Pentecostes

16/05/2016

Atos 2.1-21
Pentecostes hoje

Pentecostes era uma das três grandes festas de peregrinação do povo judeu ao santuário central de Jerusalém (Dt 16.1-17). Pentecostes era o que hoje chamamos de festa da Colheita, ou Festa de Ação de Graças. Ao ofertar em Pentecostes as primícias da colheita como ação de graças, o israelita expressava uma parte essencial de seu credo. Deus não apenas concede vida, mas também a sustenta com as dádivas da criação.

Israelitas maiores de doze anos e prosélitos convertidos ao judaísmo deviam participar delas com regularidade. Judeus que moravam em outros países procuravam participar ao menos de uma festa por ano, ou, em casos de longas distâncias, de uma durante a vida. Isso talvez explique a lista de nomes em At 2.9-11. Jerusalém está em festa e está cheia de peregrinos para cumprir seus deveres religiosos. Mulheres e escravos, embora pudessem participar (Lc 2.41), estavam dispensados dessa obrigação, sinal claro de sua posição inferior na sociedade.

O Novo Testamento coloca o Espírito Santo junto com as dádivas essenciais da vida. Para viver, o ser humano precisa de pão. Pedir e agradecer pelo pão de cada dia significa reconhecer que, a despeito de todo esforço e trabalho, o essencial do pão que nos sustenta procede de Deus. Nós plantamos e regamos, mas é ele quem faz crescer (1 Co 3.6).

Mas o ser humano necessita da Palavra de Deus. É nela que o ser humano encontra um sentido e uma direção para sua vida. Ela é lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos (Sl 119.105). Agradecer pela dádiva da Palavra de Deus significa reconhecer que nossa própria palavra é por demais ambígua, confusa e contraditória, para que possa nortear o rumo de nossas vidas.

Mas, pão e Palavra de Deus não são suficientes. Para viver, o ser humano necessita ainda da dádiva do Espírito Santo. A necessidade do Espírito decorre de uma experiência humana fundamental: mesmo sabendo que a “lei é santa e que o mandamento é santo, justo e bom” (Rm 7.12), o ser humano descobre-se na condição de não fazer o bem que prefere, mas o mal que não quer (Rm 7.19).

Por isso, Deus prometeu e nos concede o seu Espírito. O Espírito Santo é a dádiva divina que nos permite discernir a Palavra de Deus, ajuda-nos a assimilar os benefícios da obra de Cristo e nos habilita a viver a partir dessa realidade. Nas palavras do apóstolo: “Se vive em vocês o Espírito de Deus, que ressuscitou Jesus, então aquele que ressuscitou Jesus Cristo dará também vida aos seus corpos mortais, pela presença de seu Espírito, que vive em vocês” (Rm 8.11).

Em Pentecostes se cumpre uma promessa de Jesus: Deus realiza seu propósito de transformar todas as pessoas em instrumentos de sua ação no mundo. O Novo Testamento nos mostra que a ação de Deus dificilmente acontece através dos governantes. Uma constatação comum na política (com honrosas exceções) é que o poder atrai os piores e corrompe os melhores.

Por isso, Maria enaltece a Deus, que derrubou de seus tronos os poderosos e engrandeceu os humildes. Ao chegar ao palácio de Herodes, os magos descobrem que o Messias não havia nascido ali, mas numa estrebaria em Belém. Assim também Paulo constata que Deus escolheu os humildes e fracos para envergonhar os sábios e poderosos, para que ninguém se orgulhe em sua presença. Homens e mulheres, jovens e velhos, servos e servas – todos são transformados e habilitados em instrumentos do Espírito de Deus no mundo.

Algo do que isso significa pode-se notar no exemplo de Pedro. Durante a semana santa, nós o vemos fazendo promessas sem fundamento, fugindo na hora da prisão de Jesus, negando-o diante de criados, trancando-se em casa com medo das autoridades. Após a experiência de Pentecostes, ele toma a frente para proclamar publicamente o Evangelho do crucificado e ressurreto, testemunhando diante de tribunais que não pode deixar de falar das coisas que viu e ouviu. Assim age o Espírito Santo: destrava a língua daquele que crê, para que possa testemunhar aquilo que viu e ouviu, ao mesmo tempo em que gera fé naquele que acolhe o anúncio da Palavra (At 2.38).

O Espírito Santo que atua hoje não pode ser outro do que aquele que atuou em Jesus de Nazaré. Uma de suas funções da pregação na igreja é lembrar a comunidade de tudo o que Jesus disse e fez (Jo 14.26). Esse é o critério que permite discernir, entre os muitos fenômenos que acontecem ao nosso redor, a manifestação do Espírito Santo.

Movimentos pentecostais, carismáticos ou de avivamento instalam-se em várias igrejas, prometendo a sua renovação. Eles respondem, sem dúvida, a justos anseios de que a fé seja mais do que adesão a fórmulas estáticas ou a ritos solenes. Para tornar-se alegre e dinâmica, a fé precisa transformar-se em experiência pessoal e vivencial.

Mesmo assim, nosso texto nos orienta a olhar para tais manifestações com sobriedade. Vários outros espíritos disputam espaço em nosso mundo, sejam eles espíritos imundos (Mc 1.23), humanos (1 Co 2.11) ou mundanos (1 Co 2.12). É por isso que o Espírito Santo, entre suas dádivas, concede o dom de discernir os espíritos (1 Co 12.10) e o apóstolo recomenda provar todas as coisas para reter apenas o que é bom.

Quais são os sinais do Espírito Santo, que podemos encontrar dentro de nós e na comunidade?

Mas o Espírito Santo produz o amor, a alegria, a paz, a paciência, a delicadeza, a bondade, a fidelidade, a humildade e o domínio próprio. (Gálatas 5.22)

“Santo Espírito, Santo Espírito, desce sobre nós.
Santo Espírito, Santo Espírito, não nos deixes a sós.
Temos leis e tradições, discutimos mil questões, programamos mil ações.
Mas se agimos sem amor, nossa fé não tem vigor, somos mornos, sem ardor.
Frio é nosso coração, fria é nossa comunhão, não amamos nosso irmão.
Teu Espírito, Jesus, venha a ser a nossa luz, bússola que nos conduz
A levar paz ao irmão, a partir com ele o pão e viver o teu perdão,
A buscar justiça e amor, a seguir com fé e ardor em teu reino, ó Salvador.”
(L. Weingärtner)

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam no meio de nós. Amém.

Bibliografia:
Verner Hoefelmann no Proclamar Libertação - Volume: XXVII
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Testamento: Novo / Livro: Atos / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 21
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 37957
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Não sei por quais caminhos Deus me conduz, mas conheço bem o meu guia.
Martim Lutero
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