Alerta: Os Meios digitais podem fazer mal

10/06/2015



ALERTA:  OS  MEIOS  DIGITAIS  PODEM  FAZER  MAL
 
Dankwart Bernsmüller, em junho de 2015
(baseado principalmente em estudos do psiquiatra e pesquisador Manfred Spitzer,
publicados no livro Digitale Demenz, Editora Droemer, Munique, 2012)
 
          O objetivo deste texto é estimular a discussão sobre o uso dos meios digitais – redes sociais, jogos eletrônicos, smartphones e, até mesmo, televisão e lousas eletrônicas. O assunto é muito atual e palpitante. A literatura a seu respeito é extensa e de fácil acesso para eventual aprofundamento.
 
Definindo o problema
          Pesquisas sobre o cérebro realizadas nos últimos anos têm demonstrado que temos de ter extremo cuidado com a utilização dos meios digitais. Sabe-se que o cérebro está em constante processo de modificação e, disso podemos ter certeza, o uso cotidiano de meios digitais tem influência nesse processo. Em especial a geração mais jovem passa muitas horas frente a telinhas – às vezes mais tempo nisso que a soma do tempo dedicado ao sono e aos estudos, à leitura ou ao esporte, a um hobby ou outra atividade de lazer. Isso pode ser desastroso!
          Quem não já se deparou com o relato de pais ou de professores, dizendo que seus filhos ou alunos são hipercinéticos ou, pelo contrário, estão sonolentos em aula e que têm déficit de atenção? E mais: quantos são obesos ou tendem à depressão? A preocupação nos lares e nas escolas é grande e a busca pelo motivo de tais situações nem sempre tem resposta simples e única. No entanto, atrás desses sintomas com frequência se escondem os malefícios que o uso excessivo dos meios digitais causam.
          Hoje sabemos que o cérebro não é apenas o órgão mais complexo do corpo humano, mas também o mais dinâmico. Se não utilizado adequadamente, ocorre perda de massa cerebral, o que leva a consequências danosas. Pesquisas recentes permitem uma compreensão melhor dos mecanismos da aprendizagem, da memória, da atenção e do desenvolvimento, o que possibilita uma visão bastante clara dos perigos dos meios digitais. O uso constante e desafiador do cérebro leva ao crescimento de determinadas áreas necessárias ao desenvolvimento de habilidades específicas. Ele funciona como os músculos: se utilizado, amplia seu tamanho; se não for utilizado, atrofia. Assim como comprovadamente o estilo de vida sedentário de muitas pessoas leva a doenças como obesidade, hipertensão e diabetes, os neurobiólogos comprovam que as alterações no metabolismo causadas pelo excesso de tempo dedicado aos meios digitais levam à degeneração do cérebro e consequente diminuição de sinapses, o que origina a dificuldade de aprendizagem, a desatenção e o comprometimento da memória. Isso acaba tendo efeitos importantes não apenas para os adolescentes que frequentam escolas, mas para a vida emocional e social das pessoas de qualquer idade.
 
Dizendo de forma simplificada: Sinapses são os pontos de contato entre as células onde ocorre a transmissão de impulsos nervosos de uma para outra. A análise de sinapses somente foi possível nos últimos anos devido ao avanço da aparelhagem de registro de imagens. Também foi necessário desenvolver complicados processos matemáticos para interpretar os dados colhidos pelos tomógrafos e outros aparelhos. Nossos perceber, pensar, vivenciar, sentir e agir geram conexões de células – as sinapses – e criam a integração dos novos saberes e emoções aos anteriormente armazenados nas camadas externas do cérebro.
 
