Igreja e Sociedade



ID: 2797

Contra a violência às mulheres e a cultura do estupro que culpabiliza as vítimas

02/06/2016

A Rede das Mulheres e Justiça de Gênero das igrejas-membro da Federação Luterana Mundial (FLM) na América Latina e no Caribe emitiu uma declaração pública expressando desacordo e não aceitação da violência contra as mulheres e a cultura de estupro culpabiliza as vítimas.

Não em nosso nome!

Conscientes das realidades difíceis de violência e sentindo a dor de muitas mulheres, mulheres jovens e meninas que vivem no mundo vivendo sob culturas de violência, onde o estupro e assassinato de mulheres ainda estão perpetrados atribuindo a responsabilidade às vítimas; Rede de Mulheres e Justiça de Gênero tem levantado a voz para ¨denunciar a violência e ao mesmo tempo expressar uma palavra de incentivo e motivação a partir da fé para continuar forjando processos de mudança, de relações justas baseadas no amor e na justiça¨ disse o comunicado.

As imagens impactantes do vídeo chocantes de estupro coletivo de uma menina de 16 anos nas mãos de cerca de 30 homens foi o evento culminante que tem causado dor e indignação entre as mulheres, lideranças cristãs e comunitárias, pastoras e teólogas que, fazendo uso da meios de comunicação, decidiram expressar sua indignação e rejeição da brutalidade da violência contra as mulheres no continente.

A Pastora Angela Trejo Haager da Igreja Luterana Mexicana expressou junto com outras líderes seu apreço pelo trabalho profético feito durante estes dias. ¨Na Argentina marchamos novamente na sexta-feira 03 de junho #ni menos. Em Misiones todos os dias há um novo crime de gênero, seja estupro, femicídio, ou outro tipo de violência¨, disse Maria Elena Parras, Diácona da Igreja Evangélica Luterana Unida.

Cultura patriarcal e o fundamentalismo religioso contribuem para a violência

A distribuição social de papéis e de poderes na sociedade ainda mantém fortes características de uma cultura patriarcal em que o exercício da violência contra as mulheres é quase ¨normalizado¨. A Rede de Mulheres, discute os últimos acontecimentos políticos na região que em grande parte são influenciados por grupos religiosos fundamentalistas, desvinculando-se de toda a forma que use as escrituras para institucionalizar a violência. ¨No contexto patriarcal é criada e mantida uma cultura de legitimidade e banalização da violência¨, disse o comunicado. ¨Os fundamentalismos religiosos tem levado a que as mulheres sejam, mais uma vez, silenciadas e invisibilizadas em todos os setores religiosos, políticos e sociais. (...) Em nome da religião e uma leitura fundamentalista e literal da Bíblia, têm textos sagrados se tenta sacralizar as injustiças usando o nome de Deus para justificar práticas de exclusão, abuso, sofrimento¨, diz o documento.

As mulheres da Rede explicam que a linguagem religiosa é sutilmente usada para continuar a afirmar o poder de alguns homens contras muitos, especialmente contra as mulheres. A violência verbal, que muitas vezes se camufla em mensagens subliminares, mas reivindica uma segunda ou terceira categoria para muitas populações vulneráveis, especialmente as mulheres, no tecido social, desfigura a ¨dignidade das mulheres¨. Por outro lado, o silêncio das organizações sociais, dos quais a igreja é uma parte, não só ameaçam os corpos das mulheres, mas contribui para a violência e, concretamente para o assassinato que as mulheres vivem dia-a-dia.

¨Anunciamos que nenhuma forma de violência é o desejo de Deus como Pai e Mãe que criou o ser humano - homem e mulher - à sua imagem e semelhança (Gênesis 1.27). Somos todos e todas pessoas dignas. No texto bíblico encontramos narrativas que dão importância e respeito à corporalidade. Mas também encontramos uma voz de denúncia para os eventos de violência baseada no gênero, doméstica, sexual, e de todo tipo¨, disse o comunicado.

Isto não pode continuar assim; isto tem de acabar!

O Secretário-Geral da FLM Rev. Dr. Martin Junge escreveu uma carta pública às igrejas-membro da FLM (veja em anexo) na região expressando seu pleno apoio à mensagem poderosa e clara da Rede de Mulheres. No entanto, Junge disse que a superação de todas as formas de violência não é um problema que interessa apenas às mulheres. Esta questão diz respeito a todos, homens e mulheres. ¨A erradicação de todas as formas de violência contra as mulheres não pode ser uma questão de mulheres. Exige que os homens e mulheres a partir de sua fé tenham entendido que o que culturalmente pode parecer como aceitável, o Evangelho o desmascara como inaceitável, e que os processos de mudança passam necessariamente passar por uma transformação das relações entre homens e mulheres que colocam a dignidade e o bem de todas as pessoas do centro¨.

A FLM está comprometida com a superação da violência contra as mulheres e promove os documentos da Secretaria de Mulheres na Igreja e Sociedade (MEIS) tem desenvolvido e utilizado para a capacitação e conversão: ¨As Igrejas dizem NÃO à violência contra as mulheres¨ e ¨A política de Justiça de Gênero¨ .

¨Exorto as igrejas a retomar essas questões, ou continuar a aprofundá-las. Eu convido a se juntar àqueles/as que de outras vocações compartilham a visão de superação da violência contra as mulheres. Eu chamo a contribuir para a conversão dos corações e mentes, desenrolando assim todo o potencial libertador do Evangelho de Jesus Cristo, que, antes de perpetuar a violência, tomou sobre si a violência para que todos tenham vida - vida em abundância¨ termina sua carta.

Chamado à solidariedade e de ação contra a violência

Animando a que as igrejas continuem envolvidas em trabalhar políticas de gênero, em promover a educação para o respeito, a equidade, a justiça de gênero nas relações e estruturas das próprias igrejas, a Rede de Mulheres faz um chamado para:

• Criar grupos de informação e reflexão sobre o tema com jovens e adultos, sejam leigos ou ordenados

• Discutir sobre o lugar que o tema da violência ocupa em seu país e cidade

• Inteirar-se sobre as pessoas que trabalham o tema no seu país, cidade (organismo governamentais, não-governamentais, ONGs, igrejas, etc.)

• Se ainda não é o caso, como sua igreja pode se juntar a estas organizações?

• Como trata a sua igreja esta questão e como querem fazê-lo agora?

• Incluir esta questão em orações e liturgias da igreja.


Veja em anexo a íntegra do Comunicado Público da Rede de Mulheres e Justiça de Gênero da América Latina e Caribe
 


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