Jornal Evangélico Luterano

Ano 2018 | número 816

Sábado, 20 de Abril de 2024

Porto Alegre / RS - 10:00

Unidade

Eu sou o SENHOR, teu Deus

Como dar um bom testemunho evangélico-luterano em nosso tempo? Essa pergunta, em alguma medida, está presente em nosso cotidiano quando pensamos na atuação cristã para dentro deste mundo, especialmente quando ela cabe a nós, membros da IECLB. Dadas as dimensões do nosso planeta, parece que o nosso esforço é em vão, pois, por mais que nos esforcemos, ainda assim, somos apenas uma pessoa entre as 7,6 bilhões de pessoas habitantes da Terra. Nessa hora, a fragilidade e o sentimento de impotência surgem. 

A preocupação pela coerência da nossa vida, na relação fé e cotidiano, é uma questão muito importante para todos e todas nós. Afinal, como poderíamos agradecer pelo perdão e pela graça de Deus em nossa vida se não conseguimos vivê-la? Jesus contou uma parábola justamente com essa relação (O empregado mau - Mt 18.21- 35): Como pode o empregado agradecer ao patrão pela sua misericórdia ao perdoar-lhe uma dívida de 10 mil talentos (equivalente a 60 milhões de denários) e, ao mesmo tempo, não ter misericórdia do seu colega de trabalho que lhe devia 100 denários? Essa parábola deixa evidente a nossa facilidade para receber e dificuldade em doar. Por quê?

A grandeza das parábolas contadas por Jesus ou mesmo das histórias relatadas nos quatro Evangelhos consistem, justamente, na proximidade entre a vontade de Deus e a vida corriqueira do povo, ou seja, os ensinamentos de Jesus e, não por fim, a vontade de Deus, não são apenas assuntos da Teologia ou de difíceis esquemas de pensamento. Não! Elas, o ensino de Jesus e a vontade de Deus, estão intimamente ligadas às nossas práticas diárias. O desafio, sem dúvida, é diminuir a distância entre crer e agir, bem como a relação entre sagrado e profano (secular). Distinguir, sim! Separar, não! Só assim conseguiremos um agir pleno, seremos pessoas cristãs comprometidas plenamente, em todos os lugares e contextos inseridos.

O Tema do Ano da IECLB para 2018, resgatando sabiamente as Obras de Deus e os seus três Estamentos, apontados por Lutero, a saber: Igreja, Economia e Política, nos coloca diante das três dimensões criadas pelo próprio Deus e que envolvem o ser humano em sua totalidade: alimentar, proteger e ensinar. Afinal, todos os dias, acordamos cedo para labutarmos pelo pão nosso de cada dia. Todos os dias, somos influenciados e influenciadas pelas leis humanas, inclusive influenciando a nossa forma de garantir o alimento. Por fim, mas não por último, aprendemos e ensinamos a todo instante, inclusive sobre o amor e a graça de Deus.

Por arrependimento diário, a velha pessoa em nós deve ser afogada e morrer com todos os pecados e maus desejos. Por sua vez, deve sair e ressurgir nova pessoa, que viva em justiça e pureza diante de Deus para sempre.

Tal como nos ensinamentos de Jesus, a reflexão sobre os Estamentos da Criação de Deus nos impulsionam para o concreto da vida: o cotidiano e as nossas relações. O ensino não tem um fim em si mesmo, antes disso, quer se transformar em uma prática, quer ser Palavra vivida e praticada. Assim se dá a práxis evangélico-luterana. O aprendizado bíblico que se transforma em ação. Não em qualquer ação, mas ação que promove a vida, vida plena e abundante, como nos ensinou Jesus. O encontro com a Palavra nos levará a novas práticas e, por sua vez, a prática também nos lançará novos desafi os, os quais, no encontro com a Palavra, pode revelar novos caminhos. É, por excelência, uma ação transformada e transformadora.

A refl exão do Texto-Base do Tema 2018 destaca: ‘Para o Reformador, Deus age mediante as três Ordens e todas as pessoas se colocam a serviço de Deus nas três Ordens. Esta é uma indicação importante para nós: cada pessoa é chamada a atuar com Deus nestes três âmbitos da vida’

Precisamos romper com o pensamento vitimista, ou seja, não podemos justificar os nossos erros baseandonos nos erros das outras pessoas. As palavras ditas por Lutero, por ocasião da Dieta de Worms (1521), bem como as do Catecismo Menor podem nos ajudar nesta reflexão. Quando questionado sobre a possibilidade de renunciar aos seus escritos, Lutero afirmou que a sua consciência estava cativa à Palavra de Deus e que não era correto nem seguro ir contra a mesma. Já no Catecismo Menor, na explicação sobre o Sacramento do Batismo, afirmou que: ‘por arrependimento diário, a velha pessoa em nós deve ser afogada e morrer com todos os pecados e maus desejos. Por sua vez, deve sair e ressurgir nova pessoa, que viva em justiça e pureza diante de Deus para sempre’. Aqui se dá o rompimento com qualquer sistema que legitima as suas práticas obscuras em fundamentos que não sejam, essencialmente, os fundamentos ensinados pelo testemunho bíblico.