Os meios digitais e a aprendizagem        
Épocas houve, em que os pedagogos viam no uso do computador e da lousa eletrônica em sala de aula a salvação da lavoura. No entanto, mais uma vez exageraram – assim como já fizeram quando enalteciam o uso do laboratório de línguas e do estudo programado.
Crianças e adolescentes sentem tremenda atração pelos meios digitais porque oferecem a possibilidade de se comunicar e de entrar em muitos conteúdos da www – world wide web, a rede mundial, aos quais nem deveriam ter acesso. Mas o maior problema reside no uso excessivo desses meios. O que quer dizer excessivo?
Há levantamentos estatísticos, comprovando que jovens ficam mais de 7 (sete!) horas diárias grudados nas telinhas do smartphone ou do computador. Estudos comprovam que não se aprende, usando apenas o computador e – pior – que seu uso intenso destrói a capacidade de concentração e discernimento. Assim como o GPS – ground positioning system, o sistema de localização no solo, não melhora o senso de orientação dos motoristas – pelo contrário, até mesmo atrofia sua capacidade de se orientar – assim o computador não é essencial para a aprendizagem. O excesso de informação desorienta o estudante, atrapalha sua concentração e lhe tira o foco pois não consegue organizá-la e tirar proveito de seu potencial.
Na escola, o uso moderado e adequado dos meios digitais é importante ferramenta – mas é prescindível para uma boa aprendizagem. Estudos comprovam que as telinhas (ou telonas) em sala de aula levam à superficialidade no pensamento, distraem os alunos e têm efeitos colaterais que acarretam desgaste no processo ensino-aprendizagem – que vão desde aborrecimentos com a falta de energia elétrica ou queda de sistemas até o uso indevido da internet, chegando à pornografia.    
Adolescentes, pais e mesmo alguns professores precisam conscientizar-se de que a apropriação de conhecimento depende da busca crítica de informações e do seu retrabalho individual, sempre com acurada análise das fontes. A escola deve ensinar o uso adequado do computador e orientar os pais. Mesmo que a propaganda afirme o contrário, é sabido que os meios digitais não contribuem para o desempenho mental – isso não ocorre na educação infantil nem em fases posteriores da escola formal.
Pessoas há, que julgam que games (jogos eletrônicos) melhorem a atenção e estimulem o auto-controle das crianças e adolescentes quando estão na caça a seres de outros planetas – e, pior, que isso seja bom para o desenvolvimento de habilidades necessárias na escola. Ledo engano! Testes comprovam que quem processa mais rapidamente estímulos (=jogadores compulsivos), tem sua atenção desviada mais rapidamente (=falta de concentração); quem reage a muitos estímulos, se concentra menos em um único objetivo; quem espraia sua atenção na tela de um jogo eletrônico, tem dificuldade em se focar num assunto único e relevante. Ou seja: o jogador torna-se um excelente autômato de reflexos, mas perde muito da concentração e do auto-controle tão necessários no estudo e no trabalho.
 
Transcrevo alguns trechos da entrevista concedida a Cauê Fonseca do jornal Zero Hora pelo psicanalista Alfredo Jerusalinsky, publicada em 3 de maio de 2015: “(...) a linguagem que usam esses eletrônicos é extremamente simples. Porque a parte complexa do problema fica oculta, é resolvida pelos chips. O programador é o inteligente. Nós damos o problema para o aparelho e ele resolve, e temos a ilusão de que quem resolveu fomos nós. (...) Isso fascina as crianças pela complexidade do resultado que obtêm com uma ação simplificada. Isso amplia a distância do não saber. A criança tem a ilusão de saber muito facilitada (...).”
 
