Comunicação


ID: 2771

Ascensão e Unidade na fé em Jesus

O que Jesus deseja enxergar em nossa igreja luterana?

02/06/2019

 

Joao 17.1-20-26

Prezada Comunidade:

Na quinta-feira passada celebramos o dia da Ascensão do Senhor Jesus. Lembramos do dia que Jesus subiu aos céus, diante dos seus discípulos. Isso aconteceu 40 dias depois da Páscoa. Os discípulos estavam reunidos com Jesus e perguntaram: ‘É agora que o Senhor vai restaurar o reino de Israel? É agora que o Senhor vai chamar os exércitos do céu e acabar com toda a maldade nesse mundo?” Mas Jesus não chamou nenhum exército de anjos para intervir na terra. Ao contrário, ele mesmo subiu ao céu. Algumas pessoas então começaram a perguntar: Quando Jesus vai voltar? Quando ele voltará e levará para o céu as pessoas que confiaram nele? 

Quanto mais difícil forem as coisas aqui nesse mundo, mais as pessoas se refugiam no céu. Nos primeiros 300 anos do cristianismo, muitas pessoas cristãs foram perseguidas e assassinadas por causa de sua fé em Jesus. Muitos desses mártires creram que através do sofrimento e da morte se abriria para eles aquele caminho que levou Jesus para o céu.

Por isso, a Ascensão de Jesus é uma doce lembrança nos momentos de aflição, de sofrimento, de guerra, de fome, de morte. A Ascensão nos faz lembrar que apesar de todo sofrimento, Jesus abriu um caminho para o céu. Desta maneira, a Ascensão de Jesus abre as portas para um “outro mundo”, diferente daquele sob o qual sofremos. Jesus remove as cancelas da morte e promete entrada na glória de Deus, onde as cruzes que hoje horrorizam as pessoas pertencerão todas (!) ao passado, e estaremos lá onde está Jesus, que “subiu ao céu”. Lá não mais haverá “choro e ranger de dentes” (Ap 22.14).

Também a igreja luterana teve milhares de pessoas que morreram por causa de sua fé. Isso aconteceu principalmente na Guerra dos 30 anos durante os anos de 1618-1648. Essa guerra era religiosa (entre católicos e protestantes) mas era também uma guerra política de independência dos estados da Europa. O lugar que hoje chamamos de Alemanha saiu arruinado desses trinta anos de guerra. Muitos dos combatentes eram mercenários que tinham na pilhagem sua principal forma de pagamento. Assim, tomavam à força tudo que podiam roubar. Essa guerra matou mais de 8 milhões de pessoas. Nesses tempos difíceis, em algumas comunidades luteranas surgiram hinos como o hino LCI 455 (Pela ascensão de meu Senhor) ou o hino LCI 495 (Se Deus está comigo) que faziam as pessoas olhar para o céu com a certeza da presença do amor de Deus e da justificação por graça e fé. Um dos pastores daquele tempo chamado Paul Gerhardt ((1607-1676) chamou de essa guerra de “a peneira do Diabo”.

Existem tempos em que a maldade e a injustiça na terra são tão grandes, que olhar para o céu parece ser o único refúgio.
Mas, apesar de que esses momentos de refugiar-se no céu são necessários em nossas vidas, a igreja cristã não pode olhar somente para o céu. Conta o livro de Atos dos Apóstolos que enquanto os discípulos ficaram olhando para o céu, vendo Jesus subir, dois homens de branco chegaram perto dos discípulos de Jesus e disseram: Por que vocês estão olhando para as nuvens? Esse Jesus que vocês viram subir, um dia vai voltar e quando voltar ele quer ver se vocês estão trabalhando na missão de Deus. Portanto, mãos à obra.

E qual é a missão de Deus?

A IECLB entende que a missão de Deus para nós é propagar o Evangelho de Jesus Cristo, estimulando a sua vivência pessoal na família e na comunidade e promovendo a paz, a justiça e o amor na sociedade brasileira e no mundo.

Cumprindo com essa missão, nós queremos ser reconhecidos como uma Igreja Luterana atrativa, inclusiva, missionária que atua em fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo, destacando-se pela seriedade no testemunho do amor de Deus, no serviço em favor da dignidade humana e no respeito à criação. Portanto, nós como luteranos e luteranas entendemos que a Igreja tem uma missão nesse mundo. É disso que nos fala o Evangelho desse domingo, através do Evangelista João capítulo 17, o versículo 1 e depois os versículos 20 até 26.

Leitura do Evangelho (pedir que as pessoas fiquem de pé)

Jesus quer sua igreja unida. Mas o que significa “unidade”?

Para a igreja luterana, unidade não exclui diversidade. Por exemplo, um dos documentos da Reforma de 1530 – chamada de a Confissão de Augsburgo – diz que para a verdadeira unidade na igreja basta apenas haver acordo quanto à doutrina do Evangelho e a ministração dos sacramentos. Cerimônias com velas, com símbolos litúrgicos, costumes, tradições nada disso é proibido. O que desacredita uma igreja luterana não é a diversidade. O que desacredita qualquer igreja é a desunião, a difamação mútua, as brigas (cf. 1 Co 3.1s).

