Fidelidade ao Evangelho: Educação Cristã e Justiça de Gênero
A partir do Evangelho de Cristo, recebemos como sua Igreja uma importante tarefa que é a Educação Cristã das pessoas que creem na sua obra. A Educação Cristã não se resume ao Ensino Confirmatório ou Discipulado, mas se estende por toda a nossa vida, como seguidores e seguidoras de Cristo.
A Educação Cristã trabalha com o conteúdo da Proclamação do Evangelho, o mesmo em todos os tempos e lugares. Entretanto, este conteúdo precisa ser atualizado para o contexto das pessoas. Essa realidade traz várias dimensões: social, política, econômica, cultural e religiosa. Este conjunto de dimensões infl uencia a compreensão que cada pessoa tem do mundo em que vive e, neste sentido, homens e mulheres têm percepções diferentes da realidade na qual vivem.
O Brasil é um país extremamente violento, em especial com as mulheres, que sofrem agressões por serem mulheres desde a mais tenra idade. Este contexto – que maltrata e fere – tem, em suas raízes, a injustiça de gênero. Quando as diferenças entre as pessoas se tornam desigualdades naturalizadas, precisamos ter recursos que nos ajudem a perceber que as relações estão sendo injustas.
Como Igreja, corremos o risco de reproduzir modelos presentes na sociedade, que hierarquizam homens sobre mulheres, em uma relação de poder que exclui e restringe a autonomia, quando não cala a sua voz e impede o exercício pleno da sua cidadania.
Jesus nos ensina, na sua relação com Marta e Maria, que cada pessoa pode atuar das mais diferentes formas: seja servindo de forma prática, como Marta, ou aprendendo, como Maria. Em um tempo no qual eram os homens que sentavam aos pés do Mestre como discípulos, Jesus nos mostra que mulheres também podiam sentar aos seus pés e ouvir os seus ensinamentos. Jesus nos mostra que elas podiam falar, discutir, pedir, tocar, argumentar e, até mesmo, questionar. Jesus tratou as mulheres sempre com respeito e dignidade.
O amor de Deus se manifesta ao declarar que somos a sua imagem e semelhança, homens e mulheres. Portanto, as nossas relações devem promover a dignidade e o respeito mútuo. É preciso que mulheres e homens se unam na busca de novas formas de se relacionar e exercer poder, de modo que as diferenças não sejam motivo para desigualdade, mas, sim, que sirvam para enriquecer e diversifi car. Quando há relações justas entre as pessoas, aí acontece a justiça de gênero e isto é fidelidade ao Evangelho.
Teól. Ma. Rosane Philippsen | Representante do Sínodo Sudeste no CONECC