Ministério com Ordenação



ID: 2681

Culto em memória ao Pastor Carlos Musskopf

22/04/2018

Pastor Carlos Musskopf em frente à Igreja da Ressurreição em Santo André/SP
Culto de oração memorial
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Culto em memória ao Pastor Carlos Musskopf

Santo André, 22 de Abril de 2018
Vitor Chaves de Souza

A Paróquia do ABCD - Igreja da Ressurreição sempre teve grandes pastores e pastoras, ora na liderança, ora na comunidade. No domingo de 22 de Abril, o mesmo sino dos pastorados passados anunciava um vazio: a celebração homenagearia a memória de seu último pastor, Carlos Musskopf. O quarto domingo de páscoa iniciou-se com uma oração silenciosa individual. A acolhida trouxe a triste data de 16 de Abril — dia do falecimento do pastor Carlos — ao lado de um de seus hinos favoritos: “Deus vos guarde pelo o seu poder”. A comunidade se une à família Musskopf, Pa. Ruth, Nicolas e Tamara, sob o versículo “Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram” (Rm 12.15).

A liturgia continua com a historinha para as crianças: uma tradição do trabalho pastoral do pastor Carlos. “Então, se alegrar quando os nossos amiguinhos estão alegres e ficar solidários – ou até tristes – quando eles estão tristes. Porque entre nós adultos, às vezes, a gente se alegra quando alguém está triste e a gente fica triste quando alguém está alegre”, refletiu o pastor Alberi Neumann. Todos foram sensibilizados para se reunirem espiritualmente com a dor da perda de uma pessoa querida. Não houve Santa Ceia, não houve batismo, não houve festa. A liturgia invocou o silêncio oriundo do mistério divino da despedida.

O culto manifestou diversas homenagens ao pastor Carlos. O Coro da Cidade de Santo André, na regência do maestro – e amigo do pastor –, Roberto Ondei, entoou duas músicas (W. A. Mozart - Ave verum Corpus; Tom Jobim e Chico Buarque - Sabiá). Também o Coro da Paróquia, sob a regência de Marcos Calil, e o Grupo de Canto Litúrgico, sob a regência de Felipe Cokeli, colaboraram na celebração. O Rev. José de Jesus Gonçalves, da Igreja Episcopal Anglicana (Paróquia Santa Lídia) também reverenciou a caminhada ecumênica conjunta das duas paróquias e o espírito acolhedor do Pastor Carlos. Ricardo Tariki e Roberto Carlos Porto rememoraram a jornada de nove anos do pastor na comunidade e a amizade cultivada com ele. Nas palavras de Tariki, em fala expressiva, a igreja, naquele momento, poderia “orar pela família enlutada e reafirmar o legado de luta pelos direitos humanos, de generosidade e amizade semeados por esse ser humano especial, que nos foi presenteado por Deus”. Fotografias foram exibidas. Muitos se emocionaram, sobretudo na prédica.

O texto da prédica, 1 João 4. 7-21, repetiu o tema do amor diversas vezes. No amor não há medo, não há castigo, não há dor. Amamos porque Deus nos amou primeiro. Somos chamados para amar. Concluiu o pastor Alberi: “O desafio do texto bíblico de hoje é: que a gente esteja atento para as revelações de Cristo; que a gente saiba identificar o amor e agir de acordo com a fonte de amor, que é Deus mesmo“. O amor é mais forte que a morte. A novidade do Evangelho confortou o coração da comunidade neste momento de luto. E a grande novidade da prédica veio no final: “Querida comunidade, esta pregação é do pastor Carlos, proferida em Maio de 2015. Eu apenas emprestei a minha voz e a interpretei aqui. Que esses impulsos colocados nesta pregação sejam impulsos constantes para nós que vivemos a partir da esperança da ressurreição. Não choramos de tristeza, mas celebramos a gratidão por aquilo que vivenciamos juntos e juntas, seguindo a caminhada tendo sempre o amor como ponto de partida”. Uma homenagem dupla – de um pastor para outro, de um passado para o presente – na dinâmica do amor que supera a morte. (Veja a prédica na íntegra aqui.)

Durante as suas prédicas ou em algum momento do culto, o pastor Carlos sempre citava o versículo 105 do Salmo 119, “A Tua palavra é lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho”, lembrado pelo Luis Claudio Blank, presidente da paróquia durante o pastorado de Carlos. O culto em sua memória resgatou o legado de seu pastorado, os frutos de uma comunidade compromissada com os valores cristãos e a certeza de que o amor é maior que qualquer limitação humana. Não por acaso a Paróquia do ABCD tem em seu título “Igreja da Ressureição”. Confiantes, afinal, da ressurreição no final.


