obra cristã.
Martim Lutero
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