Por outro lado, muitas vezes o usuário – mero apertador de botões ou teclas – frustra-se porque não consegue resolver a situação proposta. E, também muitas vezes, acaba transferindo essa frustração originada no mundo virtual para o mundo real. Quanto das agressões, dos quebra-quebras, dos rachas em carros, das bebedeiras, etc. são fruto dessas frustrações acumuladas?
Há mais um aspecto a considerar: você – caro leitor – já deve ter assistido a algum filme baseado em fato histórico do qual tem razoável grau de conhecido ou em algum livro de ficção que já leu. Pois bem: quantas vezes ao sair do cinema – ou em casa, ao desligar seu aparelho eletrônico em que assistiu ao filme – constatou que o diretor do filme alterou o conteúdo? Filme e fatos históricos ou a estória do livro não batem. Nessa situação, o que ocorre é o mesmo que acontece com o jovem que fica à frente de quaisquer telinhas por horas a fio: o jogador – e você – fica frustrado porque a máquina – ou no caso do filme, o diretor – produz imagens, produz resultados, que inibe vocês de desenvolverem imagens próprias, de criar suas próprias fantasias sobre os conteúdos ou lhe apresenta imagens que não correspondem aos fatos. Frustrante, não é mesmo?
 
Outros problemas potencialmente causados pelos meios digitais são perda do auto-controle, estresse, insônia, depressão, vício e até mesmo demência. Vamos abordar esses assuntos sem detalhar muito:
 
(a) Crianças aprendem e treinam desde cedo no cotidiano da vida familiar o andar, falar e expressar seus desejos. Posteriormente, durante os primeiros anos de escolaridade – creche, maternal, jardim de infância – priorizam-se as atividades conjuntas: brincadeiras, jogos, pequenas apresentações de dança ou teatro, lanches – tudo isso visa ao desenvolvimento do auto-controle. É puro treino da parte frontal do cérebro! Ou seja, é o treinamento para a observância de regras sociais e – muito mais – é o treinamento do controle da própria vontade. O esperar pela sua vez de jogar, o repartir brinquedos, o respeitar colegas, etc. são fruto desse auto-controle. Estudos comprovam que adolescentes com auto-controle mais desenvolvido, têm maior probabilidade de obterem melhores resultados na escola.
          Também o adulto precisa constantemente demonstrar auto-controle. Quem controla seus impulsos tem muito maiores chances de ter sucesso pessoal e profissional.  Está comprovado que pessoas com maior auto-controle vivem melhor e vivem mais tempo.
 
Alerta: cuidado com a propaganda!!! Constantemente somos bombardeados por exemplo, pela propaganda de novos modelos de smartphones e tablets. Claro que é chique andar sempre na moda. Mas será que é realmente necessário gastar tanto dinheiro com todas essas novidades se as ‘coisas velhas’ ainda preenchem as nossas necessidades – mesmo que mais devagar e com menos memória?
É sabido que a maior parte das pessoas nem utiliza todos os recursos que seu celular disponibiliza. Mas o impulso da propaganda as leva à compra de um celular mais moderno, mesmo que ele acabe subutilizado. A mesma coisa se aplica à roupa, ao calçado e ao carro. Quanta coisa acaba atulhando gavetas e prateleiras sem ser usada! Não é através da aquisição de bens de consumo que se ganha amigos ou se cria um perfil positivo junto a colegas de trabalho ou junto a parentes. Muitas vezes o consumidor é induzindo à compra de produtos de que realmente não necessita, mas que são modismos passageiros e que só engordam o bolso do dono da loja. É necessário muito auto-controle para resistir à vontade de comprar – é o mesmo auto-controle necessário para resistir à vontade de tomar diariamente uma Coca-Cola ou de comer uns salgadinhos ou um ‘X-qualquer coisa’ – apesar de termos como meta perder os quilinhos de peso que incomodam toda a vez que subimos numa balança e prometemos a nós mesmos que vamos fechar a boca. É necessário ter força de vontade, é ser forte na hora do estímulo que vem da propaganda – e dizer NÃO!
 
