O seguimento a Jesus exige escolhas de nós.

Prédica

08/10/2021

Marcos 10.17-31
Salvação somente pela graça de Deus.

O Evangelho de Marcos nos diz que um homem rico (um jovem rico) vem correndo em direção a Jesus. A sua angústia fica ainda mais evidente quando ele se ajoelha diante de Jesus e pergunta: Bom mestre, o que devo fazer para conseguir a vida eterna?

Jesus lembra ao homem que a lei judaica manda cumprir os mandamentos. Não somente os 10 mandamentos, mas também as mais de 600 prescrições que derivam dos 10 mandamentos. Para um fariseu ou escriba, os mandamentos mais importantes são aqueles que se referem a Deus, mas Jesus cita aqui os mandamentos que se referem as pessoas. Não mate, não cometa adultério, não roube, não dê falso testemunho contra ninguém, não tire nada dos outros e respeite o seu pai e a sua mãe (v. 19).

O homem responde com simplicidade: Sim, Senhor, eu tenho observado isso desde a minha infância.

Ao mencionar esses mandamentos, Jesus quis dizer que a verdadeira religiosidade – a qualidade de nossa fé - se manifesta na maneira como nós vivemos e tratamos as outras pessoas.

Portanto, aquele homem tinha as duas coisas fundamentais que muita gente deseja ter na própria vida: ser muito rico e ter a consciência tranquila. Aquele homem tinha uma vida próspera e feliz. Mas ele queria algo mais – ele queria ter também uma vida próspera e feliz depois dessa vida.
Então, disse Jesus, falta somente uma coisa. Vender tudo o que tinha e dar o dinheiro aos pobres e seguir a Jesus. Ao dizer isso, Jesus enfatiza que para segui-lo é necessário estar disposto a se desapegar das coisas dessa vida. Ai a cabeça daquele homem entrou em parafuso.
Para ele as suas conquistas eram uma prova – uma recompensa – por sua dedicação a Deus. Os bens que ele tinha eram uma prova de que ele era uma pessoa boa que havia sido abençoada por Deus.

Mas Jesus pede que ele renuncie as suas conquistas e depois seja um dos seus seguidores. No entanto, aquele homem não estava interessado em fazer parte do grupo de seguidores de Jesus. Ele tinha uma vida boa aqui na terra. Ele estava interessado em assegurar seu futuro. Ele queria saber o que ele mesmo deveria fazer para conquistar a vida eterna.

Quando Jesus diz: Falta mais uma coisa, venda tudo o que têm e dê o dinheiro aos pobres e assim você terá riquezas no céu, Jesus não está falando contra os ricos, nem contra a riqueza, mas está falando sobre aquilo ao qual nós estamos apegados. Seguir a Jesus, fazer a vontade de Deus, implica em desapego, em renúncia de interesses pessoais em favor de um bem maior, um bem coletivo.

Deve ter sido uma cena muito triste, quando aquele homem rico, fechou a cara, decepcionado, simplesmente vira as costas para Jesus e vai embora. E Jesus olhando para os seus discípulos diz:

Como é difícil os ricos (ou as pessoas que não conseguem se desapegar das coisas dessa vida) entrarem no Reino dos céus. É mais difícil um rico entrar no Reino de Deus do que um camelo passar pelo fundo de uma agulha (v. 23 e v.25).

Os discípulos então manifestam sua preocupação. Então quem poderá se salvar? (v. 26). Se a vida eterna não é uma recompensa pela nossa fé individual e pela nossa obediência a Deus, então quem poderá se salvar?

E Jesus confirma, que para os seres humanos isso não é possível. A vida eterna não é possível de ser conquistada.
Mas Deus não quer que nenhuma pessoa se perca, por isso, o que nós não conseguimos realizar, Jesus realizou por nós. Se nós não conseguimos abrir as portas do céu como uma recompensa pelas nossas virtudes ou conquistas na vida, Jesus abre as portas do céu para nós e nos convida a entrar no Reino de Deus. É o sacrifício de Jesus na cruz que nos oferece perdão dos nossos pecados e nos abre as portas do céu. Portanto, a vida eterna é unicamente uma conquista de Jesus e é um presente de Deus para nós.

As boas obras não devem ser feitas com a intenção de merecer a recompensa da vida eterna. Quando fazemos isso, na verdade estamos diminuindo a importância do sacrifício de Jesus.

