São dezenas de caixas contendo roupas, mantimentos e utensílios de cozinha, além de milhares de garrafas de água mineral: essa verdadeira montanha de solidariedade resultou da campanha de arrecadação de donativos para as vítimas da tragédia das ondas gigantes, que provocou centenas de milhares de vítimas na Ásia nos últimos dias de 2004.
A Paróquia Centro de São Paulo da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) estabeleceu uma parceria com o Consulado da Indonésia na cidade e transformou-se em posto de arrecadação, liderando uma campanha que envolveu entidades do centro da capital paulista e comunidades de várias denominações.
O encerramento da campanha se deu no culto do domingo 23, na Igreja Martin Luther, sede da Paróquia. Além do pastor Frederico Ludwig e da pastora Vera Cristina Weissheimer, participaram da celebração o reverendo presbiteriano Elias de Andrade Pinto, a irmã Maria Ililda dos Santos e o padre Sérgio Stringhini.
No altar, para simbolizar as doações, estavam 390 garrafas de água mineral. Elas foram compradas com o dinheiro que seria utilizado para fornecer os tickets de alimentação aos moradores de rua que todas as sextas-feiras participam de atividades na comunidade. Na semana anterior, eles foram consultados sobre a proposta e concordaram em ceder o valor dos tickets para a campanha. Um morador de rua doou tudo o que arrecadou com a venda de latinhas de alumínio durante uma semana. Enquanto nós ainda temos comida e um albergue para ficar, essa gente perdeu tudo, justificou.
Diversidade - O reverendo Elias mencionou indonésios que conheceu em encontros internacionais e disse que o povo atingido necessita da ajuda material e também da oração de todos. O planeta precisa de tocadores de corações e da movimentação de ondas de amor, afirmou. A irmã Maria Ililda, que trabalha com carentes na Paróquia Bom Jesus dos Passos, lembrou das mulheres e crianças que, além da tragédia, têm sido vítimas de seqüestro e exploração sexual. Maria Ililda trabalhou por dez anos em Moçambique e teve contato estreito com a diaconisa luterana Doraci Edinger, assassinada naquele país no início de 2004. A freira precisou deixar a África por sofrer ameaças de morte depois de ter feito denúncias sobre tráfico de órgãos.
O cônsul honorário da Indonésia em São Paulo, Paulo Camiz da Fonseca, falou sobre a situação do país. A Indonésia concentra 70% das vítimas fatais e dos prejuízos materiais provocados pela tragédia. O país tem 230 milhões de habitantes que vivem em várias ilhas e possuem tradições, costumes, religiões e línguas diferentes. A unificação se deu há 55 anos sob o lema Unidade na diversidade. Essa diversidade está exemplificada na existência de cerca de 300 dialetos locais, enquanto o javanês, adotado como língua oficial, simboliza a unidade.
O que vocês fizeram foi muito e vai fazer a diferença na vida de muitas pessoas. Não tenho palavras para agradecer, disse Camiz da Fonseca. O cônsul garantiu que todo o material arrecadado será armazenado, transportado e entregue às vítimas. Uma grande rede de supermercados cedeu um galpão para a estocagem das doações. Ao mesmo tempo, o Consulado está obtendo patrocínio de empresas para o transporte das cargas em navios e aviões.
Na segunda-feira 24, alguns membros da Paróquia reuniram-se para organizar as doações em caixas para facilitar o transporte e a entrega. Durante a tarde, chegou mais um caminhão carregado de donativos feitos pelos funcionários dos escritórios da Companhia Siderúrgica Nacional em São Paulo. No rosto de todos, a satisfação que a prática da solidariedade traz - como disse o teólogo Paul Tillich, na frase que serviu de lema à campanha: Onde existe a possibilidade de ódio, existe também a possibilidade de amor; basta fazer a escolha.
Paulo Hebmüller - jornalista
