Programas de Rádio



ID: 2938

Deus não se revela pela quantidade de desgraças.

Prédica

24/03/2019

Lucas 13.1-9

Estimada Comunidade:
Prezados ouvintes da Rádioweb Luteranos UAI

Jesus nos quer falar hoje sobre a nossa fé e os frutos que ela deveria produzir. Alguns frutos da fé estão relacionados a nossas atitudes ou as boas obras Para nós – luteranos e luteranas – as boas obras representam o tamanho de nossa gratidão a Deus. Ser uma pessoa generosa, honesta, simpática, amiga, empenhar-se por um mundo mais justo, mais solidário são as boas obras que Deus espera ver em cada um de nós.

Mas Deus não exige, ele espera que tudo isso seja um gesto livre, espontâneo, como recomenda o apóstolo Paulo: “Que cada um dê a sua oferta, conforme resolveu no seu coração, não com tristeza, nem por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria.” (2Coríntios 9.7). Vejam o detalhe: Deus pede. Ele não exige. O apóstolo Paulo entende que Deus é generoso com seu povo. Essa generosidade de Deus deve nos motivar a também ser generosos para ofertar.

Mas as obras da fé também se referem a um outro aspecto importante de nossas vidas. Como seres humanos temos a tendência de julgar tudo que acontece a nossa volta. Vivemos um tempo em que muitas pessoas cristãs falam com muita “autoridade” sobre as outras. Diante das notícias de violência é muito comum que alguém diga: “Provavelmente essa pessoa deve estar envolvida com drogas”, numa nítida interpretação do critério “colheu o que plantou”. Ou ainda, “isso nunca vai acontecer comigo porque eu sou uma pessoa boa”. Já quando o ato de violência acontece com uma pessoa de nosso convívio ou num ambiente que nos é familiar, então ficamos revoltados: “Por que isso aconteceu comigo? Isso não é justo!” E chega-se a questionar ao próprio Deus. Por isso, o Evangelho de hoje nos quer dizer algo sobre essas coisas.

Por exemplo, “Cada um colhe o que planta” é uma afirmação recorrente em rodas de conversa. É uma afirmação cheia de razão, mas não é uma sentença para justificar tudo o que acontece com as pessoas.

O que significa essa mensagem sendo ouvida por um pai ou uma mãe que perderam seu filho, morto por um motorista embriagado? O filho atropelado e morto colheu o que plantou? Quando individualizamos tal afirmação, somos obrigados a reconhecer que não colhemos apenas o que nós plantamos; colhemos também aquilo que as outras pessoas plantam.

Daniela Arbex é uma jornalista mineira, que trabalha no Jornal Tribuna de Minas de Juiz de Fora. Ela escreveu alguns livros muito interessantes como por exemplo “Todo dia é a mesma noite”, uma pesquisa cuidadosa sobre a história não contada da boate Kiss, tragédia acontecida em 27 de janeiro de 2013 na cidade de Santa Maria/RS, onde no incêndio morreram 242 jovens. Esse livro tem entrevistas com bombeiros, médicos, enfermeiras e famílias que tiveram filh@s mortos. Uma entrevista muito triste fala da atitude de pessoas e pastores de uma igreja evangélica de corte pentecostal. A família tinha perdido o filho adotivo nessa tragédia. Os pastores e pessoas da igreja culparam pais e mães das vítimas pelo falecimento dos filhos e filhas. Os pastores atribuíam essa tragédia ao “castigo divino”, condenando quem tinha ido à casa noturna. Durante o velório o pastor disse ao pai e mãe: Vocês não deveriam estar chorando, pois esse filho não gostava de vocês. Se gostasse realmente ele não teria ido à boate. Que a morte desse rapaz sirva de exemplo para outros filhos que desobedecem aos pais. Se ele estivesse na igreja, não estaria morto. Além disso, Deus não lhes deu um filho natural. Por que vocês foram teimar em adotar? O livro continua essa história com relatos ainda mais cruéis. Essa história nos mostra como as pessoas cristãs podem ser cruéis e insensíveis com outras pessoas.

Mas o que Jesus nos diz sobre as desgraças e tragédias que acontecem ao nosso redor?
No Evangelho de hoje, Jesus faz um alerta as pessoas que gostam de julgar outras pessoas.
- Vocês pensam que, se aqueles galileus que eram opositores políticos e foram mortos por ordem do governador Pilatos, isso quer dizer que eles pecaram mais do que os outros galileus? Vocês pensam que aqueles dezoito do bairro de Siloé que morreram quando a torre da fonte caiu em cima deles eram piores que os outros moradores de Jerusalém?
- De jeito nenhum, diz Jesus
.
Mesmo assim, ainda hoje é muito conhecida a afirmação: se alguém sofre, está pagando suas dívidas desta ou de outra vida. Afinal, aqui se faz e aqui se paga. No entanto, não encontramos em Jesus nenhuma justificativa para esse tipo de pensamento de culpa-castigo, causa-efeito. Aqueles pastores de Santa Maria/RS não entenderam nada de Jesus. Eles leram a Biblia e não entenderam nada. No Antigo Testamento podemos encontrar benção e maldições, mas não em Jesus. Jesus não justifica o mal e as desgraças que acontecem com as pessoas. Diante do sofrimento e das dificuldades das pessoas, diante das tragédias Jesus sempre se mostrou solidário com as vítimas. Portanto, nossa primeira atitude também deveria ser de solidariedade com as vítimas. E a solidariedade é um dos frutos da fé.

