Carta do Sínodo Espírito Santo a Belém referente às chuvas e enchentes no Espírito Santo

21/12/2013

Fortaleza, 21 de dezembro de 2013.

Aos
Ministros e ministras do SESB
Lideranças e comunidades do SESB

Assunto: Chuvas e enchentes no Espírito Santo 

Prezados,

1. Encontro-me em Fortaleza e daqui vou para São Luís, no atendimento a estas comunidades nesse fim de semana, e estou acompanhando as fortes chuvas que caem sobre o estado do Espírito Santo, causando prejuízos, e até mortes, e dificultando o trabalho dos colegas ministros e ministras do nosso Sínodo no atendimento pastoral aos membros.

2. De Baixo Guandu o pastor Vitorino Reetz informa que um pai de família de 28 anos da Comunidade de Jacutinga foi levado pela correnteza e foi encontrado morto na manhã do dia 19/12, deixando a esposa e um filho de dois anos. No sepultamento, ocorrido ontem, o pastor Vitorino relata:

“Para levar o corpo até o local onde morava foi necessário carregar uns cinco quilômetros a pé. Eu saí 7h da manhã para fazer o sepultamento e viajei uns 5 km de carro, não tive como seguir, fui na garupa de uma moto mais uns 15 km e depois andei mais 5 km a pé, passando em água até o joelho. O sepultamento era as 9h e eu cheguei às 10h30. Eles fizeram o sepultamento e estavam saindo do cemitério, mas quando me viram, voltaram e eu pude fazer ainda um momento. Para chegar em casa eu cheguei por um outro caminho e agora preciso voltar e buscar o carro. A chuva destruiu tudo o que tinha pela frente. Não tem mais estradas. Muitas pontes foram arrancadas. Todos os cultos de Natal no interior serão cancelados. É muito triste ver esse cenário de destruição”.

3. O pastor Vitorino relata ainda que na comunidade de Santo Antônio a casa do zelador Antônio Stan desmoronou e ele, a esposa Olinda e a filha Valéria foram soterrados. Veja o relato:

“Por um milagre de Deus, Dona Olinda conseguiu sair dos escombros, toda ferida, e pediu ajuda dos vizinhos, que conseguiram salvar o marido e a filha. Os vizinhos levaram por vários quilômetros a filha em um lençol amarrado em bambu até chegar em local transitável por carro. A filha teve lesão séria na perna e escoriações em todo corpo e está internada em Colatina. Ela passou por cirurgia e está se recuperando. O pai e a mãe estão internados em Aimorés, com ferimentos em todo corpo. Eu fiz uma visita a eles no hospital. Eles estão muito abalados fisicamente e emocionalmente. Eles são uma família muito humilde, muito trabalhadores e pessoas muito queridas na comunidade. A família perdeu tudo: casa, um carro velho, móveis, documentos. A única coisa que eles tem são as roupas do corpo. Eu fiquei muito sensibilizado com essa situação, emocionado eu disse que nós vamos fazer uma casa nova para eles e ajuda-los no que for necessário. Pretendo mobilizar toda a paróquia para ajudar essa família.”

4. O vice-pastor sinodal Lourival Felhberg, de Palmeira de Santa Joana, conta por telefone, que na comunidade do Pontal faleceu uma pessoa, por problemas cardíacos. Para levar o esquife ao cemitério a comunidade teve que passar pelos morros. O pastor não conseguiu chegar ao cemitério e pessoas da comunidade fizeram o enterro. Ele conta ainda que a água está chegando à escada da casa pastoral e já tem um metro de água no ginásio de esportes. A mesma coisa acontece em Itaguaçu, onde a igreja está com um metro de água no seu interior. Também na paróquia de Palmeira de Santa Joana as celebrações do fim de semana foram canceladas.