Testemunhos:

Todos esses dados apresentados pelo P. Alberi Neumann dizem de uma vida intensa - e de grande dedicação do P. Carlos - no exercício do seu ministério ordenado.
Há uma dimensão que perpassou cada aspecto de sua vida, desde o pastorado à toda amizade que fez: sua enorme generosidade, sua franqueza, seu destemor de viver intensamente e uma fé imensurável nas pessoas. Era capaz de fazer despertar confiança onde haviam dúvidas; capaz de se irmanar generosamente a todo o que estivesse sofrendo e em dificuldades próprias da existência; capaz, ainda, de viver intensamente até o último momento: com absoluta fé nas potencialidades da vida e com fé no humano.
Era uma pessoa que se envolvia em tudo com todo seu ser. Assim foi nas atividades das comunidades por onde passou, mas também nas integrações e lutas pelos direitos humanos, no diálogo inter-religioso, no espaço do ecumenismo e nos foros de discussão da cultura de paz.
Evidentemente que teve dissabores ao se ter colocado de forma tão franca e aberta. Mas essas são coisas da vida que ele bem compreendia, conforme com o que me expressou no nosso último encontro três semanas antes de seu falecimento. Sem ressentimentos.
Portanto, fica seu legado de amor, de compreensão, de amizade e de tolerância com o pensamento divergente.
Que possamos levar em frente esse legado nesta comunidade!

Ricardo Tariki 


Falar – ou tentar falar – sobre Carlos Musskopf neste momento é uma tarefa difícil. Preferiria seguir o caminho dos Pais da Igreja do deserto que, no final do século IV d.C. e início V d.C., em protesto à oficialização do cristianismo como religião do império romano, retiraram-se para os desertos e cunharam uma teologia apofática. Para uma “teologia apofática”, ou “teologia negativa”, as palavras mais limitam e distorcem do que explicam. “Falar” se torna, então, sinônimo de “definir” e “limitar”. As palavras simplesmente não conseguiriam expressar tudo aquilo que sentimos e que gostaríamos de comunicar. Por este motivo, os Pais da Igreja do deserto nos ensinam que há momentos em que o melhor discurso é o silêncio.

Neste momento, eu também optaria pelo silêncio. Contudo, minha relação com o Carlos, o Kali, era de pai e filho. Embora tenha tido pouco contato com sua família, uma vez que, quando comecei a frequentar a igreja, Ruth, Nicolas e Tamara já estavam no Sul, era tratado como o filho mais velho e o filho que queria seguir o caminho do pai – e da mãe – “adotivos” como pastor.

Assim, expresso publicamente minha gratidão a Deus por sua vida – e aqui represento inúmeras pessoas que tiveram a oportunidade de conviver com ele e conhecê-lo. Especialmente significativo para mim foi um encontro que tivemos no começo de 2016. Durante seu pastorado aqui em Santo André, eu o visitava durante a semana algumas vezes e conversávamos sobre tudo, especialmente sobre teologia, sociologia, filosofia, política e a língua. Então, naquele encontro, eu o presenteei com alguns livros de teologia, sociologia, filosofia e política.

Mas aqueles livros tinham um significado especial. Obviamente, livros devem ser lidos e estudados. Mas, neste caso, esses livros se tornaram um “símbolo”. Um símbolo, segundo o teólogo luterano alemão Paul Tillich – o teólogo preferido dele! – é “uma realidade material que consegue remeter para além dela mesma”. Deste modo, um símbolo consegue apontar para uma realidade além dela mesma. É o caso dos livros que eu havia lhe dado de presente. Sempre que ele estivesse com eles, essa “realidade material” apontaria para as lembranças de nossas conversas e dos momentos que passamos juntos. É por isto que ele também havia deixado vários livros para mim aqui na paróquia. Esses livros, que na verdade são símbolos, faziam com que, mesmo estivéssemos longe um do outro [ele em Porto Alegre, eu em São Bernardo], na verdade, estávamos perto.

Por fim, acredito que todos e todas possamos compreender o pastorado de Carlos Musskopf, em Santo André, como um símbolo. Suas ações – e podemos dizer, seu legado – remeteram e remetem para além delas mesmas: elas testemunharam e testemunham o Reino de Deus! Na tradição luterana, não há hierarquia entre os membros da comunidade – uma vez que acreditamos no sacerdócio universal de todos os crentes –, mas diferentes ministérios [Ämter] para a organização da igreja. Que toda a convivência que tivemos com o querido Carlos Musskopf possa, então, estimular para que testemunhemos e continuemos a testemunhar o Reino de Deus. Amém!

Roberto Carlos Porto 


Veja mais: Falecimento do Pastor Carlos Musskopf
 


 


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