Por outro lado, se alguém disser que ‘o mundo’ não conhece estes fundamentos e por isso mesmo não tem obrigação de segui-los, está certo! Entra, novamente, o papel da Igreja: ensinar. Daí a importância de alinharmos a nossa prática àquilo que dizemos ser o fundamento da nossa fé. Nós, pessoas cristãs, temos um profundo compromisso com a vida, a ética, a sustentabilidade e a vivência diária do amor.

A voz profética da Igreja, que denuncia o erro (Lei) e anuncia uma nova oportunidade (Evangelho), estará sempre presente. Isso não acontece pelo nosso esforço, mas porque é, antes de tudo, obra e voz do próprio Deus.

Na prática, isso significa que nem sempre seremos os primeiros e as primeiras, que nem sempre conseguiremos adiantar o nosso atendimento médico pela influência sob a pessoa que gerencia a fila, que nem sempre o nosso alvará será renovado antes das adequações necessárias às pessoas cadeirantes, por exemplo, que, mesmo saindo mais barato, qualquer mercadoria sem nota fiscal pode ser produto de furto, etc. Significa que precisamos respeitar as leis triviais que regem o nosso cotidiano e que o melhor lugar para dar testemunho é ali mesmo, de maneira simples e prática, conforme as parábolas de Jesus e as histórias dos Evangelhos. Esse não é o caminho mais fácil, pois exige que passemos pela renúncia da natureza pecadora, como disse Jesus, é preciso negar a si mesmo (Mt 16.24) aos interesses particulares obtidos por caminhos que não são o da verdade e da vida.

O Plano de Ação Missionária da IECLB (PAMI) tem como um dos pilares a Diaconia. Na página 46, diz que ‘Deus nos serve, por isso servimos. O nosso servir e todas as nossas ações são frutos do amor de Deus em nós. A Comunidade Missionária é aquela que serve às pessoas e ao mundo em gratidão a Deus pelo seu amor e acolhimento e porque o próprio Cristo chama para dar continuidade a este serviço de amor - Como eu vos fiz, façais vós também. Em contextos marcados pelo ódio, pela exclusão e pela dor, as nossas Comunidades precisam, assim como Jesus, andar na contramão dessa lógica. Pagar o mal com o bem. ‘Jesus falava sobre o amor de Deus e agia vivendo este amor no dia a dia a partir de atitudes concretas. Jesus abraçava, perdoava, incluía, ajudava, conversava, questionava e curava’.

Voltando ao Texto-Base do Tema 2018, lemos que ‘as três Ordens da Criação são modos pelos quais Deus atua e por meio das quais o ser humano, pela fé, coopera com Deus para o melhoramento do mundo. Enquanto pessoas cristãs, que vivem em Comunidades, temos a nobre tarefa de cooperar com Deus para o melhoramento do mundo. Como que provocando um efeito cascata, podemos começar com mudanças simples, de postura e paradigmas pessoais, para, então, compartilharmos com a nossa família, a nossa Comunidade, o nosso bairro, a nossa cidade, etc. As nossas Comunidades, podem, sim, contagiar os seus contextos! As nossas Comunidades podem, sim, transformar as suas realidades. As nossas Comunidades podem, sim, ensinar ao mundo como é bom e agradável o amor e o cuidado de Deus. Segundo o PAMI, ‘a partir da vivência cristã das pessoas que servem, várias outras acabam se aproximando das Comunidades de Confi ssão Luterana e passam a fazer parte dela’.

Mais que ouvir a Palavra, precisamos praticá-la, conforme Tiago 1.22, fortalecendo, acima de tudo, a prática do amor, como o Apóstolo Paulo nos diz em 1Coríntios 13.13. Contudo, apesar do medo que porventura vier nos assolar, a voz profética da Igreja, que denuncia o erro (Lei) e anuncia uma nova oportunidade (Evangelho), estará sempre presente, não por nosso esforço, mas porque é, antes de tudo, obra e voz do próprio Deus. Que Deus nos fortaleça, guie e ajude nesta tarefa.

Como você e a sua Comunidade estão refletindo sobre essa temática? 

P. Jonas Zenkner Beier,
Ministro na Comunidade em Uberlândia/MG

Ultima edição

Edição impressa para folhear no computador


Baixar em PDF

Baixar em PDF


VEJA TODAS AS EDIÇÕES


Gestão Administrativa

Ser Igreja de Jesus Cristo em contexto de pandemia

Em perspectiva de balanço do ano que passou, compartilhamos, de forma adaptada e atualizada, partes da Carta Pastoral da Presidência, de Pastoras e Pastores Sinodais, publicada em agosto de 2020. A partir de março de 2020, passamos a conviver com a pandemia do Covid-19, (+)



Educação Cristã Contínua

Igreja que valoriza o Sacerdócio Geral (parte 3/3)

Desafios Com base nas atividades que estão sendo realizadas e considerando o cenário atual, a Coordenação de Educação Cristã (CEC) vislumbra os seguintes desafios para a efetivação da Meta Missionária 1 (Áreas de prioridade (+)

AÇÃO CONJUNTA
+
tema
vai_vem
pami
fe pecc
Um coração repleto de alegria vê tudo claro, mas, para um coração triste, tudo parece tenebroso.
Martim Lutero
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br