5. O pastor Leonardo Ramlow, de Colatina, informa que a situação de lá inspira preocupação:

“De terça para quinta-feira a igreja ficou alagada, com 40 cm de água. Não tivemos maiores estragos. Na comunidade de Monte Alverne uma tromba d'água levou por completo a casa de Claudeci Bucher. A família saiu apenas com a roupa do corpo. Ontem o pastor Ismar esteve lá. Vai ser necessário fazer uma campanha para ajudá-los a se reerguerem. Hoje estão abrigados na casa dos pais. 

Neste exato momento, estamos apreensivos em função do Rio Doce que está subindo. Faltam uns 80 cm para a água entrar na igreja, mas o volume de água sobe de forma acelerada. A Defesa Civil passou avisando que é necessário levantar novamente os pertences. A previsão é de que a água suba de um a dois metros. 

O rio Santa Maria está muito cheio. Caiu tromba d’água em São Roque do Canaã. No centro, em frente à igreja matriz, está tudo alagado. Toda essa água vem para cá. O rio Santa Joana está transbordando. Itaguaçu e Itarana estão inundados. A água acabará no Rio Doce, tornando a situação mais complicada. A Defesa Civil pede para que as pessoas evitem sair de casa. 

Hoje (21) cancelamos atividades em Piabas, Córrego do Almoço, São Roque do Canaã, Benvindo, Cascatinha e Córrego da Ponte. Não existe acesso a essas localidades, devido estradas alagadas e com barreiras. A previsão é de que não seja possível atender as atividades previstas até o Natal.” 

6. A minha filha Pietra informa que a pastora Iraci passou mal a noite passada e teve que ser levada para Vitória, de ambulância, e ficou internada. Hoje pela manhã ela teve alta, mas não conseguiu voltar para casa, pois não havia passagem nem por Santa Leopoldina nem por Santa Teresa.

7. Pela internet vi que as cidades de Itarana, Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina foram duramente castigadas pelas chuvas. A casa pastoral de Santa Leopoldina também está alagada. Para piorar, os telefones não funcionam. A internet também não. Certamente não há como chegar às comunidades rurais nesses municípios.

8. Um relatório da NASA (agência espacial norte-americana) informa que o litoral capixaba recebeu a maior concentração de chuvas do mundo nesta semana, chegando a 400 mm em três dias. A maior parte foi no oceano, graças a Deus. O governador Renato Casagrande decretou estado de emergência nos 78 municípios. Mais de vinte mil pessoas já precisaram deixar suas casas.

9. Eu, como pastor sinodal, e o colega Lourival E. Felhberg, como pastor vice-sinodal, estendemos nossas condolências às famílias das vítimas das enchentes e oramos pelos que passam por momentos de desespero e angústia. Solicitamos que nas comunidades aonde as celebrações natalinas acontecerem, apesar das chuvas, os desabrigados sejam lembrados nas intercessões.

10. Colegas e comunidades já estão perguntando como podem ajudar. Eu respondo: aquelas comunidades que quiserem destinar suas ofertas para as famílias que perderam bens materiais, como as duas que tenho notícias por enquanto, de Santo Antônio e Monte Alverne, podem fazê-lo e enviar ao Sínodo.

11. Para outras doações, como alimentos não perecíveis, material de limpeza, roupas, utensílios domésticos ou mesmo doações em dinheiro, informaremos no início da semana que vem quando eu retornar, para saber como proceder. Até lá peço aos colegas para me enviarem mais notícias, quando puderem. Faremos um levantamento geral de como está a situação nas várias comunidades luteranas capixabas e depois voltamos a nos comunicar.

Agradeço pela atenção de vocês e, se possível, leiam esta carta nos cultos e celebrações. Vamos exercitar a solidariedade e amor ao nosso próximo.

Desejo as bênçãos de Deus a todos vocês.

Fraternalmente,

Joaninho Borchardt

Pastor sinodal

Veja mais: Enchentes Espírito Santo dezembro 2013


Autor(a): Joaninho Borchardt
Âmbito: IECLB / Sinodo: Espírito Santo a Belém
Natureza do Texto: Vários
Perfil do Texto: Carta
ID: 26351
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