A igreja luterana promove o ecumenismo. Isso não significa que todas as igrejas devem se unir em uma só igreja. O ecumenismo que nós pregamos é o ecumenismo de gestos concretos. A unidade que Jesus nos pede é a unidade em favor de causas comuns. Por exemplo, que as igrejas se unam para defender direitos individuais, os direitos das vítimas das barragens ou em defesa do meio-ambiente. Ou que as igrejas se unam para apoiar o direito a educação, o direito a saúde. As igrejas devem se unir para exigir que o estado garanta a educação e a saúde aos cidadãos mais pobres.
Portanto, quando Jesus fala de unidade, isso não quer dizer uniformidade, onde todas as igrejas sejam uma só. A unidade que Jesus pede é que nos unamos para defender a saúde, a educação, o emprego, o respeito à Natureza e a extração de recursos naturais de forma responsável e segura.

Uma das tarefas da igreja é alimentar a fé das pessoas. Mas não se trata de qualquer fé. É fé “em Jesus” (17.20) e naquele que o enviou (17.21). Tem gente que diz que tem fé em Deus, mas suas atitudes mostram justamente o contrário. Pessoas que promovem a violência, a mentira, a discriminação e o ódio devem saber que isso é um sinal que a fé em Jesus está secando em seus corações. Elas podem até falar de fé, mas não é fé em Jesus.

Tudo o que nós precisamos saber sobre o conteúdo da fé nos é ensinado por Jesus Cristo. Jesus manifesta a vontade de Deus através de seu exemplo de vida. Jesus nos mostra como Deus age. É ação amorosa, redentora, reconciliadora. Por Deus ser o Deus do amor, a aprendizagem da fé não pode ser separada da aprendizagem do amor. Não haverá mundo “humano” sem amor, sem solidariedade, sem compaixão. Portanto, o que eu quero para o meu próximo, é isso que define a autenticidade de minha fé em Jesus.

Amor é aquela atitude que quer o bem das pessoas e do meio ambiente. É exatamente isto o que enxergamos em Jesus. É por amor que Deus se inclina aos perdidos, oferecendo-lhes o pão e a água da vida, o bom pastor, o caminho, a verdade, a ressurreição. Sem amor, este mundo cai em ruínas.

Essa semana – de 2 até 9 de junho - acontece em todo o Brasil a Semana de Oração pela Unidade Cristã. O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) convida a todas as igrejas a que nos unamos em torno de uma mesma causa, que é a questão a solidariedade com as vítimas das barragens de mineração, que representam uma ameaça a vida humana e do meio ambiente. Não se trata de ser contra a mineração. Mas de exigir que toda a mineração seja segura, que ela não seja uma bomba relógio sobre as pessoas e o meio ambiente. O lema bíblico é: “Procurarás a justiça, nada além da justiça” (Dt. 16.18-20). A justiça de que fala a Bíblia nos faz olhar para a desigualdade entre as pessoas. Onde existe desigualdade, não existe justiça.

O que nos entristece é que aqui no Brasil é que é difícil acreditar na justiça porque parece que sempre tem alguém querendo levar vantagem, mesmo que isso sacrifique a vida de milhares de pessoas. Essa semana saiu uma nova denúncia contra a Vale, de que ela sabia que a Barragem 1 do Córrego do Feijão em Brumadinho iria se romper. E que ela não fez nada para que a barragem não se rompesse, porque estudos geológicos mostraram que nas terras abaixo da barragem existe uma grande reserva de minério de ferro. Com o rompimento da barragem, a Vale poderia comprar barato essas terras inundadas pela lama. E é isso que a Vale está fazendo atualmente. Ela negocia o valor da indenização diretamente com os proprietários e depois exige a escritura dessas terras.

Essa semana também estivemos em Barão de Cocais, onde cerca de 500 pessoas foram desalojadas de suas casas pela Vale desde o mês de fevereiro. As calçadas no centro da cidade estão pintadas de laranja, marcando o lugar por onde a lama vai passar. Junto com as calçadas, casas, lojas, supermercados, campo de futebol e até igrejas serão tomadas pela lama. E as pessoas se perguntam: Por que a Vale não faz nada para evitar o rompimento da barragem em Barão de Cocais? Ou será que também existe ali uma riqueza escondida?

A fé em Jesus quer ver as igrejas unidas em solidariedade com as vítimas de poderes que colocam o lucro acima do direito à vida. A fé em Jesus quer ver as igrejas unidas pelo direito à justiça, a educação, a saúde. Quando Jesus voltar a esse mundo, é isso que ele vai querer enxergar também em nossa igreja luterana.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo permaneçam com todos(as) nós.


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Área: Ecumene / Organismo: Semana de Oração pela Unidade Cristã - SOUC
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 17 / Versículo Inicial: 20 / Versículo Final: 26
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 52059
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