Ao estímulo – a propaganda para comprar um bem de consumo, a vontade de comer um doce ou o convite para fumar um baseado – temos de opor metas/objetivos de médio/longo prazo que sirvam de inibidores. Com base nesses objetivos temos de aprender a dizer: ‘não preciso de um celular novo’; ‘quero manter a linha’; ‘quero preservar minha saúde’. É um não consciente e planejado! Sob o efeito do cansaço ou do álcool, parte de nosso cérebro perde muito de sua funcionalidade e o risco de dizermos sim a algo que transgride nossa meta aumenta muito. Além disso, a melhor formação educacional de uma pessoa propicia-lhe maior liberdade a imposições externas, pois ela tem comportamento crítico em relação a si e ao ambiente, não estando tão exposta ao consumo impulsivo.
O chamado déficit de atenção é o oposto do auto-controle. Aquela pessoa que constantemente tem sua atenção desviada e que pula de galho em galho – ou seja, é hipercinética e não controla sua motricidade – fica mais vulnerável aos estímulos que vêm de fora. Testes com crianças comprovaram que filmes ou animações na TV prejudicam o auto-controle por estimularem a passividade e a vulnerabilidade à transgressão de regras. O mesmo ocorre com adultos: enquanto o desenvolvimento de um hobby (filatelia, jardinagem, enxadrismo, etc.) estimula a atividade mental, a passividade frente à TV muitas vezes leva ao ataque à geladeira e outras transgressões de metas propostas e à falta de atenção para a vida familiar e social.
          É importante mencionar, ainda, que a hipoglicemia (baixo teor de açúcar no sangue) leva à perda da vontade de produzir. Em outras palavras: crianças, adolescentes e adultos devem ter um desjejum adequado e fazer um lanche no meio da manhã/tarde, pois está comprovado que o cérebro humano apresenta melhor desempenho quando o nível de açúcar no sangue é adequado.
         
(b) Outro problema recorrente provocado por meios digitais é o estresse que se caracteriza pela falta de controle de uma situação. Ele não se origina em fatos objetivos, mas sim na maneira como nós vivenciamos determinada situação. Clássico exemplo é o trânsito: ele nos estressa porque não temos como fugir a um engarrafamento depois de nos metermos nele. Não é o engarrafamento em si que nos irrita – mas sim o fato de sermos impotentes para nos livrar dele. Ou seja, perdemos o controle da situação.
          O consumo compulsivo ou o uso excessivo dos meios digitais causa estresse, pois a pessoa tem consciência de que perde o controle sobre si mesma. Muitas vezes ela sabe que deve controlar seus impulsos, mas não o consegue. O estresse crônico oriundo da falta de controle sobre a própria vida não desencadeia apenas falhas no sistema imunológico, distúrbios hormonais e gástricos, atrofia muscular e doenças cardiovasculares, mas também a morte de células nervosas no cérebro. Sabemos que esse órgão se recompõe em qualquer idade mediante o surgimento de novas células, mas sabemos também que o estresse inibe seu surgimento. Quando há maior perda de células que ganho de novas, gradativamente perdemos concentração e memória.
 
(c) Na última década, a pesquisa demonstrou que o sono é um estado ativamente instalado pelo cérebro e que enquanto se dorme, em absoluto se reduz a atividade cerebral – muito pelo contrário, é então que se consolida o vivenciado e o aprendido. O cérebro está ativo mas se dissocia da realidade. Conteúdos memorizados são integrados e retrabalhados junto a saberes e emoções anteriormente armazenados. Portanto, o cérebro está muito ativo enquanto dormimos. Quem estuda muito, também precisa dormir muito para que possa assimilar o estudado! Pais e professores sabem muito bem como é a cara na manhã seguinte daquele jovem que à noite fica surfando na internet, jogando ou se comunicando através das redes sociais.
          A insônia é um dos efeitos mais frequentes do uso exagerado dos meios digitais. Mesmo a acessabilidade constante pelo celular leva a perturbações do sono que implica em danos permanentes no corpo e eleva consideravelmente o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes.
 