Um seguidor ou uma seguidora de Jesus faz o bem por gratidão pelo presente da vida eterna recebido de Jesus. Fazer o bem por gratidão pelo que Deus já fez por nós, não esperando recompensa – esse é o ensinamento essencial na Igreja Luterana. A pessoa cristã não precisa mais se preocupar em conquistar a vida eterna. A salvação nos é dada pela graça, pela misericórdia de Deus. A pessoa cristã deve sim preocupar-se com o bem-estar do outro. Deus cuida de nós, para que nós cuidemos dos outros.

Por isso, o texto não diz que os ricos estão condenados e os pobres estão salvos. O texto diz que quem está preocupado apenas consigo mesmo, seja rico ou seja pobre, essa pessoa ainda não está fazendo a vontade de Deus. Jesus fala aqui do sentido de nossa existência nesse mundo. Portanto, o ideal seria o equilíbrio entre viver dignamente sem deixar de preocupar-se pelo bem coletivo. E isso é algo que tanto os ricos como os pobres precisam fazer.

Portanto, Jesus não está dizendo que para segui-lo devemos perder algo importante para nossa vida. Jesus está dizendo que devemos escolher viver uma vida de equilíbrio. Quem escolhe andar no caminho de Jesus, vai naturalmente se desapegando dos interesses egoístas em benefício de um bem maior e comunitário.

Estamos no mês da Reforma e Martin Lutero ensinava que é na busca individual da vida eterna que o ser humano acaba rejeitando o sacrifício e a oferta salvadora de Jesus. O ser humano não consegue ser o seu próprio salvador. Jesus diz aos seus discípulos: para o ser humano isso é impossível.
Portanto, a doutrina do livre arbítrio que diz que ao nascer nós trazemos dentro de nós duas sementes: uma do bem e outra semente do mal e que nós podemos escolher qual delas queremos desenvolver em nossa vida. Para Lutero, isso não era bem assim. Para Lutero, o ser humano está em permanente luta contra o mal, porque sua natureza é má. Se Deus colocou uma semente do bem e uma semente do mal no coração humano, então o Diabo deve ter semeado várias sementes do mal dentro de nós. Por isso, o ser humano não é livre, ele parece que é sempre servo do mal. A essência do mal está dentro dele, está dentro de nós.

No entanto, a mensagem do Evangelho – a Boa Noticia é que mesmo que o ser humano mereça o castigo eterno por sua maldade – Deus não dá ao ser humano o que ele merece (que é a condenação eterna), mas Deus dá ao ser humano o que ele não merece, o seu amor. Essa é a justiça de Deus. Por isso, a vida eterna e as bênçãos que recebemos de Deus nesta vida – são exclusiva graça de Deus. Nós não merecemos nada disso.

Desta forma, o ser humano não pode chegar diante de Deus com um caminhão de boas obras para exigir de Deus a vida eterna. A única coisa que o ser humano pode fazer diante de Deus é reconhecer que somos pessoas indignas, que nada podemos exigir de Deus – que apenas podemos agradecer. Pois sem a graça de Deus, receberíamos apenas o que de fato merecemos: o castigo eterno. Quando reconhecemos isso, que a Boa Notícia do Evangelho é que Deus em Jesus Cristo vem ao nosso encontro e nos oferece a salvação porque Deus nos ama de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito para que toda pessoa que nenê crer não se perca, mas tenha a vida eterna (João 3.16) então conseguimos enxergar a bondade de Deus e nossos olhos se abrem para ver diante de nós os braços abertos de Cristo.

Na história do Evangelho que ouvimos hoje vimos que a vida eterna não pode ser conquistada por nós. Ela já foi conquistada pelo sacrifício de Jesus e é um presente de Deus para cada um, cada uma de nós. Portanto, o que Jesus deseja é que nossa maneira de viver seja um reflexo de nossa gratidão a Deus. Isso quer dizer que se você tem mais do que precisa, é porque Deus está te dando a oportunidade de ajudar, de contribuir mais do que outros.
O jovem que se encontrou com Jesus não conseguia aceitar isso. Talvez porque ele foi acostumado – desde pequeno - a fazer o bem para receber recompensa. E Jesus queria ensinar-lhe a fazer o bem aos outros por amor, por gratidão a Deus.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo.......


 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Paranapanema / Paróquia: Curitiba - Igreja de Cristo
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 10 / Versículo Inicial: 17 / Versículo Final: 31
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 64697
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