Para falar sobre os frutos da fé Jesus usa a imagem da figueira estéril. Uma árvore que não tem frutos. Para Jesus, Deus se revela nesse mundo – não pela quantidade de desgraças – mas através dos bons frutos e das atitudes das pessoas cristãs. Ser uma pessoa generosa, honesta, simpática, amiga, empenhar-se por um mundo mais justo, mais solidário – esses são os frutos que Deus espera ver em cada um de nós.
Mas, será que Deus precisa de nossas boas obras? As boas obras vão me ajudar a entrar no céu? Martin Lutero responderia que não. Deus não precisa de nossas boas obras. Mas o meu vizinho sim, também os meus filhos e as pessoas com as quais eu me relaciono – todas elas precisam de minhas boas obras. As pessoas com quem eu me relaciono- todas elas são afetadas pelas minhas atitudes e minhas opiniões. Por isso, as boas obras, elas são consequências da fé em Jesus.

Portanto, o evangelho nos chama para duas coisas diante das desgraças e da maldade do mundo: (1) não apontar o dedo acusador contra as vítimas, mas (2)que sejamos solidários com as vítimas
.
Cada vez que chove - como essa semana - os moradores do Bairro Residencial Gualter Monteiro e Cristo Rei ficam apavorados. Esses bairros ficam em Congonhas e foram construídos em 1981.Quando esses bairros surgiram (em 1981) naquela época não tinha barragem. A CSN só construiu a barragem Casa de Pedra em 2005. Essa barragem Casa de Pedra é cinco vezes maior que a de Brumadinho. Ela tem 76 metros de altura e foi construída do mesmo jeito que a barragem da Mina I do Córrego do Feijão em Brumadinho. O risco de rompimento é muito alto. O bairro Residencial Gualter Monteiro e Cristo Rei aglomeram cinco mil pessoas, e fica logo abaixo da barragem. No caso de rompimento da barragem, em apenas 8 segundos esses bairros ficarão submersos em um mar de lama.

Diante do rompimento, as pessoas perguntam: Por que esses moradores não saem de lá? As pessoas moram ali a quase 40 anos e a 15 anos atrás foi construída essa barragem. Congonhas/MG - também conhecida como a cidade dos profetas -  tem 50 mil habitantes e a CSN é a maior empresa do município. Milhares de empregos dependem dessa mineradora. Por isso, a população fica entre a espada e a parede: Conviver com a ameaça do rompimento da barragem, que pode soterrar milhares de pessoas em poucos segundos ou lutar para fechara mineradora e milhares de pessoas perderem o emprego.

As pessoas precisam do emprego, mas elas também precisam de segurança. Por isso, a mobilização das igrejas e organizações da sociedade civil tem sido por 3 coisas: (1)Desocupação imediata dos bairros Residencial Gualter Monteiro e Cristo Rei com remoção dos moradores para residências em áreas seguras da cidade, sob responsabilidade da CSN; (2)Suspensão imediata das operações na barragem e em seguida iniciar o processo de esvaziamento e secagem da barragem e (3)Garantia do emprego de todos os trabalhadores até que a empresa instale processos mais modernos e mais seguros de exploração do minério de ferro.

Portanto, a solução é urgente e precisa ser exigida da empresa. Quem pôde já retirou suas famílias de lá, mas não abandonou a sua casa nem a luta pelas reivindicações. Mas ainda tem muita gente que não tem para onde ir e cada dia que passa a tragédia do rompimento da barragem está mais perto.
O que Jesus nos ensina com o Evangelho de hoje? Ele nos diz que devemos sempre ser solidários com as vítimas. A vontade de Deus não está em culpar as vítimas, mas em exigir dos responsáveis as soluções imediatas. Se a empresa não fizer nada a barragem vai romper.

Portanto, Jesus nos convida a mudar de pensamento e de atitudes diante das tragédias desse mundo. A expressão cada qual colhe o que plantou, não é totalmente verdadeira. Não colhemos apenas o que nós plantamos; colhemos também aquilo que as outras pessoas plantaram. E no futuro, nossos descendentes vão colher aquilo que nós plantamos. Portanto, diz Jesus: “se não vos arrependerdes , todos igualmente perecereis (v.5).

Seria interessante se todos nós pudéssemos nos perguntar sobre os frutos que estamos produzindo e os frutos que Jesus gostaria de encontrar em nossas vidas. Seria interessante se nos perguntássemos que frutos estamos produzindo como comunidade cristã, como igreja, como o corpo de Cristo. Como igreja luterana no Brasil somos uma igreja pequena. Não podemos dizer que somos parte da massa evangélica no Brasil. Não temos a característica de massa, mas temos a característica de fermento. Nossa tarefa é ser fermento na massa. Nosso testemunho, nossos exemplos devem inspirar e chamar as pessoas para a vontade de Deus e os ensinamentos de Jesus. E de maneira especial – a nós pastores/as – Deus não nos chamou para ser juízes e cruéis com as pessoas que sofrem. Deus nos chamou para ser cuidadores(as) dos que sofrem. A solidariedade com quem sofre é um dos frutos que Deus espera ver em nós, depois de todo o cuidado que ele já nos deu.
Amém.

 

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