(d) Além disso, a falta de sono pode levar à depressão. É fato comprovado que, após um passeio, a leitura de um livro ou a visita a um amigo, nós nos sentimos de bem com a vida e muito bem-dispostos. Em contrapartida, depois de duas horas na frente da televisão ou de duas horas de batalhas virtuais estamos arrasados e sem disposição para mais nada. Se honestos, alunos de qualquer idade vão admitir que perdem o interesse pela escola após se exporem a meios digitais por um período prolongado. Entram num círculo vicioso do qual fazem parte a perturbação no sono, o mau-humor, a percepção de cansaço e o abatimento.
O percentual de pessoas de qualquer idade que não sabem organizar seu lazer é o muito alto. Por exemplo, jovens dos treze aos dezesseis anos que usam os meios digitais com exagero participam menos de atividades extraclasse ou se ocupam menos com um hobby (filatelia, enxadrismo, etc.). E isso é especialmente crítico nessa idade, quando mais necessitam de reforço em sua auto-estima e do convívio com gente da mesma idade para firmar sua posição no grupo. Para tanto, contatos reais – não só na van do transporte escolar – são imprescindíveis. Como a grande maioria das atividades extraclasse é associada a atividades físicas, percebe-se nitidamente que quem ocupa muito tempo com meios digitais, movimenta-se pouco – o que leva às conhecidas consequências para o corpo e a mente: torna-se obeso, podendo ser estigmatizado, socialmente excluído e, por consequência, mais vulnerável à depressão.
 
(e) A compulsão é responsável pelo que se define como vício – no caso, a compulsão ao uso de meios digitais – e tem forte componente da casualidade. Quando entro num portal da internet, muitas eventualidades podem ou não ocorrer: posso esclarecer uma dúvida pelo Google, ou não – posso comprar uma oferta imperdível (do ponto de vista do vendedor, claro!), ou não – posso bater um papo com um amigo pelo Facebook, ou não – ou seja, sempre há o componente do imponderável. É isso que impele muitas pessoas a ter de estar constantemente on-line – até pelo medo de perder uma oferta ou de não serem notadas pelas outras da sua rede de amigos.   
          O vício surge a partir da sensação de prazer causada pela liberação de endorfinas no cérebro quando há a percepção de recompensa subjetiva ao comprar/possuir algo que o outro (ainda) não tem, ou de poder divulgar que tem mais de cem (!) amigos (virtuais), ou, ainda, de vencer concorrente. Cocaína, anfetaminas, álcool e nicotina desencadeiam no cérebro processos semelhantes. Puro auto-engano!
Estudos demonstram a íntima relação entre uso da internet e do vício digital de um lado, e a existência de sintomas depressivos de outro. A compulsão ao acesso a jogos e à pornografia é mais significativo entre os jovens viciados em internet. Especialmente estudantes que estão constantemente navegando acabam se distanciando do mundo real e ficam socialmente isolados – em casos extremos chegam a ter medo de contatos pessoais e negligenciam seu asseio pessoal.
 
Volto à entrevista concedida por Jerusalinsky: “(...) a interrogação [por parte da criança] sobre o saber do pai, da mãe, se reduz.  Por que vou perguntar ao meu pai se eu tenho o Google? Sem falar das relações sociais, que se tornam enormemente facilitadas com o apertar de botões, e cria a ilusão de uma relação. Ilusão porque são curtas (...). Então ela [a criança] não desenvolve a responsabilidade sobre o outro. (...) Sem relações com o outro, mas sim com o aparelho, surgem as condições para o autismo, por exemplo. Será também adulto menos capaz de resolver problemas. E menos capazes de suportar frustração porque se acostumou com respostas imediatas. (...) Nós adultos defendemos os laços sociais, reais e simbólicos. A criança passou a defender os laços sociais imaginários (...). Seguramente quem tolera menos a frustração é mais impaciente, mais agressivo. Portanto, mais propenso ao bullying, ao não reconhecimento da autoridade dos professores e dos pais.”
 
