Mateus 13.47s - Prestáveis para o Reino de Deus

Prédica

26/07/1942

PRESTÁVEIS PARA O REINO DE DEUS

Mateus 13.47s

Reino dos céus! Sempre •de novo este termo singular soa aos nossos ouvidos nas parábolas de Jesus. Os discípulos que foram os primeiros a ouvi-lo, quiçá perscrutaram com olhos sonhadores a vastidão do espaço como que esperando vê-lo surgir no longínquo horizonte. Sabemos de que modo eles o interpretaram. Mas qual será o verdadeiro significado do termo? O reino dos céus é a intenção divina para com este mundo. Deus algo pretende com o mundo. Esta nossa terra não é obra vã do acaso, e sim, encerra uma bem determinada vontade. O que é que Deus quer nesta terra? Quer obter algo de que Ele possa servir-se. Sob tal lei de serventia se encontra, como tudo na natureza, também o homem. Deus pretende conosco o mesmo que com toda sua criação, quer servir-se de nós para finalidades mais elevadas, mais distantes, quer que nos tornemos prestáveis para elas. Que finalidades são essas? Pois para que nos tornemos aptos a realizá-las é mister que delas nos inteiremos, as vejamos! Deus, porém, também aí vai por caminhos próprios e nos encobriu os destinos mais elevados. Não podes vê-los, nem consegues compreendê-los, enquanto os não alcançaste. Assim foi desde o início na história da terra. Tudo teve que servir e contribuir com sua parte de prestável; mas o fim para que devia prestar, esse não lhe fora anteriormente declarado e indicado e só posteriormente se revelou. Sirvam dois exemplos da história da humanidade: Porventura sabia Colombo que havia de fazer, ao empreender, com suas três naves, a viagem pelas incógnitas solidões do mar afora? Porventura estava Lutero, ao afixar naquele memorável 31 de Outubro suas teses na Igreja do Castelo de Wittenberg, inteirado do fato de que com tal ação punha em movimento uma verdadeira avalanche de sucessos? A nossa ação sempre irá em direção a uma maior ou menor obscuridade. É certo que a grandes distâncias nunca chegamos a ver os efeitos, e os destinos a que em tempos longínquos deverá servir toda a nossa ação e evolução, hoje nos são encobertos certamente. Mas de que modo, então, poderemos mostrar-nos prestáveis para eles? Deus procura o que de prestável há em nós e o quer, mas como saberemos nós que somos prestáveis, se não reconhecermos suas finalidades futuras? Deus tem um meio singular de educar-nos para a prestabilidade, muito embora não reconheçamos com antecedência suas finalidades; e este meio é a seleção. 

É Jesus mesmo que com sua parábola nos insinua este termo. No procedimento daqueles pescadores que de sua pesca apanham o que é bom e prestável, apartando o ruim e imprestável, a Jesus se revela uma imagem do procedimento divino para conosco. Deus, portanto, procede a uma seleção entre os homens. Porém não só ao mundo de além pertence tal seleção, não só ao dia do juízo vindouro, e sim já no ambiente de nossa vida terrestre a seleção se efetua e é o meio, pelo qual Deus nos torna aptos para suas finalidades futuras. Continuamente somos objetos de uma tal seleção por parte de Deus, e ela visa em primeiro lugar aquilo que fazemos, uma por uma das nossas ações. Assim marca Deus todas as boas ações com um sinete singular atestando seu préstimo. Não é que tal cunho consista em sucesso direto aparente ou recompensa. Seríamos mal servidos deste modo, pois já por índole olhamos, mais do que devíamos, para o sucesso, proveito e ganho. Não, Deus não quis fortalecer-nos em tais inclinações e não marca, pois, a boa ação de imediato com o cunho do sucesso aparente. Mas dá-lhe outro cunho, o cunho da satisfação íntima. O justo e o bom que fazemos despertam um peculiar eco de alegria em nossos corações. Trata-se de uma cousa que um homem não poderá dar a si próprio quando quiser e que só se evidencia, quando nos achamos em caminhos que têm o consentimento de Deus. E este cunho de satis-fação falta onde Deus não está satisfeito, quer dizer, onde o procedimento do homem nada tem de prestável para Ele. Assim por vezes podemos verificar que Deus efetua, com toda nitidez, uma seleção entre os homens. Como tal entendo o fato de dar Deus a certos homens, a quem acha particularmente aproveitáveis, e que a outros devem servir de condutores e doadores, uma viva e nítida compenetração da importância desta sua missão. Tal consciência singular pode ser observada em muitos grandes personagens da história universal, a quem o destino incumbiu de levar novas influências aos homens, traçar novos rumos. Foi isto que moveu Lutero, quando devia seguir viagem para defender-se perante o imperador, a proferir aquela ousada frase de que não queria desistir nem que houvesse em Worms diabos em número igual ao das telhas nos telhados. Por tal seleção dos grandes pioneiros da humanidade Deus nos auxilia poderosamente a encontrar o caminho reto, embora não vejamos ainda nosso destino mais elevado. Ele nos indica os precursores, em cujos trilhos devemos seguir. 

Poderiam citar-se mais exemplos de como Deus procede à sua particular seleção entre os povos, dando a certos povos determinadas atribuições e tornando-os aptos a cumpri-las, amparando e fortalecendo-os em sua missão, mas que, ao findarem as suas atribuições ou quando os povos as negligenciam, se extingue a corrente de sua força e tais povos são atirados de lado, de imprestáveis que se tornaram. Desses povos escombros há muitos na terra a testemunhar de modo comovente o que sucedeu, e também o futuro verá novos testemunhos da mesma espécie. 

Assim procede Deus a uma seleção, a uma separação do prestável e do imprestável já nesta terra, no ambiente de nossa vida, e o faz serena, rigorosa e implacavelmente. 

A fé dos cristãos, entretanto, desde o princípio acredita ser a maior e mais notável seleção de Deus reservada para depois da morte terrestre. Num além-túmulo que ainda não nos é dado compreender, nele Deus procederá à separação do apto e do inepto de modo ainda mais perfeito que aqui em terra. Comungamos na mesma fé. Deus, que persegue uma intenção nesta terra, terá também planos mais elevados ultrapassando este mundo de aquém e também nos enleará no enredo de tais planos segundo as nossas aptidões.

Compenetremo-nos, pois, do fato que Deus aqui na vida nos observa, que pretende algo de nós, e que já neste mundo procura por uma severa lei de seleção encaminhar-nos para a senda direita, para que nela nos tornemos prestáveis para Ele e o seu reino. Hoje, ao ouvindo sua voz, não cerrareis vossos corações, adverte uma palavra da Bíblia (Hb. 3,7 s. 15) . Não nos fechemos contra a realidade do fato que hoje, aqui nesta terra, está trabalhando em nós uma vontade divina que nos dispensa o bastante de diretrizes e ordenações pelo que de experiências inscreve em nossa vida terrestre. 

Cuidemos de seguir a tais diretrizes, que tudo o mais se chegará a nós a seu tempo.

 Pastor Ernesto Schlieper

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

 Editora Sinodal

 São Leopoldo - RS
 

 

26 de julho de/942 (8º. Domingo após Trindade), Porto Alegre 


Autor(a): Ernesto Theophilo Schlieper
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 9º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 47 / Versículo Final: 48
Título da publicação: Testemunho Evangélico na América Latina / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19711
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Porque nem eu nem tu jamais poderíamos saber algo a respeito de Cristo ou crer nele e conseguir que seja nosso Senhor, se o espírito não o oferecesse e presenteasse ao coração pela pregação do Evangelho.
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