          Antídotos ao vício são a força de vontade, a disciplina e a espiritualidade. Como já abordamos anteriormente, a força de vontade relaciona-se com o auto-controle – e, num plano mais filosófico, com o livre-arbítrio. Ou seja, para vencer um vício é necessário ter força de vontade, é ser forte na hora do estímulo que vem de fora – e dizer NÃO! É ter a disciplina interna para fazer a opção consciente por uma meta positiva: viver uma vida mais saudável, valorizar sua saúde física e mental, acrescentar qualidade a suas relações familiares – ou, ainda, deixar de ser submisso à vontade de outrém e de se subordinar a um impulso externo e maligno.
          Todo o viciado afirma que pode a qualquer hora deixar de ingerir bebida alcoólica, de fumar cigarros, de fazer uso de substâncias tóxica – assim como todo usuário dos meios digitais diz ter controle sobre seu tempo. No entanto, as mais das vezes, após curta parada há um retorno ao vício – seja ele qual for. Somente a fé e a confiança num ser superior – expressão dita neutra utilizada para designar Deus, por exemplo nos encontros dos grupos de AA (alcoólatras anônimos) – é imprescindível para facilitar a escolha do melhor. A certeza da existência de Deus é um refrigério para a alma e vai indicar o bom caminho.   
 
          (f) Um último problema a abordar é a demência causada pelo excesso de uso dos meios digitais. O termo provém do latim – de (para baixo)+mens (mente) – ou seja, caracteriza-se pelo decréscimo da capacidade mental. Células vão perdendo lenta e gradativamente sua função, o que se manifesta mais frequentemente pelas doenças de Parkinson e Alzheimer. Na primeira, em geral os sintomas se manifestam pela perda do controle de movimento; na segunda, a gradativa perda de memória ocorre pela degeneração do hipocampo – o centro que integra e retrabalha novos saberes e emoções aos já armazenados – estendendo-se depois para o restante do cérebro.
 
          Algumas dicas práticas para retardar os sintomas da demência são: ingerir alimentos saudáveis; movimentar-se; ocupar-se com o aqui e agora; auxiliar outras pessoas; escutar música conscientemente; cantar; sorrir; superar obstáculos; simplificar a vida; usufruir da natureza – e evitar uso prolongado de meios digitais.
 
          Para haver decréscimo, a pessoa precisa estar num certo patamar mental e intelectual. É comprovado que, quanto mais alto for esse patamar, tanto mais demorado será o descenso. A capacidade mental pode e deve ser treinada pela educação formal – pela aprendizagem constante. Adultos têm o dever de estimular os jovens ao estudo!... e têm de ocupar sua cabeça! Em contrapartida, os meios digitais levam à redução do uso do cérebro, causando redução no desempenho intelectual. É o que se entende por demência digital.
 
Em resumo:
Pais propiciam a crianças desde os 5, 4, 3... anos de idade o acesso a meios digitais, sobretudo tablets e smartphones – e o acesso às redes sociais. Muito disso é estimulado pela propaganda. No entanto, esses mesmos pais não se apercebem que esses meios causam exatamente aquilo que eles não querem: seus filhos têm pior desempenho escolar porque favorecem a dispersão e a superficialidade. Além disso, o tempo gasto com seu uso muitas vezes causa problemas como isolamento social, insônia, depressão e vício – e ocupa o tempo que deveriam estudar, ler ou praticar um esporte. Redes sociais podem levar à perda da privacidade e estimular o bullying.
Muitas escolas também não têm bons critérios para aplicativos eletrônicos. Modernidade é confundida com o uso excessivo deles, quando o que realmente deveriam fazer é propor critérios para seu uso... e, de resto, cobrar estudo e leitura em casa, além de oferecer criteriosas opções de interação da comunidade escolar.
Também os adultos devem se policiar no uso de meios digitais, pois os efeitos nocivos de seu excesso acarretam os mesmos problemas que nos jovens: insônia, depressão, agressividade, perda de memória, exposição de sua privacidade, etc. etc.
 
Caro leitor: desejo que este texto o motive a (re)pensar sobre o uso dos meios digitais à sua disposição – e de seus familiares. Fale com eles a respeito desse uso!

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